Procuramos na pesquisa aqui relatada descrever e analisar a participação de processos inferenciais, contextuais e multimodais na construção referencial em conversações entre indivíduos afásicos e não afásicos que integram o Centro de Convivência de Afásicos (CCA). Para constituir o corpus da pesquisa extraímos do nosso acervo de dados - AphasiAcervus - 4 reuniões videogravadas e transcritas do CCA (cerca de 10 horas). Observamos no corpus analisado que os interactantes - afásicos e não afásicos - procuram delimitar a construção referencial associando estratégia e improvisação (HANKS, 2008) às estruturas e formas estáveis ou não de uso da linguagem e de outras semioses coocorrentes nas interações. Assim fazendo, ilustram de modo exemplar o caráter sociocognitivo da construção referencial, não impedido pelas dificuldades metalinguísticas apresentadas por indivíduos afásicos.
Tendo por escopo questões que se colocam na interação entre linguagem, cognição e sociedade, este ensaio tem o objetivo de refletir sobre os sentidos sociocognitivos do politicamente correto, considerando determinadas práticas discursivas no contexto brasileiro contemporâneo. A tese que defendemos neste ensaio é a de que o politicamente correto, como regulador de práticas discursivas e sociais, pode ser tomado num sentido fraco – como um recurso pragmático fundamentalmente associado à tentativa de promover um grau alto de reflexividade dos atores sociais em relação à produção de determinadas categorizações e/ou enunciados – ou num sentido forte – tanto como um sistema normativo, capaz de assinalar regimes simbólicos desejáveis da vida em sociedade, quanto um norteador de situações a serem superadas, como a desigualdade social, a injustiça, o preconceito, a discriminação, a violência.
RESUMOO objetivo deste artigo é refletir sobre aspectos referenciais e interacionais da noção de frame destacando, em meio a uma conversação desenvolvida por indivíduos afásicos e não afásicos, processos verbais e não verbais implicados na construção discursiva do referente. Podemos perceber, no fio do discurso e na organização sequencial do episódio conversacional analisado no escopo deste artigo, um interessante movimento de solidariedade entre gestão do tópico e construção referencial, pautada -entre outras coisas -pela conexão entre frames e pelas perspectivas assumidas intersubjetivamente pelos interactantes em relação ao referente em construção. PALAVRAS-CHAVE: referenciação; frame; afasia. ABSTRACTThe objective of this paper is to discuss some referential and interactional aspects of the notion of frame.Considering a conversation developed by aphasic subjetcs and not aphasic subjects, we analyzed some multimodal and inferential processes involved in discursive construction of referents. We observed that sequential organization of conversational episode promotes an interesting movement of solidarity between topic management and referential construction. This movement is based -among otherthings -on the connections between frames established by interactants. In our view, these sociodiscursive processes point to the intersubjetive and dynamic nature of frames. KEY-WORDS: referential processes; frame; aphasia. INTRODUÇÃO: HÁ VÁRIOS OBJETOS NUM SÓ OBJETOO objetivo deste artigo é refletir sobre aspectos referenciais e interacionais da noção de frame, por meio da análise dos recursos presentes em uma conversação desenvolvida por indivíduos afásicos 3 e não afásicos, focalizando especialmente os processos verbais e não verbais implicados na construção discursiva e interativa do referente.1 . UNICAMP/CNPq, Campinas, Brasil. edwiges@iel.unicamp.br 2 . UNICAMP/FAPESP, Campinas, Brasil. annabentes@yahoo.com.br 3 . As afasias são alterações de produção e compreensão da linguagem oral e/ou escrita que decorrem de lesões estruturais no Sistema Nervoso Central, causadas em geral por acidentes vasculares cerebrais e traumatismos cranioencefálicos. Podem ser associadas a sinais e sintomas neuropsicológicos, como hemiplegias, apraxias e agnosias.
