Injustiça é o que acontece quando uma comunidade de lavradores que abastece o nosso mercado de maxixe, vinagreira e quiabo é expulsa de suas terras e não consegue convencer os órgãos do governo de que o modo de vida deles é sustentável para eles e para muita gente; que não têm garantia de titularidade e levam anos tentando ter, enquanto o governo faz doações de terras para qualquer empresa que tem lucro privado." Maria Máxima Pires (moradora do povoado Rio dos Cachorros, Maranhão) APRESENTAÇÃO O presente texto reúne as ideias básicas discutidas no Seminário "Desigualdade Ambiental e Regulação Capitalista: da acumulação por espoliação ao ambientalismoespetáculo", organizado pelo Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza, do
<p><span>Fruto de uma releitura do material etnográfico sobre a atuação de um movimento cultural do extremo sul baiano, este artigo pretende discutir a noção de afroindígena tal como concebida pelo grupo, a partir de uma perspectiva pragmática. O exercício aqui proposto não é enquadrá-lo em categorias já conhecidas ou familiares, mas buscar analisá-lo mantendo intacta uma certa “rugosidade” característica dos modos de fazer e pensar ao qual está associado. Para o grupo, o conceito de </span><em>afroindígena </em><span>não seria um modelo, a partir do qual seria possível identificar uma etnia ou reconhecer um grupo em uma base natural de identificação. Afroindígena não é tampouco algo da ordem da identidade, nem mesmo do pertencimento. O conceito de afroindígena seria da ordem do devir, funcionando, por um lado, como um meio, um intercessor por onde passam ideias, ações políticas, obras de arte e seres do cosmos, e, por outro lado, como um produto inacabado ou efeito provisório de encontros singulares que envolveriam fluxos de “história” e “memória”; pessoas e técnicas; uma relação de aliança entre antepassados africanos e indígenas e a criação de esculturas, aqui entendida como um processo automodelador de subjetividades. </span></p>
A partir de pesquisa de campo na região de Altamira (PA), este artigo analisa a perspectiva dos grupos sociais mais atingidos pelo projeto da Usina Hidrelétrica de Belo Monte -as comunidades indígenas e ribeirinhas da região -buscando entender os sentidos que estes grupos atribuem aos impactos potenciais da obra e do funcionamento da Usina em seu modo de vida. Através de entrevistas com representantes dos grupos indígenas e ribeirinhos da região de Altamira (Juruna e Xipaya) e das redações de crianças da zona ribeirinha, a presente investigação, realizada em agosto e novembro de 2009, buscou atentar para os critérios, lógicas e racionalidades próprias a esses grupos sociais em seu exercício de produção de uma contra-expertise nativa, em oposição ao saber técnico associado ao chamado "empreendedor", produzido por consultores contratados e pelo Estado.
A obra de Jeanne Favret-Saada é consagrada ao estudo dos efeitos sociais da anunciação de três termos particulares, em campos muito díspares: feiticeiro, judeu e blasfemo. Elas funcionam dentro de dispositivo acusatório pré-existente à sua enunciação, cuja elucidação é o objeto desta antropologia: a atualização de suas convicções implícitas permite identificar as condições de felicidade dos enunciados, o que permite o sucesso ou fracasso de uma acusação.
A partir da etnografia sobre um movimento cultural afroindígena do extremo sul da Bahia, indagamos: como recriar textualmente um mundo de modo a não reduzir ou compartimentalizar a diversidade da experiência cotidiana e sua potência criativa em segmentos monolíticos como política, religião, meio ambiente, subjetividade? Propõe-se uma leitura que visa experimentar a ideia de que a produção artística, a práxis política e a ecologia do movimento cultural estudado compõem um certo modo específico de lidar com um mundo povoado por seres viventes e não viventes e pelas múltiplas potências que deles irradiam.
Num momento histórico em que as forças do capital se expandem e agenciam-se sobre espaços e domínios que se caracterizam por seu uso público ou comum, como seria possível a constituição de movimentos de resistência em defesa desses mesmos espaços? Este artigo analisa um processo de luta específico que logrou conter a expansão de um mecanismo de produção de desigualdade numa pequena cidade do extremo sul baiano, situada em uma nova fronteira de expansão do capital. Em disputa, os manguezais dos municípios de Caravelas e Nova Viçosa (BA), áreas livres de uso comum, ocupadas por uma população de pescadores e marisqueiros, em aliança com outros agentes, em outras escalas, foram capazes de impedir a instalação de um grande projeto de carcinicultura. Entender os múltiplos sentidos da política implícitos nesse movimento nascido em uma pequena cidade insurgente é a tarefa a que nos propomos.
Aquém da possessão: a noção de irradiação nos estudos das religiões de matriz africana Below possession: the notion of irradiation in the studies of African diaspora religions
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