Para avaliar a situação de utilização e acesso aos serviços de odontologia no Brasil e estudar diferenciais entre os estratos socioeconômicos, utilizaram-se dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) de 1998, realizada pelo IBGE. A análise, que levou em conta o desenho amostral, indicou um nível baixo de utilização de serviços odontológicos. Setenta e sete por cento das crianças de 0-6 anos e 4% dos adultos de 20-49 anos nunca haviam consultado um dentista. Entre estes adultos, comparando-se os 20% mais pobres com os 20% mais ricos, observou-se que o número de desassistidos era 16 vezes maior entre os primeiros. No grupo de 0-6 anos, as crianças ricas consultaram o dentista cinco vezes mais do que as pobres no ano anterior à entrevista. Cerca de 4% dos que procuraram atendimento odontológico não o obtiveram, 8% dos quais entre os mais pobres e 1% entre os mais ricos. A maioria (68%) dos atendimentos do grupo mais pobre foi financiada pelo SUS, enquanto 63% deles foram pagos pelos mais ricos. As maiores desigualdades no acesso e na utilização de serviços odontológicos foram encontradas, exatamente, nos grupos de menor acesso ou utilização. A participação do SUS nos atendimentos odontológicos é muito mais baixa do que na atenção médica.
OBJECTIVE To analyze the prevalence and associated factors regarding the use of medicines by self-medication in Brazil.METHODS This cross-sectional population-based study was conducted using data from the PNAUM (National Survey on Access, Use and Promotion of Rational Use of Medicines), collected between September 2013 and February 2014 by interviews at the homes of the respondents. All people who reported using any medicines not prescribed by a doctor or dentist were classified as self-medication practitioners. Crude and adjusted prevalence ratios (Poisson regression) and their respective 95% confidence intervals were calculated in order to investigate the factors associated with the use of self-medication by medicines. The independent variables were: sociodemographic characteristics, health conditions and access to and use of health services. In addition, the most commonly consumed medicines by self-medication were individually identified.RESULTS The self-medication prevalence in Brazil was 16.1% (95%CI 15.0–17.5), with it being highest in the Northeast region (23.8%; 95%CI 21.6–26.2). Following the adjusted analysis, self-medication was observed to be associated with females, inhabitants from the North, Northeast and Midwest regions and individuals that have had one, or two or more chronic diseases. Analgesics and muscle relaxants were the therapeutic groups most used for self-medication, with dipyrone being the most consumed medicines. In general, most of the medicines used for self-medication were classified as non-prescriptive (65.5%).CONCLUSIONS Self-medication is common practice in Brazil and mainly involves the use of non-prescription medicines; therefore, the users of such should be made aware of the possible risks.
Resumo
ObjetivoEstudar os padrões de utilização de medicamentos, classificando-os por grupos farmacológicos e verificando os determinantes individuais desse uso. Métodos Delineamento transversal de base populacional. Amostra composta por 3.182 indivíduos com 20 anos de idade ou mais, residentes na região urbana do município de Pelotas, RS. O processo de amostragem foi conduzido em múltiplos estágios. O instrumento foi um questionário estruturado, utilizando um período recordatório de 15 dias e aplicado através de entrevistas individuais. Na análise bruta, foram utilizados os seguintes testes: qui-quadrado para comparação de proporções, teste t para comparação de médias e o teste de tendência linear. A análise ajustada foi conduzida através de uma regressão de Poisson. Resultados A prevalência de uso global de medicamentos foi de 65,9%. Os seguintes grupos apresentaram maiores prevalências de utilização de medicamentos após análise ajustada: mulheres, idosos, indivíduos de nível econômico mais elevado e com pior autopercepção de saúde. Os grupos farmacológicos mais utilizados foram os analgésicos, antiinflamatórios e anti-hipertensivos. Conclusões A prevalência de uso de medicamentos foi superior às encontradas em outros estudos nacionais e internacionais. O estudo dos determinantes individuais de utilização de medicamentos indica os grupos mais sujeitos ao uso excessivo, o que pode embasar estratégias específicas para diminuir a utilização nesses grupos, tais como políticas mais restritivas para prescrição e venda de medicamentos.
Abstract
ObjectiveTo study epidemiological patterns of drug utilization and its individual determinants and to classify drugs used into pharmacological groups. Methods In a population-based cross-sectional study, 3,182 subjects aged 20 years or more were selected from an urban area in Southern Brazil using a multi-stage sampling design. Data were collected through home interviews using a structured questionnaire.
IntroduçãoO acesso a medicamentos é um indicador da qualidade e resolutividade do sistema de saúde 1 e um determinante importante do cumprimento do tratamento prescrito. A literatura indica que a falta de acesso é uma causa freqüente de retorno de pacientes aos serviços de saúde 2 .Os medicamentos de uso contínuo assumem grande importância no tratamento de doenças crônico-degenerativas, como a hipertensão arterial sistêmica e o diabetes mellitus, bem como de problemas de saúde mental, morbidades estas que apresentam prevalências crescentes no Brasil em decorrência do envelhecimento populacional 3 . A falta de acesso a medicamentos para tratamento dessas enfermidades pode levar ao agravamento do quadro e aumentar os gastos com a atenção secundária e terciária 2 . Considerando-se que a maioria da população atendida no serviço público de saúde é de baixa renda, a obtenção gratuita é, freqüentemente, a única alternativa de acesso ao medicamento. Nesse contexto, o sistema público de saúde, e em particular o Programa Saúde da Família (PSF), desenvolve ações que visam a acompanhar de forma sistemática os indivíduos com essas morbidades e promover o cuidado integral, incluindo o acesso a medicamentos essenciais 4 .No Brasil, dados populacionais sobre o acesso a medicamentos são raros. A maioria dos estudos avalia o acesso com base na proporção de me-ARTIGO ARTICLE
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