Neste artigo, articulamos a análise de um conjunto de falas públicas produzidas pelo Presidente da República Jair Bolsonaro (JB) em diferentes contextos ao longo do ano de 2020: (i) o exercício reiterado da violência verbal, atribuída a JB, no contexto da pandemia de Covid-19; (ii) a construção de um modelamento sociocognitivo e discursivo para esse evento. Analisamos também práticas linguísticas reflexivas e críticas de diversos agentes sociais em relação à categorização do uso de máscara de proteção facial como “coisa de viado”. A metodologia de análise é de natureza qualitativa, envolvendo pressupostos teórico-metodológicos dos estudos da cognição social e dos estudos do texto e do discurso. As análises revelaram que o modelamento sociocognitivo e discursivo da pandemia da Covid-19, por JB construído, configurou o novo - em termos de práticas e cenários - em algo já dominado, superado; esse modelamento, junto com oficialização e a legitimação da violência verbal em relação a diversos agentes sociais, auxiliou na normalização dos efeitos letais da pandemia. A reflexividade linguística operada por setores da sociedade brasileira possibilitou novos modelamentos de certas práticas sociais relacionadas ao enfrentamento da pandemia de Covid-19 produzindo crítica e realinhamento sociais em larga escala. Palavras-chave: Pandemia de Covid-19; Violência Verbal; Reflexividade.
Neste artigo apresentamos análises iniciais de como ocorrem os processos de elaboração e reelaboração do tópico “trabalho” em um programa televisivo. Em função disso, nossos objetivos são: (i) apresentar uma breve discussão sobre as noções de frame, referenciação e tópico discursivo a partir de perspectivas teóricas de base sociocognitivista; (ii) apresentar o contexto no qual se inserem as sequências textuais analisadas; e (iii) analisar algumas sequências textuais realizadas pelos participantes do programa de forma a mostrar como as atividades de instauração de tópicos discursivos e as atividades referenciais que ocorrem no curso das interações dentro do programa auxiliam tanto na compreensão do contínuo processo de elaboração e reelaboração de frames relacionados ao tópico “trabalho”, como também na busca pela tipificação dos registros linguísticos. As análises empreendidas corroboram a afirmação de Van Dijk (1996) para quem os frames desempenham um importante papel na construção de modelos pessoais novos dos falantes, ou mesmo na atualização dos velhos, o que os situa entre memórias particulares e “scripts sociais”. Vimos que a cada interação velhos frames são ativados e mantidos, ao mesmo tempo em que reframings são operados. Por fim, as análises revelam que as estratégias de referenciação mobilizadas pelos sujeitos se mostraram fundamentais para a derivação dos frames básicos e transformacionais em jogo. Ainda há muito o que dizer sobre as relações intrínsecas entre a instauração de um determinado tópico, a ativação de determinados frames e as atividades de referenciação, mas nossas análises iniciais apontam para o fato de que a emergência de um sistema categorial fluido (nos termos de Marcuschi, 2007) relativo ao tópico “trabalho” não deixa de contribuir para a delimitação e estabilização dos frames (mesmo os de caráter transformacional) que emergem a partir da instauração desse tópico.
Neste artigo, buscamos analisar a natureza argumentativa do programa de reportagens televisivo Conexões Urbanas, exibido pelo canal fechado Multishow de 2008 a 2015, procurando investigar (i) a correlação entre os tipos de atores sociais que são convidados a participar do programa e os tipos de argumentos mobilizados por eles em suas falas e (ii) o papel das temáticas do programa na configuração do tipo de acordo estabelecido para a configuração do auditório. Nossas análises apontam para o fato de que ocorre uma predominância de certos tipos de argumentos na fala de certos tipos de atores sociais, o que revela que a estruturação argumentativa do programa é correlacionável ao status social de seus participantes. Por fim, verificamos que as temáticas e as estratégias argumentativas dos/nos episódios analisados configuram para cada um deles um perfil específico de auditório.
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