Atualmente, a relação entre identidade maranhense e manifestações culturais de caráter popular e negro – como o bumba-meu-boi e o tambor de mina – é apresentada como harmônica, atávica e natural. entretanto, uma análise atenta desse fenômeno evidencia, em primeiro lugar, seu caráter histórico, já que é relativamente recente a identificação positiva de práticas culturais ditas populares ou negras com a identidade do Maranhão. em segundo lugar, trata-se de um processo construído em meio a dissensos, ambigüidades, conflitos e tensões. em terceiro lugar, as teias desse fenômeno são, antes de tudo, as múltiplas diferenças e desigualdades existentes na região.
Frequentemente, a construção de dois dos mais significativos patrimônios culturais característicos do Maranhão, o bumba-meu-boi e o tambor de mina, tem sido relacionada a processos históricos e sociais domésticos e locais. Nesta comunicação, salienta-se que, pelo menos desde fins do século XIX, o banco de símbolos e práticas que institui os bumbas e o tambor de mina vem sendo gestado translocalmente: a circulação de ideais, objetos e sujeitos tem rompido as fronteiras geográficas do Maranhão e do Brasil, e este processo tem sido fundamental para as transformações da cultura local.Palavras-chave: Bumba-meu-boi, tambor de mina, culturas translocais.BUMBAS AND DRUMS IN A TRANSLOCAL CIRCUIT: notes on the translocal construction of cultural heritage of Maranhão Abstract: Frequently, the construction of two of the most significant cultural heritage characteristic of Maranhão, bumbameu-boi and tambor de mina, have been related to historical and social processes domestic and local. In this work, it isnoted that, at least since the late nineteenth century, the set of symbols and practices which establishes the bumba-meuboi and the tambor de mina have been translocally gestated: the circulation of ideas, objects and subjects have broken the geographical boundaries of Maranhão and Brazil, and this process has been fundamental in transforming local culture.Keywords: Bumba-meu-boi, tambor de mina, translocal.
Analisamos processos de invenção e reinvenção da maranhensidade, mostrando que, em meados do século XX (1940-1960), o mito da Atenas Brasileira é reatualizado, o Maranhão e o maranhense são ressignificados a partir de temas e sentidos daquela construção imaginária: novas letras refletidas de velhas imagens e transformadas em revelações da maranhensidade.
É freqá¼ente e difundida a idéia de que a festa, particularmente a festa á brasileira, seria capaz de mediar, apaziguar ou mesmo eliminar múltiplas e variadas diferenças entre os sujeitos. No caso do Brasil, a lapidação dessa imagem da festa se efetivaria sobretudo no contexto da ideologização da mestiçagem brasileira particularmente a partir dos anos 1920-30. Neste peráodo, diferentes intérpretesda nação e das regiões brasileiras buscavam identificar seus sámbolos coletivamente partilhados, e a festa se tornaria a ocasião máxima para se observar essa partilha amistosa e harmônica. Entretanto, umconjunto significativo de pesquisadores têm se esforçado em seguir um outro caminho, evidenciando que a festa é uma ocasião privilegiada para se observar as tensões, conflitos, diferenças e desigualdades. Aqui, festas como o carnaval e os festejos juninos ”“ cujos principais elementos no Maranhão, os bumbas-meu-boi, são inscritos como modeladores e mediadores de ser maranhense ”“ poderiam ser interpretadas como um lugar particular para se notar o funcionamento das diferenças e desigualdades. Para além da mistura e do encontro, pode-se perceber que nessas festas, longe de se suspender conflitos e se revitalizar comunidades imaginadas nacionais e regionais, as hierarquias sociais são ritualizadas e teatralizadas.
Entrevista realizada pelo Prof. Dr. Antonio Evaldo Almeida Barros com a Pesquisadora Titular, Coordenadora do Setor de Políticas Culturais da Fundação Casa de Rui Barbosa, Coordenadora da Cátedra UNESCO de Políticas Culturais e Gestão e organizadora, desde 2010, do Seminário Internacional de Políticas Culturais, a Profa. Dra. Lia Calabre.
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