As lágrimas de Jesse Jackson no anúncio da eleição de Barack Obama parecem encerrar o ciclo das grandes mobilizações urbanas da segunda metade do século XX. Movimentos sociais, como o pelos direitos civis, de que Jackson foi parte, o feminista e o ambientalista lograram inscrever demandas suas na agenda contemporânea; suas organizações civis se profissionalizaram e muitos de seus ativistas se converteram em autoridades políticas. Essa rotinização do ativismo anda em par, nesse começo de século, com novidades. As mobilizações coletivas ganharam escala global, caráter violento e se concentraram em bandeiras identitárias, compelindo os teóricos a rever suas interpretações.É que as teorias dos movimentos sociais se constituíram diante de um quadro bastante distinto, o do Ocidente dos anos 1960, quando o próprio termo "movimentos sociais" foi cunhado para designar multidões bradando por mudanças pacíficas ("faça amor, não faça guerra"), desinteressadas do poder do Estado. Até então concentrados em pensar * Sou grata aos comentários de Brasílio Sallum Jr. à versão preliminar deste texto.
Em 31 de agosto de 2016, data da votação do impeachment da presidente, o país acordou com cerca fincada na frente do Congresso Nacional. Acirravam-se conflitos em curso desde 2013, quando eclodiram manifestações massivas em desafio às instituições políticas. Desde então disputam atores e intérpretes. Três abordagens predominam, conforme ênfase em causas, 2 atores 3 ou no processo de mobilização. 4 Este artigo se inscreve na última linha. Argumenta que manifestantes construíram estilos de ativismo, apropriando-se de repertórios de confronto disponíveis, 5 num jogo estratégico entre si e com as instituições políticas, que configuraram três ciclos de confronto entre 2013 e 2016. ApropriAções de repertórios de confronto
wave of political protests in Brazil, highlighting student movement participation. We make three arguments. First, this was not a single student movement, but a cycle of protest, consisting of many different actors, issues, and forms of demonstration. Second, protesters built what we call hybrid performances, drawing on three repertoires of contention: socialist, autonomist and patriotic. Third, the protests presented a strong rejection of political parties, problematising the relationship between social movements, political parties, and institutional politics.
A partir de uma síntese conceitual entre as teorias do Processo Político e dos Novos Movimentos Sociais, o artigo analisa as dimensões estratégicas e simbólicas do processo de formação do movimento ambientalista brasileiro. Argumenta-se que três estruturas de oportunidades políticas -o processo de Redemocratização, a Assembléia Constituinte e a Rio-92 -deram os parâmetros para que grupos de ativistas ambientalistas se constituíssem e enfrentassem dilemas comuns relativos a seus frames e estratégias de mobilização, constituindo, ao longo desse processo, uma identidade compartilhada.PALAVRAS-CHAVE: movimento ambientalista; estrutura de oportunidade política; identidade coletiva; estratégias de mobilização. SUMMARYRelying on a conceptual synthesis provided by the Political Process and New Social Movement theories, this article analyses the strategic and symbolic dimensions of the Brazilian environmental movement' s formation process. The authors argue that three political opportunity structures -Redemocratization, Constituent Assembly and Rio 92 -provided the parameters for environmental groups to arise and face common dilemmas regarding their frames and mobilizing strategies. Through this process, a shared identity came about.
Resumo: O artigo problematiza a incorporação da dimensão cultural na explicação dos processos políticos a partir de uma reconstrução das várias formulações do conceito de repertório na sociologia de Charles Tilly, desde os anos 1970 até seus últimos trabalhos, em 2008. Mostra como Tilly partiu, em 1976, de uma noção de repertório como formas de ação reiteradas em diferentes tipos de conflito; abordagem estruturalista e racionalista, concentrada na ligação entre interesse e ação, e privilegiando atores singulares. Trinta anos depois, o conceito de repertório se apresenta relacional e interacionista, privilegia a experiência das pessoas em interações conflituosas, e o uso e a interpretação dos scripts em performances. Esta reformulação enfatiza a agency e afasta-se do estruturalismo anterior de Tilly. Argumenta-se que a interpretação de Tilly pode se aplicar à história de seu conceito, apropriado em performances de outros intérpretes. Além da sua aplicação a novos casos, repertório ganhou especificações, contestações, dilatações, e usos imprevistos.
No Brasil de fins do Império formou-se o movimento da "nova geração", assim autonomeado numa referência à juventude de seus membros. Os intérpretes passaram depois, convencionalmente, a identificá-lo como "movimento intelectual da geração 1870".À primeira vista, a unidade geracional parece ser mesmo o único critério unificador deste movimento. Embora os intérpretes usualmente o subdividam conforme a adesão a correntes intelectuais européias -cientificismo, positivismo, liberalismo, spencerianismo, darwinismo social -, o retrato mais comum aponta um sincretismo, quando não um caos teórico: intelectuais imitativos, deslumbrados com as modas européias; suas preferências oscilando ao sabor delas.Pesa sobre a geração 1870 a acusação de ter se interessado mais em edificar novos sistemas filosóficos que em interpretar a realidade nacional, ignorando solenemente, salvo honrosas exceções, como Joaquim Nabuco, os problemas cruciais da sociedade brasileira, sobretudo a escravidão.Mesmo quando se admite um lugar para as idéias, ele é freqüentemente pouco lisonjeiro. Na formulação de Sérgio Buarque, a geração 1870 teria incorporado idéias européias essencialmente como "ornatos discursivos". Por princípio artificiais em relação ao patrimonialismo brasileiro, tais idéi-as forneceriam tão-somente uma forma para o alheamento, a "evasão", o "secreto horror à nossa realidade" acalentado pelos intelectuais.A controvertida tese de Roberto Schwarz (1989) igualmente tem por ponto de partida que a questão central perpassando os escritos da geração 1870 seria a imitação de teorias estrangeiras. Existiria também uma contradição entre as formas de pensar estrangeiras copiadas e os traços coloniais da realidade brasileira. Schwarz supõe, porém, que certos membros da geração 1870 tivessem habili-
In the past decade, environmental activism in Brazil has experienced a substantial tactical shift. Many activists have gained access to national political offices, the most prominent of whom is Marina Silva at the Ministry of the Environment. This research shows that protest groups of the 1980s paved the way for a professionalized form of environmental activism that relies on a firm-like organizational profile and expert staffing. Today, far away from confrontation, environmental activism in Brazil builds on cooperative relationships between political authorities and scientific elites. In this article, the authors argue that the transmutation of the profile of activism was largely stimulated by the availability of new resources and opportunities and the presence of national and transnational alliances available after Rio-92. The argument presented here draws on an analysis of the two biggest and most important environmental organizations in Brazil, namely, the SOS Atlantic Forest Foundation and the Socio-Environmental Institute (ISA).
Summary Focusing on two case studies of environmental activism in Brazil, this paper argues against theories that consider local and global activism as two separate realms. Instead, it is argued here that transnational activists circulate across the two spaces. In the global spaces, they build alliances with foreign groups, and in the local ones, they deal with the national state, other organised groups and ordinary communities living inside environmental areas they aim to protect. Activists live in both spheres and as they move, they carry with them local and global meanings, knowledge and forms of action and organising, mixing them through the continuous action of two mechanisms: adaptation and emulation. In this way, activists' biographies – their lived experience, their meanings and strategies – intermingle with both spaces in one single trajectory of activism. Discussing the existing literature on transnational social movements, I will argue that they forge hybrid identities in the sense of being at the same time local and global.
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