RESUMOA partir da leitura dos cadernos 53 e 55, ambos dedicados à composição do romance A prisioneira, elencamos um conjunto de notas que ressuscitam uma antiga discussão da crítica com relação ao "je" proustiano, muitas vezes confundido como portador de traços autobiográficos. O objetivo deste artigo é percorrer a elaboração dessa primeira pessoa na carreira literária do escritor para demonstrar que o uso do "je" não se operou de forma espontânea na obra proustiana. PALAVRAS-CHAVE: Manuscritos, notas, composição, caderno 53, caderno 55, escrita pessoal. ABSTRACTFrom the reading of exercise books 53 and 55, both related to the composition of the novel The prisoner, we highlight a series of notes that resurrect an old critical discussion about the proustian "I", often taken as an indication of the autobiographical nature of the novel. This paper analysis the development of such first person in the literary career of the writer to show that the use of "I" did not emerge spontaneously in Proust's work. KEYWORDS: Manuscripts, notes, composition, exercise book 53, exercise book 55, autobiographical writing.Estudando o conjunto de notas nos cadernos de rascunho, deparamo-nos com um tipo de anotação que ressuscita um dos temas mais intrigantes da obra proustiana e de sua escritura: a questão do "je". Obviamente, em notas dedicadas à estética e à realização da obra, não poderia deixar de existir o "je", marca do escritor, como vemos em alguns exemplos: "à mettre dans ce développement (je ne dis pas à cette page-ci mais faute de place je le mets là)" (C.55, fº 30rº); "Cette phrase [...] mieux ailleurs si ailleurs j´ai l´occasion de la mettre, si ailleurs je dis alors [...]" (C.55, fº 50vº); "Peut´être tout de suite Avant Goncourt quand j´ouvre le volume" (C.55, fº 62vº); "Si je ne laisse pas les développements ci dessus mettre ailleurs cette phrase excellente" (C.55, fº 67rº); "Je l´écris comme pour la Dernière partie". (C.55, fº 81rº); "Mettre où je jugerai opportun" ou ainda, no mesmo fólio, "Quand Albertine est morte (je choisirai le moment sans interrompre un développement)" (C.55, fº 83vº) 2 , etc.Em todos esses exemplos, o escritor se coloca como o realizador das tarefas, o operador da escritura, e embora o uso da primeira pessoa seja comum nesses casos, nos manuscritos proustianos o "je" do escritor nem sempre se manifesta quando se refere a atividades e remanejamentos próprios à escrita da obra literária. Como vimos, Proust costumava utilizar muitos infinitivos para registrar as mudanças que deveria fazer, como "mettre quelque part", "mettre en son temps", "le dire mieux" etc.Mas há outro "je" que provoca estranhamento no leitor do manuscrito e que se encontra nas notas dos cadernos: "Pour mettre un peu plus loin quand notre vie avec Albertine à la maison 1 Doutoranda pelo programa de pós-graduação em Língua e literatura francesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP). E-mail: juliecamus@yahoo.com.br 2 "colocar neste desenvolvimento (eu não digo nesta página aqui, mas por falta de espaço, eu o...
Homenagem a Bernard Brun (Item/Cnrs)
<p><span style="font-family: Times New Roman; font-size: medium;">Em seu ensaio "Durante muito tempo, fui dormir cedo", publicado em o </span><em><span style="font-family: Times New Roman; font-size: medium;">Rumor da língua</span></em><span style="font-family: Times New Roman; font-size: medium;">, Barthes ressalta uma das características mais importantes da obra proustiana: não se trata nem de Romance, nem de Ensaio, mas de uma terceira forma. Essa forma seria a única possível a dar estrutura ao romance proustiano, que destaca, dentre outros elementos, a busca do próprio narrador por tornar-se escritor. Ao discorrer sobre essa nova lógica proustiana, Barthes se identifica com Marcel Proust, pois naquele momento, o crítico busca uma nova forma de escrever (a literatura) tendo como ponto de partida seu estado de luto, ou para usarmos um termo barthesiano, de acedia. O intuito desta comunicação é percorrer os escritos barthesianos que discorrem notadamente sobre Marcel Proust para analisar a importância do escritor francês na produção crítica e na escrita de Roland Barthes. Para tanto, propomos comentar fundamentalmente as obras: </span><em><span style="font-family: Times New Roman; font-size: medium;">Novos ensaios críticos</span></em><span style="font-family: Times New Roman; font-size: medium;">, </span><em><span style="font-family: Times New Roman; font-size: medium;">O rumor da língua</span></em><span style="font-family: Times New Roman; font-size: medium;"> e </span><em><span style="font-family: Times New Roman; font-size: medium;">A</span></em><em><span style="font-family: Times New Roman; font-size: medium;">Preparação do romance</span></em><span style="font-family: Times New Roman; font-size: medium;">.</span></p>
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.