Uma série de artigos, tecidos por múltiplos enfoques, foi construindo um olhar entre o inteligível e o sensível, em que o "fazer" e o "ser" se conjugaram na análise de textos suscitados à leitura e à visitação. Desse conjunto, que foi compondo, para além do gosto, a tentativa de conviver com a matéria do entendimento, resultou esta edição temática, "Literatura, cinema e outras artes".A Literatura, como a arte em geral, define-se pela materialização da expressão, sofrendo a coerção da linearização do significante verbal, assim como o cinema, o teatro, a televisão, por exemplo, experimentam a sincretização de várias linguagens. Mas, se toda programação textual é coercitiva, revelam-se, no enunciado, as possibilidades do enunciador transcendê-la, no diálogo recorrente com outros códigos que afloram à superfície, seja do texto verbal ou de outra natureza. Reconhecer essas estratégias mobilizadas, em primeira instância, em um texto literário, e sua recriação, em segunda instância, em outro texto materializado por outras linguagens leva à especificidade de cada construção a partir da estrutura profunda em que estão as invariantes. Esse processo é objeto recorrente dos estudos contemporâneos em que a reinvenção de uma escritura literária para outros meios remete a identidades e a diferenças, no amplo jogo da matéria poética.A diversidade dos meios nos quais a arte se propaga hibridiza a linguagem. A literatura e o cinema, na história de suas tradições, notoriamente reverberam as influências diretas que tais manifestações artísticas engendraram uma na outra. Ainda assim, há que se pensar nos limites e nos achados que tais linguagens provocam e criam para traduzirem, cada uma ao seu modo, cada uma com sua especificidade, uma mesma palavra, uma mesma imagem. A passagem de um sistema verbal para um sistema não-verbal implica um processo de transformação e tradução. Nesse processo, as diferenças entre o texto de partida e o de chegada são evidenciadas na maneira como os conteúdos são expressos, favorecendo, assim, o surgimento de um constante fluxo intertextual. Este é possível de ser estudado, em um todo reconhecível e organizado, se pensarmos que tais camadas de diferentes linguagens dialogam entre si e só se firmam em articulação.Considerando a complexidade dos estudos que tratam de objetos sincréticos, Waldir Beividas, em seu artigo intitulado "O lugar do sincretismo nas linguagens multicódicas", abre o volume temático apresentando uma revisão crítica do conceito de sincretismo ao retomar as formulações que mais se difundiram, a partir das propostas de A. J. Greimas e J. Courtés e de J. M. Floch. O autor considera que ainda hoje não se tem uma definição adequada desse conceito, nem do lugar preciso de sua ocorrência nas instâncias criadas em teoria, quando acionado para a descrição das linguagens multicódicas. Desse modo, a extensão do conceito de sincretismo, de seu campo de origem na linguística fonológica e morfossintática, como "neutralização", para o vasto campo das linguagens complexas, embora já prenunciada nas pr...
Reino (2007) and Capitu (2008), target a true setting of commitment, preoccupation and conciliation towards its spectator's education. And the purpose of this text is to talk about such reeducation of senses explored by Carvalho's artistic performances.
O artigo discute a possibilidade de leitura de duas tradições nos romances, uma realista e outra autoconsciente, as quais se norteiam pelo modo como o gênero romanesco interpretou o conceito de verossimilhança ao longo de sua história. Tal percurso de reflexão possibilitou um estudo da minissérie televisiva Capitu (2008), de Luiz Fernando Carvalho - transposição, essa, da obra Dom Casmurro -, que levou em consideração, também, em seu processo, uma expressa autoconsciência dos mecanismos reflexivos empregados na obra machadiana, mas mobilizados, agora, pelos procedimentos específicos do novo suporte.
