Neste texto lançaremos luz sobre quatro experiências de adoecimento em corpos negros, femininos e infantis, na segunda metade do século XIX. Estas vivências, de duas crianças e duas mulheres trabalhadoras, foram pinçadas de um significativo conjunto de casos que envolve escravizados e libertos, publicados no periódico médico Gazeta Médica da Bahia. Interessa sublinhar a presença dos corpos negros na prática da medicina acadêmica, no Nordeste imperial. Os casos que apresentamos trazem à baila cenários do cotidiano na escravidão e corroboram com a historiografia que aponta as relações entre a medicina acadêmica e a escravidão durante o Oitocentos.
Neste artigo, consideramos como o tema saúde dos escravos produziu escritos no Brasil que mudaram de forma ao longo do tempo, partindo de preocupações pragmáticas dos senhores e autoridades públicas durante a vigência do escravismo, no século XIX, passando pelas apreensões do pensamento social com o povo no pós-abolição e ao longo da primeira metade do XIX até a conformação de um campo de pesquisa histórico formalizado. Esses três momentos conformam a estrutura desse artigo e compreendem escritos de natureza muito diversificada para serem apreendidos por um único rótulo – exceto pelo fato de que lidam com um mesmo objeto, a saúde escrava. Assim, nosso objetivo em cada seção deste painel é apresentar obras e autores representativos da natureza diversificada das preocupações sobre a saúde dos escravos em cada momento e analisar as condições nas quais emergiram essas preocupações.Palavras-chave: História. Escravidão. Saúde
A historiografia da escravidão no Brasil apresenta-se em constante movimento para captar cenários ainda turvos da vida das populações escravizadas, estas iniciativas perpassam por iluminar nuances do cotidiano de cativos e libertos no sentido de perceber as sociabilidades, a formação de famílias , o mundo do trabalho escravo, alimentação e formas de resistências nas variadas regiões do país, neste ínterim se insere a história da saúde de escravizados, que na confluência entre a história da escravidão e saúde configura-se como campo fértil , no qual a partir das fontes presentes nos arquivos judiciários, como inventários, processos crimes e denúncias, é possível perceber o comportamento das sociedades escravistas frente ao adoecimento do corpo escravizado, o impacto das doenças nas relações entre cativos e senhores, os padrões nosologicos em função das rotinas de trabalho escravo, como também o emprego das práticas de cura sejam as acadêmicas ou alternativas. Sendo assim o artigo que apresentamos busca dar nota das potencialidades dos arquivos judiciários para as investigações sobre as condições de saúde entre cativos no Nordeste.
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