O trabalho desenvolve uma reflexão sobre a educação entendida como processo de formação humana, buscando ver quais os sentidos que essa formação recebeu ao longo de nossa tradição filosófica e na contemporaneidade, uma vez que ocorreram mudanças nas concepções que os homens fizeram do ideal de sua humanização. Sob tal perspectiva, recoloca em discussão as relações entre as diversas dimensões da educabilidade humana, destacando as dimensões ética e política que, até o atual momento, prevaleceram como fundamentos da compreensão da própria natureza da educação e concluindo que hoje a formação humana, visada pela educação, compreende-se como formação cultural. Essa idéia dá à educação uma finalidade intrínseca de cunho mais antropológico do que ético ou político. Essa reflexão sobre a natureza da educação implica igualmente explicitar o lugar e o papel da Filosofia da Educação, como esforço hermenêutico de desvelamento da prática educacional, tal como ela precisa se desenrolar nas mudadas condições histórico-culturais da atualidade. A discussão permite, assim, não apenas interpelar momentos significativos da expressão histórica da Filosofia da Educação na cultura ocidental, mas também debater conteúdos teóricos fundamentais do debate filosófico sobre o sentido da educação, debate que se impõe com renovada força para os educadores no enfrentamento dos desafios que estão sendo colocados pelas novas condições da pós-modernidade, responsável por um profundo questionamento das referências filosóficas da tradição cultural do ocidente.
O trabalho apresenta, de uma perspectiva filosófico-educacional, uma análise e reflexão sobre a situação atual do ensino superior público no Brasil, mostrando não só o amplo e contínuo processo, conduzido pelo Estado, de sua reconfiguração organizacional e administrativa mas também a ambígua política educacional que subjaz a esse processo. Para tanto, retoma as formulações legais e descreve algumas iniciativas governamentais que vêm buscando implementar uma permanente reforma universitária com vistas à adequação do ensino superior nacional às consígnias do modelo societário capitalista neoliberal, implementado pela elite brasileira, neste quadrante da história do país. Explicita-se então o dilema fundamental vivido pela sociedade brasileira, representado pelo confronto entre uma educação baseada na teoria do capital humano e uma educação inspirada na teoria da emancipação humana. A educação superior pública é atingida em cheio por essa intencionalidade ideológica, levando-se em conta sua importância no processo de construção da vida social, seja no âmbito do trabalho, da sociabilidade e da cultura, o que torna ainda mais difícil a construção, pelas universidades públicas, de seu projeto político-educacional, tarefa a que se entregam numa postura de luta contra-ideológica.
Ciente das limitações da perspectiva filosófica, desenvolvo considerações tentando sistematizar um olhar sobre aquela universidade que todos buscamos, em condições de contribuir para a construção de uma outra sociedade brasileira, marcada pela cidadania e pela democracia. Uma universidade que, funcionária do conhecimento, possa colocá-lo a serviço da sociedade. Comprometida com o conhecimento, ela o será, também, com a extensão e a pesquisa, tanto quanto com o ensino.A universidade num novo tempo Nos dias de hoje, o próprio sentido da existência da universidade já não parece tão claro, podendo-se perceber que, além das críticas oriundas de setores especializados, uma espécie de questionamento generalizado, difuso em todo o corpo social, se faz cada vez mais presente e explícito. O sentimento geral de frustração em relação às expectativas não realizadas e às promessas não cumpridas de desenvolvimento e progresso das sociedades, a desvalorização da cultura elaborada e a banalização das referências em todos os setores da vida humana, são causas abrangentes que levam igualmente à desvalorização da universidade. No que concerne à sociedade brasileira, a crise profunda que se abate sobre ela, de modo especial no que se refere à restrição de empregos e à perda de prestígio das carreiras profissionais de nível universitário, é certamente outro fator que pesa na desconsideração da relevância desse tipo de instituição. Por outro lado, a universidade, como instituição da esfera