RESUMO O presente artigo procura interpelar as narrativas da experiência mestiça não só como produção de branqueamento, mas também como encenação de um estereótipo. Ambos encarnados na vivência da nossa família, refletindo tensões, modos e projetos de identidade nacional. A romantização da mestiçagem, lugar de produção, de fundação e de disseminação do desejo sempre insatisfeito de ser outro, marca o jogo de projeções, simulações e dissimulações da narrativa de nossa ascendência. Enquanto pesquisadoras, buscamos desvendar alguns mistérios, preencher lacunas, analisar as tensões dessas histórias que nem sempre contavam os fatos pelo que era falado, mas pelo interdito, não dito, mal dito. Conhecer o processo de formação e de conformação das famílias, muitas das vezes, no leva a conhecer o processo de formação e de conformação da sociedade, do país e do mundo.
O objetivo desse ensaio é o de identificar diferentes trajetórias de empreendedores imigrantes que são ilustradas através de comportamentos, e inspiradas tanto em evidências empíricas quanto nas teorias existentes a respeito do tema. Na proposta do modelo de trajetórias, destacam-se alguns fatores, como: a situação legal na entrada do país, o grau de escolaridade, experiências prévias de trabalho, proficiência na língua local, e o grau de conexão dos imigrantes, conformado dentro ou fora das comunidades étnicas. As trajetórias de cada tipo de imigração pesquisada configuram-se como caminhos únicos e possíveis. São ilustradas as trajetórias que retratam alguns tipos de empreendedores, baseados em suas histórias de vida. Os pesquisadores valeram-se da inspiração da literatura acadêmica no tema combinada com dados que emergiram do campo através de diversas técnicas de coleta - entrevistas em profundidade, observação participante, análise documental e surveys. De acordo com sua similaridade e representatividade, foram categorizadas nove possíveis trajetórias, que se configuram a partir de um processo decisório, combinando o efeito do ambiente com a história individual de cada imigrante, sendo explicadas ao longo do ensaio.
Edição das cartas de Ana de Castro Osório (1872-1935) a Bertha Lutz (1894-1976) existentes no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, no fundo da Federação Brasileira para o Progresso Feminino. A partir da leitura dessas missivas, este artigo tece considerações sobre a ligação entre as duas líderes feministas, seus projetos, redes de sociabilidade e o papel que a escritora portuguesa ainda procura desempenhar em sua propaganda.*** Luso-Brazilian feminist propaganda: letters from Ana de Castro Osório to Bertha Lutz ***An edition of the letters of Ana de Castro Osório (1872-1935) to Bertha Lutz (1894- 1976) existing in the National Archive, in Rio de Janeiro, at the fund of the Brazilian Federation for Women’s Progress. From the reading of these missives, this article studies the connection between the two feminist leaders, their projects, their socialnetworks and the role that the Portuguese writer still seeks to play in her propaganda.Keywords: feminism; Portuguese-Brazilian relations; epistolography; Ana de Castro Osório; Bertha Lutz
A trajetória pessoal, intelectual e profissional da escritora e jornalista portuguesa Virgínia Sofia Guerra Quaresma tem sido tema de trabalhos acadêmicos, reportagens e blogs. Seu brilhantismo e pioneirismo garantiram posição de destaque, ainda mais se consideramos o triunfo de uma mulher que não se encaixava nos padrões normativos em um cenário dominado por homens. Contudo há vários pontos cegos ou apontamentos nebulosos, sobretudo nos momentos em que Virginia Quaresma atuou nas trocas de informação e de formação de opinião no contexto luso-brasileiro de boa parte do século XX. Somente a pesquisa em periódicos, documentos históricos e registros íntimos podem ajudar a desvendar a rede de sociabilidades que Virgínia teceu entre os dois lados do Atlântico. Este artigo destaca, nos momentos de suas estadias no Brasil, aspectos profissionais, feministas e políticos.
A leitura online de periódicos oitocentistas como forma de acesso ao texto literário além dos livros e dos escritores canônicos, a partir do projeto O Real em Revista. O acesso de leitores, pesquisadores e discentes à literatura tal como veiculada em seu suporte original possibilita novas e diferentes leituras. Destaque para a literatura, sobretudo a poesia, difundida em revistas literárias do Romantismo português pouco conhecidas, tais como A Lyra da Mocidade (1849), A Semana: jornal litterario (1850-1852), Miscellanea Poetica (1851-1852) e Hymnos e Flores: jornal litterario (1862-1863), e a presença de certo erotismo romântico e de escritoras.
Sentindo na pele todas as penalidades infligidas àqueles que não se encaixavam no padrão, Camilo ao ser preso como corréu na querela movida por Pinheiro Alves, marido de Ana Plácido, empunhou em sua defesa as mesmas armas empregadas para aniquilar publicamente os criminosos. O escritor e a amada, contando com a ajuda de amigos respeitados e letrados, moveram através da imprensa periódica e de sua própria literatura uma campanha baseada na ideia de que o adultério era quase uma consequência dos casamentos baseados em conveniências financeiras, que excluíam o amor.
Na literatura oitocentista, produzida tanto em Portugal como no Brasil, é possível encontrar vários exemplos de associações entre determinadas formas, cheiros, sabores e cores à mulher brasileira, resultando em uma imagem estereotipada e hipererotizada. Em obras como Coração, Cabeça e Estômago (1861), de Camilo Castelo Branco, O Cortiço (1890), de Aluísio de Azevedo e os Mysterios do Porto (1890-1891), de Gervásio Lobato, estas mulheres “mais quentes”, “abrasadas pelo escaldante sol dos trópicos”, estariam sempre dispostas a realizar todo e qualquer desejo masculino. Tal visão, difundida desde a colonização e profundamente marcada pelo racismo e pelo sexismo, também funciona como um fator de estigmatização, inferiorização e marginalização, uma vez que atribui às brasileiras certas características culturais, comportamentais e físicas que determinariam a sua maior disponibilidade sexual, especialmente, em relação aos europeus, cujos efeitos são sentidos até os dias de hoje.
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