RESUmO: Desde as primeiras obras audiovisuais para a TV, o diretor brasileiro Luiz Fernando Carvalho vem nos apresentando um intenso trabalho que ora joga, ora mescla com os limites existentes entre a Palavra e a Imagem sequencializada por um suporte sincrético. Nesse sentido, por intermédio de uma revisitação teórica sobre os estudos sobre literatura e cinema, literatura e televisão, e mediante o trabalho de tradução crítica das informações estéticas transpostas do verbal para o visual, via refl exão de Haroldo de Campos (2006), pretendemos indiciar uma espécie de síntese de uma "poética da Consagração da Palavra e da Imagem" presente nas realizações do diretor em questão.Palavras-chave: Luiz Fernando Carvalho; literatura; cinema; televisão; tradução crítica.ABSTRACT: Since the fi rst audiovisual works for TV, the brazilian director Luiz Fernando Carvalho has been presenting us with an intense work that now plays, sometimes mixed with the limits between a Word and an Image sequenced by a syncretic support. In this sense, by means of a theoretical revision on the studies on literature and cinema, literature and television and through the work of critical translation of aesthetic information transposed from the verbal to the visual, through refl ection by Haroldo de Campos (2006), we intend to indict a kind of synthesis of a "poetics of Consecration of the Word and of the Image" present in the achievements of the director in question.
Enquanto leitor da narrativa impressionista do escritor Machado de Assis, o diretor Luiz Fernando Carvalho, ao transpor o romance Dom Casmurro (1899) para o suporte televisivo, - realizando a minissérie Capitu (2008) -, procurou manter a imprecisão no narrar, a exploração sinestésica e sugestiva no contar, mas, ao lançar seu ponto de vista sobre o processo estético de sua realização, explorou carregar no traço, deformando, estilizadamente, as personagens de modo grotesco, caricaturesco, muito mais próximo de uma atitude dita expressionista do que impressionista. Assim, ao procurarmos demonstrar, com este trabalho, a opção feita pelo diretor por uma atitude expressionista na caracterização do narrador sincrético, como exemplo, inferimos uma destruição na realidade convencional dos meios mobilizados e um certo efeito de estranhamento produzido com as elucubrações quase ensandecidas de um narrador que quase cola-se na câmera, interage dentro da própria cena ocorrida em um passado longínquo e, progressivamente, fala por todos os cantos, dentro de um espaço sombrio, permeado de sombras, figurativizando, assim, a própria fantasmagoria de eu interior atormentado. Enfatiza-se, assim, o exagero da condição humana, pelo viés expressionista, engendrando uma potencialidade transfiguradora do pensar, do agir, do estar/ser no mundo. Verifica-se, portanto, que o grotesco, trabalhado enquanto solução formal para hiperbolizar tal atitude expressionista, figura-se desde a maquiagem até o posicionar-se em cena, permitindo-nos ampliar e engendrar outras possibilidades de leitura para uma obra já tão estudada, mas, constantemente, retomada por sua plurissignificação e por sua atualidade.
Resumo: A possibilidade de um estudo pormenorizado sobre o processo criativo de uma minissérie televisiva, baseada na transposição de uma obra literária, nos instigou a querer compreender melhor as relações existentes entre Literatura e Cinema,
A possibilidade de um estudo pormenorizado sobre o processo criativo de minisséries televisivas, baseadas na transposição de obras literárias, instigou-nos a querer compreender, de forma mais rigorosa, as relações existentes entre Literatura e Cinema, Literatura e Televisão. Nesse sentido, este artigo apresenta algumas considerações fundamentais e gerais para o entendimento sobre o processo de transposição e aproximação de textos verbais para textos sincréticos, a partir do modo como o diretor brasileiro Luiz Fernando Carvalho estabelece um constante fluxo textual entre diferentes linguagens e diferentes suportes.
Pretende-se, com este artigo, a partir da significação apreendida na vinheta de abertura da minissérie A Pedra do Reino (2007), do diretor Luiz Fernando Carvalho, delinear de que modo determinadas características exploradas pelo Movimento Armorial foram revestidas na transposição imagética do Romance D’ A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1970), do escritor Ariano Suassuna.
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