educacional, sofre de processo crônico de corrosão interna, deteriorando-se continuamente e comprometendo sua própria eficácia, tornando-se pouco fecunda no atingimento de seus objetivos, consagrados pela tradição e reiterados pela retórica dominante. As universidades públicas, o mais das vezes vitimadas pelos vícios esclerosantes do regime burocrático, mal domesticado pelos profissionais do setor, acabam se fechando sobre si mesmas, passando a um estado quase que vegetativo, sem força nem vitalidade. As poucas exceções de instituições ou de setores no seu interior, sucumbem sob o peso de pressões espúrias e de muitas opressões, oriundas tanto do aparelho estatal como de grupos internos, que se apropriam de seus instrumentos como se fossem bens particulares e que 117Interface -Comunic, Saúde, Educ, v6, n10, p.117-24, fev 2002 espaço aberto Education and universities: knowledge and the construction of citizenship
O trabalho trata da natureza da pós-graduação a partir de suacondição substantiva de lugar de produção do conhecimento, razãopela qual precisa atribuir centralidade ao processo de pesquisa.Dessa condição decorrem exigências epistemológicas,metodológicas e técnicas bem como práticas e posturas acadêmicocientíficasa serem adotadas pelos integrantes da comunidade pósgraduanda,docentes e discentes, de modo a assegurar resultadosfecundos tanto na construção de conhecimento novo como naformação de novos pesquisadores. Na abordagem da vidaacadêmica na pós-graduação, destaca as questões relacionadas aoprocesso de orientação, do exame de qualificação e da elaboraçãoda dissertação ou da tese. Conclui defendendo que a lidecompetente, criativa e crítica com o conhecimento metódico esistemático é mediação imprescindível para se garantir igualmenteo compromisso da ciência com a construção da cidadania. Assim,argumenta ainda que, além de privilegiar temáticas socialmenterelevantes em suas linhas de pesquisa, os pós-graduandos, os seusdocentes e o próprio Programa, como sujeito social e coletivo que é, não podem perder de vista essa finalidade intrínseca eimanente do conhecimento: contribuir intencionalizadamente paraa emancipação dos homens, investindo nas forças construtivas daspráticas reais mediadoras da existência histórica.
EDUCAÇÃO, TRABALHO E CIDADANIA a educação brasileira e o desafio da formação humana no atual cenário históricohumanidade vive, hoje, um momento de sua história marcado por grandes transformações, decorrentes sobretudo do avanço tecnológico,
Partindo de uma leitura do contexto histórico-social que a Universidade brasileira está atravessando no momento, o trabalho argumenta em favor de uma imprescindível articulação entre ensino, pesquisa e extensão. Defende a idéia da indissociabilidade entre essas três funções, concebendo-a como exigência intrínseca para a constituição de uma universidade que possa ser realmente útil para a sociedade brasileira, neste momento histórico novo, diferente e desafiador que está vivendo. Uma universidade que se comprometida com a produção do conhecimento através da prática da pesquisa, poderá desenvolver, com êxito, sua tarefa pedagógica de ensino e sua tarefa social de extensão, tornando-se centro energético de transformação da sociedade, contribuindo para a construção da democracia e da cidadania, mediante a consolidação de uma nova consciência social.
Dimensão ética da investigação científica Ethical dimension of scientific investigation La dimensión ética de la investigación científica Antônio Joaquim Severino * Resumo: Após ressaltar a preocupação crescente com as questões éticas, relacionadas à pesquisa científica envolvendo sujeitos humanos, por parte de instâncias responsáveis pelo fomento da ciência no país, o texto discorre sobre as diversas perspectivas sob as quais se estabelecem as relações entre a ética e a produção do conhecimento, destacando a íntima vinculação da dimensão ética com a dimensão política, dada a exigência de afirmação da alteridade, da presença do outro, para que se possa falar da qualidade ética de qualquer ação humana. Conclui que as iniciativas com vistas à normalização dos procedimentos de investigação científica se legitimam como mediações importantes para se assegurar à prática científica o respeito à dignidade humana.
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