De nada tem me adiantado convocar as musas 2 . Como os anjos-da-guarda dos índios à época de Cabral, elas devem estar passeando em Paris
3. O fato é que preciso alinhavar algumas considerações sobre Arte e Educação Matemática, como vocês me pediram, e não me vêm nem inspiração (o que quer que isso seja), nem clareza. Sequer sei, como pensava saber, o que arte é. Em vão me vejo procurando referências que me dêem apoio. Não me agrada pensar a miragem de linhas e pontos de fuga em uma pintura qualquer como estratégia para compreender uma obra, ainda que de uma forma pouco elaborada eu acredite que essa coreografia de traçados geomé-tricos me permita compreender alguma coisa daquilo que vejo 4 . É que, às vezes (na maioria das vezes, confesso), em detrimento da perspectiva, das cores, das formas, dos focos e do cenário ou da paisagem, uma coisa me arrebata a ponto de não ter sido vão e inconsequente vê-la. Definitivamente, a Matemática não é, para mim, guia especial para a fruição. A mim agradam menos ainda os discursos sobre a beleza da Matemática, tão comuns quanto vazios. A distinção entre razão e sensibilidade eu intuo: não saberia explicar nem me interessa, agora, essa explicação. Intuições não são discursivas: fossem discursivas seriam outra coisa, não intuições.Tenho um roteiro fragmentado de memórias fragmentárias que, pensei, poderiam me levar a algum lugar para compor um texto consistente e claro, com citações e referências que convenceriam até eruditos e acadêmicos, grupos cuja interseção é cada vez mais rarefeita. Mas nada consigo fazer com esse roteiro, nem mesmo explicitá-lo de forma sistemática como convém a um artigo acadêmico. Na ausência das musas ingratas que passeiam pela Champs-Élysées, penso que talvez vocês me poderão guiar para arrematar esses tantos recortes que busquei em fundos de gavetas.A arte é uma atividade humana, é expressão humana. Que não me venham, portanto, com macacos que pintam como Pollock 5 ou softwares que fazem análises qualitativas 6 . A arte está visceralmente ligada a valores estéticos, como a beleza, a harmonia, o equilíbrio (ainda que essa apreensão de arte possa ser flexibilizada se lembrarmos, como exemplos, do Butoh 7 , manifestação também da torpeza e da