O presente estudo tem por objetivo demonstrar que o mito, não a ciência, expressa a mais elevada aplicação e atividade da mente humana. Para tanto, é preciso compreender a natureza da razão científica em sua delimitação/limitação conceitual dos fenômenos, o que impossibilita à ciência uma descrição científica da realidade em sua concretude. As contribuições da moderna epistemologia servem-nos aqui de base para uma compreensão da natureza das investigações científicas. Diante de tais contribuições, a ciência se apresenta como dependente de um discurso que alcance a totalidade vivenciada pelos seres humanos, discurso que terá de ser simbólico. O símbolo é a operação essencial do pensamento humano em vista da totalidade do ser, como dizer e agir. Com isso, tornar-se claro de que modo qualquer atividade científica e conceitual depende, em última instância, de uma cosmovisão mitológica que lhe ofereça sua moldura de compreensão e de sentido, a partir da qual ela pode ser vivenciada pela cultura humana.
Este estudo pretende apresentar uma interpretação acerca da concepção de discurso que explica e justifica a atuação textual e midiática de Olavo de Carvalho, tendo como ponto de partida sua obra sobre a pretendida teoria dos quatro discursos em Aristóteles. A partir da demonstração de que não se trata de uma interpretação decididamente aristotélica, constatamos ser necessário considerá-la como uma reflexão programática de Carvalho sobre certo uso do discurso para fins políticos, que chamo de retórica erística, e cuja intenção se define pelo estabelecimento do saber e do livre debate de ideias como inescapáveis à lógica persuasiva do embate erístico, aquele em que o que conta é vencer o debate sem precisar ter razão. Essa intenção é confirmada pelo cotejo com as obras mais decisivas ao tipo de exercício de poder pretendido pelo autor, e que nos esclarecem sua satisfação em insuflar o impedimento do debate por via dupla: a de forjar, para seus leitores, uma impressão de que possuem a verdade que os situa acima das intelectualidades de todo tipo; e a de, por conta dessa impressão, atomizá-los na verborragia de sua opinião única. O efeito pedagógico dessa retórica erística é imbuir seus alunos de uma missão política, claramente circunscrita ao ódio pelo comunismo e pela verdade enquanto nascida não do silêncio individual, mas do diálogo entre interessados pelo saber.
Propõe-se neste ensaio uma análise filosófica dos dilemas morais e políticos a que fomos submetidos pela situação de pandemia da Covid-19. As dificuldades de muitas sociedades ocidentais no enfrentamento à pandemia têm posto em questão o paradigma liberal da preservação da vida, da privacidade e da liberdade a partir da adoção de políticas de austeridade estatal que se tornaram a orientação principal no combate ao coronavírus, e que não raro esbarram nos chamados <em>direitos individuais</em> a que os orientais não parecem familiarizados. Nossa reflexão pretende oferecer, pelo recurso à filosofia da Vontade de Schopenhauer, um diálogo entre as posturas oriental e ocidental em vista daquilo que nos é fundamental enquanto seres humanos: uma compreensão da condição de fragilidade da vida e dos limites inerentes à liberdade individual, orientados por uma noção de justiça inevitavelmente determinada pelas dores e sofrimentos imanentes ao mundo.
Lógos é termo grego central para a construção do movimento sofístico. Górgias de Leontinos, um dos principais representantes da primeira geração desse movimento, propôs-se a refletir, em Elogio de Helena, sobre o discurso como um grande e soberano senhor, capaz de ao mesmo tempo produzir persuasão em Helena e denunciar esse poder persuasivo. Na primeira parte deste estudo, pretendemos situar o lógos como fabricador de vivências em seu ouvinte, o que sugere a compreensão do poder persuasivo. Na segunda parte, a fabricação de vivências, diferente da persuasão, se identificará com uma realidade fictícia produzida devido ao engano voluntário. Por ser voluntária essa experiência do engano, o motivo da soberania do lógos está para Górgias, em que o discurso, além de persuadir, pode servir como instrumento possível para a fabricação de aprendizados, cuja experiência artística o seu próprio texto exemplifica.
Pretende-se oferecer aqui uma justificativa, tal como ela parece ter sido indicada por Platão no Teeteto, para o método de Sócrates, anunciado em Apologia como uma anthropíne sophía, capaz de avaliar os diferentes tipos de conhecimento. O recurso à imagem da maiêutica, no Teeteto, traz a representação de um aspecto desse método, posterior à refutação (élenkhos), em que o examinador ou parteiro elevam as opiniões do interlocutor até um princípio transcendente, para mostrar-lhes ou sua vacuidade ou sua solidez. Por fim, o Diálogo de Platão parece não apenas representar o método de Sócrates, mas se inspirar nele para a composição do seu discurso, que joga com a forma de fazer ver e com aquilo que se vê a partir dele.
O artigo reflete sobre o processo de conversão dos Palikur, povo nativo do Estado do Amapá, ao catolicismo romano e, posteriormente, ao pentecostalismo a eles introduzido pelos missionários do Summer Institute of Linguistics (SIL). Resgatando considerações de Arnaud (1984), Capiberibe (2001) e Passes (1998) a respeito e empreendendo esforço de compreensão dos condicionantes que provavelmente contribuíram para a efetivação desse evento, além dos já mencionados pelos autores de base, o artigo propõe, na condição de outro explicador, a possibilidade de escolha como iniciativa dos próprios Palikur, percebendo-se que se mantém um sistema de costumes e crenças integrando a cosmologia palikur, por um lado, e a fé cristã manifesta no catolicismo romano e no pentecostalismo missionário, por outro, evento este que finda por se inscrever na esfera dos processos de hibridização cultural. Nota-se, por fim, que, a despeito disso, as sucessivas intervenções de natureza religiosa impactaram de maneira profunda a cosmologia ancestral palikur em favor de um ideal de evangelização resultado de interpretações unilaterais das narrativas bíblicas.
Pretendemos neste artigo apresentar uma aproximação crítica com relação à filosofia desenvolvida pelos chamados megáricos, em face sobretudo da figura de Euclides de Mégara como representante e líder dessa linhagem de pensamento. O enfoque será feito tendo em vista o tipo de filosofia exposta e praticada por Euclides, a partir das acusações que contra ela se fizeram denunciando-a como pura erística, ou seja, a disputa e o debate entre discursos com o único objetivo de obter vitória na argumentação. O que se constata em Euclides é a defesa da prática do debate com a finalidade de mostrar que o discurso é incapaz de dar conta da realidade, de um modo geral, e assim impossível de determinar, de um modo específico, o Ser e a Unidade que são a essência daquilo que organiza e move todas as coisas. Essa essência de ordem é desejável por ser boa, e o Bem se apresenta, assim, como fundamento da realidade. Os estudos sobre a tradição megárica dividem-se entre a influência dos eleatas e a influência de Sócrates. Faremos, desse modo, a defesa de que a filosofia de Euclides está afinada com o socratismo, conjugando de um modo exemplar aquilo que os eleatas haviam definido em relação ao Ser.
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