A abertura do setor bancário ao capital estrangeiro, em meados dos anos 1990, foi justificada pelo governo como uma iniciativa indispensável para aumentar a concorrência e induzir os bancos brasileiros a baratear e ampliar a oferta de crédito, o que não ocorreu, pelo menos nos anos seguintes. As justificativas do governo, apresentadas de forma lacônica na Exposição de Motivos 311, podem ser tidas como uma cortina de fumaça ou como uma concessão ao discurso liberalizante da época. O objetivo central do governo era outro: estimular o ingresso de capitais externos para o equacionamento das dificuldades do setor bancário com a queda abrupta da inflação e a crise de 1995. O discurso adotado pelos bancos estrangeiros, por seu lado, prometeu mudanças e inovações, "qualidade e preço justo", mas evitou compromissos com estratégias de atuação diferentes daquelas adotadas pelos grandes bancos brasileiros, que o governo dizia querer reverter com a abertura. O trabalho analisa o discurso público de ambos e suas contradições com as estratégias de fato seguidas.
INTRODUÇÃOA desarticulação dos fatores internos que dinamizaram a economia brasileira nos anos setenta e a reversão do quadro de elevada liquidez internacional, ocorrida no início da década seguinte, integram os principais vetores que, convergentes num primeiro momento para a deterioração fiscal e financeira do setor público, desdobraram-se a seguir em outras conseqüências críticas amplamente conhecidas. Aspecto relevante das transformações estruturais da sociedade brasileira ao longo dessa trajetória, o caráter da relação entre Estado e economia também experimentou significativa modificação, particularmente no que se refere às condições financeiras diferenciadas que promoveram a acumulação de capital em setores priorizados pela política econômica.Considerando tal panorama, este artigo aborda a estatal financeira Banco do Brasil (BB) na contraditória condição de agente de políticas de fomento creditício e simultaneamente portador de exigências particulares de valorização. Seu foco limita-se a uma etapa singular na história da instituição, que se estende aproximadamente de 1986, quando o BB deixou de ser autoridade monetária e caixa do Tesouro, até 1996, quando o Tesouro Nacional contribuiu para o aporte de R$ 8 bilhões destinado a sua capitalização. Um exame mais detido de perío-dos anteriores encontra-se em outros trabalhos (VIDOTTO, 1995(VIDOTTO, e 1997.A natureza específica do objeto, uma empresa estatal inserida nos mercados financeiros, requer uma menção ainda que breve ao marco conceitual que informa a problematização de sua dinâmica . Como qualquer empresa estatal, * Mestre e doutorando em Economia pelo IE-Unicamp.
O ano de 2006 promete ser de intenso debate. Ensaia-se uma safra de publicações que vão colocar a trajetória econômica dos últimos anos sob intenso escrutínio. A lupa, naturalmente, estará posta na política econômica do governo Lula e seus resultados frente ao período precedente. Da safra anunciada, que se espera gorda, adiantou-se esse ano o livro O Brasil e a economia internacional. Recuperação e defesa da autonomia nacional, de Paulo Nogueira Batista Jr.A publicação paga um pequeno custo por ter madrugado tanto: o de não captar a crise política em curso, o não contágio da economia e os desdobramentos imediatos dessa conjuntura. Para um analista como PNB Jr., entretanto, dois terços do mandato e a qualidade dos temas selecionados constituem matéria suficiente para conclusões de grande alcance.A primeira virtude do livro é pôr em cheque as tentativas simplistas de enquadramento do debate. Sua introdução, "O Brasil levanta a cabeça", reconhece os avanços que a América Latina experimentou desde a década anterior. A região libertou-se em parte dos mitos e mistificações globalitárias que bloqueiam a política econômica, propostas de dolarização refluíram e diversas eleições deslocaram o pêndulo político para longe da submissão automática aos EUA. O Brasil, por exemplo, conseguiu evitar que a autonomia da política econômica, já solapada por uma excessiva mobilidade de capitais, sucumbisse de vez sob acordos comerciais pautados por interesses não convergentes com os do país.
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