Novembro de 2005: redes de televisão do mundo inteiro transmitiram por vários dias as impressionantes imagens de automóveis em chamas nas periferias urbanas da França. Os jornalistas explicavam que a "crise do modelo social de integração" francês estaria provocando a revolta de jovens sem diploma, desempregados, filhos de imigrantes, vítimas constantes do fracasso escolar, do racismo e da exclusão. A expressão émeute, utilizada para designar esses protestos urbanos violentos, riot em inglês, não tem equivalente exato em português. Sua dupla raiz -movimento e emoção -sugere o quanto a émeute é, indissociavelmente, uma "coisa" e um pensamento que a qualifica. Há nela a idéia de movimento, mas há também o atributo da "irracionalidade" que seria própria a uma manifestação de tipo emocional. Tal atributo nada tem a ver em si com a violên-cia -nem todo protesto violento é qualificado de émeute. Quando camponeses franceses atacam caminhões espanhóis ou italianos para destruir mercadorias (frutas, legumes, vinho) que supostamente impõem a seus próprios produtos uma concorrência desleal, não se fala de émeute. Enquadradas por sindicatos rurais, essas manifestações inscrevem-se nos quadros de inteligibilidade característicos dos "movimentos sociais".A émeute está ligada na Europa a uma longa tradição histórica de protestos pré-democráticos que pareciam fadados a desaparecer sob a democracia.
Un nouveau paradigme de la violence Violence urbaine, démocratie et changement culturel : l'expérience brésilienne (Partie 1
A aceleração da globalização implodiu as condições institucionais-legais sobre as quais se assentou a experiência democrática moderna. Multiplicaram-se em níveis exponenciais as práticas de contornamento da lei, ampliando-se ao mesmo tempo o leque dos envolvidos nessas transgressões legais. Agentes da chamada “globalização por baixo” alinham-se ao lado de grandes forças econômicas, não raro com a conivência dos próprios Estados, em um vasto movimento circular – frequentemente ilegal e planetário – envolvendo seres humanos e mercadorias. Formas extremas de violência estatal e não estatal subsistem nesse novo contexto, sem que isso necessite qualquer tipo de controle autoritário direto sobre o sistema político, ao mesmo tempo em que se desfazem as condições da representação partidária construídas ao longo do século XX
RESUMOUma pesquisa com coletivos de ativistas, formados antes ou durante as manifestações de 2013, presentes nas redes digitais e fora delas, levou-nos a abordar a morfologia desses grupos, o perfil dos participantes, seus usos das tecnologias de comunicação e suas orientações mais gerais. Referências institucionais e agradecimentos: A pesquisa é parte de um projeto intitulado "Liens socionumériques et technologies (mobiles) de l'information et de la communication" (LisTIC), desenvolvido no âmbito da Universidade de Toulouse e tendo por parceiros no Brasil o Laps (Departamento de Sociologia da FFLCH-USP) e o Necvu (Departamento de Sociologia do IFCS/UFRJ). É um projeto interdisciplinar coordenado por sociólogos do LISST, em parceria com pesquisadores da área de ciências da informação e da comunicação, bem como da área de informática do LERASS e do IRIT (Universidade de Toulouse 3). O projeto é dirigido por JulienFigeac, sociólogo do CNRS e do LISST, e envolve uma equipe de cerca de 20 pessoas, com estatutos e implicações diversas, entre as quais -no que se refere à parte brasileira -as demais autoras deste artigo (cf. https://listic.irit.fr/ ). Tem financiamento garantido até 2021 (AgenceNationale de la Recherche) e obteve o selo GDRI Web Science. Explora os usos contemporâneos dos telefones celulares e dos aplicativos desenvolvidos pelas principais redes sociais, com o objetivo de captar seus efeitos sobre a composição e a morfologia das redes relacionais, sobre as sociabilidades no trabalho e sobre as formas mediatizadas de participação política -tanto na França, durante as eleições presidenciais deste ano, quanto no Brasil no quadro dos movimentos sociais atuais. Um agradecimento especial a Vera Telles, Michel Misse e Marcia Leite pelo apoio; a Esther Solano, GuilhermeFlynn e Jacqueline Leta pela generosa facilitação do acesso a muitos contatos; e a Pablo Ortellado pelas pistas. Agradecimento também a todos que se dispuseram a conversar conosco e cujo anonimato escolhemos preservar.
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