Resumo Os estudos de gênero e sexualidade vêm se destacando nas pautas atuais de pesquisas realizadas em campo islâmico. Existe dentro da religião um incentivo aos prazeres que contraria a visão estereotipada da opressão e repressão da mulher muçulmana, bem como a relação problemática entre feminismo e religião que muitas acadêmicas e militantes muçulmanas vêm tentando desconstruir. A partir da etnografia realizada pelas autoras, são tecidas reflexões sobre a sexualidade no Islã a partir de uma perspectiva decolonial. Busca-se ressaltar as práticas e os sentidos que as mulheres muçulmanas brasileiras revertidas ao Islã atribuem à sexualidade, dentro dos seguintes eixos: (a) vestimenta islâmica e a fetichização da muçulmana; (b) lícito/ilícito e a capacidade de agência e protagonismo dessas mulheres; (c) conhecimento religioso e empoderamento feminino. A pesquisa permite destacar dimensões das experiências das mulheres muçulmanas que diferem da posição de subalternidade a qual são constantemente submetidas.
To research sexuality in religion is a complex task. While there is an attempt to alienate religion from the debate about sexuality, there is an important connection between these two categories. Sexual norms and their transgressions are defined in all societies and religion is one of the instances in which they are regulated. In the case of Islam, by establishing a code of conduct to be followed in all spheres of life of Muslims, including the experience of sexuality, sex and pleasure have some specificities. In order to understand the practices, experiences and senses attributed to sexuality in this field, one must first consider the prescriptions of what is lawful (halal) and unlawful (haram) according to religion, in its own terms. From the dialogue with ten Brazilian Muslim women reverted to Islam and the insertion and circulation of the researcher in the Islamic field, reflections will be outlined about the Islamic conception of sexuality and its implications for the exercise of female sexuality. The analysis of the data is supported by the theoretical references derived from both psychoanalysis and anthropology. This dissertation argues that despite the prescriptions even within the lawfulness of the marriage, sexual practice in Islam extrapolates the reproductive purpose: there is an incentive to pleasures, placing sexual satisfaction as a right of both spouses. It becomes crucial to relativize the cliché of sexually repressed Muslim women: unlike common sense, sex in Islam is not taboo. On the other hand, it is urgent to assume that sexuality is an arena in which desire coexists and disputes with pleasures and dangers; facilities and resistances; knowledge and power.
Resumo Este artigo aborda a sexualidade e o prazer no Islam na perspectiva de mulheres muçulmanas casadas, sejam elas nascidas ou revertidas à religião e que usam o hijab, lenço islâmico. No Islam, a sexualidade é considerada lícita após o casamento religioso. Há várias prescrições para o ato sexual, sendo o prazer sexual um direito também feminino e não apenas para procriação.
Resumo: Fez-se, para a composição deste artigo, um recorte de duas etnografias conduzidas pelas autoras, ambas inseridas na temática mais ampla da saúde e bem-estar islâmicos. A primeira delas, já concluída, buscou compreender o ponto de vista islâmico acerca do sexo; a segunda, em andamento, tem como objetivo acessar o discurso hegemônico islâmico sobre questões de saúde mental, dialogando com mulheres muçulmanas sobre suas experiências de sofrimento. Neste artigo, busca-se destacar o fio condutor que nos faz entender uma etnografia como desdobramento da anterior; a saber: a emergência de diferentes concepções de saúde nas narrativas das mulheres muçulmanas brasileiras. O Islã é entendido como uma religião que preza pela saúde de homens e mulheres. A compreensão feita sobre a saúde é holística, pois engloba necessariamente os componentes físicos, mentais e espirituais. Para além da dimensão corporal, há a dimensão psíquica e sagrada da sexualidade; semelhantemente, não é possível ignorar a forte presença da dimensão espiritual ao se tratar da temática mental: ao falar de saúde no Islã, tudo se conecta. Palavras-chave: Mulheres muçulmanas, concepções de saúde, sexualidade, saúde mental. Arrangements between religion, sexuality and mental health: Muslim women's conceptions and experiencesAbstract: For the composition of this article, a clipping was made of two ethnographies conducted by the authors, both inserted in the broader theme of Islamic health and well-being. The first, already finished, sought to understand the Islamic point of view about sex; the second, still in progress, aims to access the hegemonic Islamic discourse on mental health issues, through the dialogue with Muslim women about their experiences of suffering. In this article, we seek to highlight the guiding thread that makes us to understand an ethnography as unfolding of the previous one: the emergence of different conceptions of health in the narratives of Brazilian Muslim women. Islam is understood as a religion that values the health of men and women. The understanding of health is holistic because it necessarily encompasses the physical, mental, and spiritual components. Apart from the bodily dimension, there is the psychic and sacred dimension of sexuality; similarly, it is not possible to ignore the strong presence of the spiritual dimension when dealing with the mental theme: health in Islam connects all aspects. Keywords: Muslim women, conceptions of health, sexuality, mental health. Arreglos entre religión, sexualidad y salud mental: concepciones y experiencias de mujeres musulmanasResumen: Para la composición de este artículo se hizo un recorte de dos etnografías conducidas por las autoras, ambas insertas en la temática más amplia de la salud y bienestar islámicos. La primera de ellas, ya concluida, buscó comprender el punto de vista islámico acerca del sexo; la segunda, en marcha, tiene como objetivo acceder al discurso hegemónico islámico sobre cuestiones de salud mental, dialogando con mujeres musulmanas sobre sus experiencias de...
Paiva, C. M. (2022). Body, mind and heart: Brazilian Muslim women's mental health (Doctoral Thesis).
Pesquisar sexualidade na religião é tarefa complexa. Por mais que exista uma tentativa de afastar a religião do debate sobre a sexualidade, é fato que há um importante entrelaçamento entre estas duas categorias. Em todas as sociedades, definem-se as normas sexuais e delineiam-se quais seriam as transgressões, sendo a religião uma das instâncias de sua regulação. No caso do Islã, por estabelecer um código de conduta a ser seguido em todas as esferas da vida dos muçulmanos e das muçulmanas, inclusive no que diz respeito à vivência da sexualidade, sexo e prazer apresentam moralidade e ética específicas. Para entender quais são as práticas, vivências e sentidos atribuídos à sexualidade, é preciso antes considerar as prescrições do que é lícito (halal) e ilícito (haram) de acordo com a religião, em seus próprios termos. A partir do diálogo com mulheres muçulmanas e de aulas de religião frequentadas pela pesquisadora, serão tecidas reflexões sobre a concepção islâmica da sexualidade e suas implicações para o exercício da sexualidade feminina. Apesar das prescrições existentes, mesmo dentro da licitude do casamento, a prática sexual no Islã extrapola a finalidade reprodutiva. Há um incentivo aos prazeres, colocando a satisfação sexual como um direito de ambos os cônjuges. Torna-se crucial relativizar o clichê da mulher muçulmana sexualmente reprimida: diferentemente do que se pensa no senso comum, sexo no Islã não é tabu.
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