Resumo O objetivo deste artigo é destrinchar alguns contornos sociais e simbólicos do mundo da aviação comercial brasileira nas últimas décadas do século XX, a partir de três metáforas que impregnam os imaginários de antigos funcionários da extinta Varig. Signos de um mundo singular, recortado pelos traços de uma política económica nacional modelada no estreito vínculo entre mercado e estado, “mães”, “navios” e “cachaça” nos guiarão pelos sentidos atribuídos a esse mundo, conformado por mecanismos de seleção rigorosos, um tipo de organização do trabalho reconhecido como “paternalista” e disciplinador, com um claro “quadro de carreira”. A partir de uma etnografia desenvolvida entre 2015 e 2017 com funcionários da antiga companhia aérea que residem atualmente na cidade do Rio de Janeiro, e à luz de contribuições recentes das ciências sociais sobre experiências de crise, incerteza e esperança, procuro interpretar a grande desilusão que significou a falência, e suas consequências na conformação subjetiva atual do coletivo de trabalhadores danificados.
This paper proposes some anthropological notes on aviation and national imaginaries, taking Varig, an important Brazilian airline with international projection and recognition, as a starting point. The analysis is based on an explorative perspective, which included fieldwork among Varig’s former employees, especially female flight attendants who joined the carrier in the 1970s and 1980s and remained until the closure of its activities. Alongside the testimonies of these employees, it analyses magazine and television advertisements from Varig and other Brazilian airlines, in order to throw some light on the pertinence of gender, class and race as social markers that structured the aviation field in the second half of the twentieth century. Through a critical perspective, this work launches heterodox interpretative challenges on the nation-building process, hoping thus to contribute to a better understanding of the political and ideological games that characterised the formation of the nation.
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HISTÓRICO
O presente artigo realiza uma análise antropológica de um ensaio fotográfico realizado por três aeromoças da Varig para a revista Playboy, em 2006. Além das fotos, o material empírico analisado (jornais e blogs) problematiza a repercussão pública do ensaio, a partir do contraste com os discursos das protagonistas. Em diálogo com os debates do pensamento feminista dos anos 1960 e 70, e recuperando algumas contribuições contemporâneas relativas à noção de agência nos estudos de gênero, dou atenção ao contexto das fotos assim como às falas das protagonistas, para problematizar a imagem de vítimas produzida pela mídia. Espero, desse modo, contribuir com uma perspectiva que, em lugar de pensar as desigualdades de gênero de um modo rígido, considere a posição social dos sujeitos nas hierarquias múltiplas de poder, para enxergar outros tipos de desejos, vontades, estratégias e agências.
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