A noção de hegemonia foi criada no seio da tradição marxista para pensar as diversas configurações sociais que se apresentavam em distintos pontos no tempo e no espaço. Apesar de ter suas origens na social-democracia russa e em Lênin, é Gramsci que apresenta uma noção de hegemonia mais elaborada e adequada para pensar as relações sociais, sem cair no materialismo vulgar e no idealismo encontrados na tradição. A noção de hegemonia propõe uma nova relação entre estrutura e superestrutura e tenta se distanciar da determinação da primeira sobre a segunda, mostrando a centralidade das superestruturas na análise das sociedades avançadas. Nesse contexto, a sociedade civil adquire um papel central, bem como a ideologia, que aparece como constitutiva das relações sociais. Deste modo, uma possível tomada do poder e construção de um novo bloco histórico passa pela consideração da centralidade dessas categorias que, até então, eram ignoradas.Entretanto, nas últimas décadas surgiu uma nova abordagem da hegemonia que tem como objetivo expandir a noção gramsciana para pensar a configuração social do
ResumoO presente trabalho visa analisar as contribuições teóricas de Pierre Bourdieu e Bernard Lahire na construção de uma sociologia da prática, destacando o esforço dos autores em superar as dicotomias que dividem as principais correntes socioló-gicas -entre objetivismo e subjetivismo, indivíduo e sociedade. Para tanto, serão apresentados os caminhos traçados pelos autores para pensar a agência humana, através de uma teoria disposicional da ação, que enfatiza os habitus de classe ou as disposições individuais. Por fim, discutiremos os avanços e limites observados nessas perspectivas na apreensão de questões centrais da teoria social contemporânea, como a capacidade reflexiva dos atores e seu papel na reprodução/ transformação do mundo social. Essa análise permite questionar em que medida os autores conseguem superar as referidas dicotomias, uma vez que terminam por enfatizar o peso do social sobre as condutas individuais. The present work analyzes the theoretical contributions of Pierre Bourdieu and Bernard Lahire in the construction of a sociology of practice, highlighting their efforts to overcome the dichotomies that divide the main sociological theories -between objectivism and subjectivism, individual and society. In this sense, I will present the paths traced by them to think about human agency through a dispositional theory of action, emphasizing class habitus or individual dispositions. Last but not least, I discuss the progress and limits observed in these perspectives in grasping the central issues of contemporary social theory, such as the reflexive capacity of actors and their role in the reproduction /transformation of the social world. This analysis allows us to question to what extent the authors can overcome these dichotomies, because they emphasize, ultimately, the weight of the social on the individual conduct.
The article discusses to what extent sociological theories produced in the Brazilian academic field dialogue with a global intellectual movement criticizing coloniality and the Eurocentric foundations of the social sciences. Initially, we analyze the challenges regarding the attempts to define two theoretical approaches, Brazilian sociology, and Postcolonial Thought, without overlooking their internal heterogeneities. Then, we address the tensions between these approaches as conditions for research agendas that bring both contributions into proximity. Finally, we explore the epistemological potential of one of these agendas, which corresponds to a rereading of Brazilian sociological theory in light of postcolonial criticism. This exercise in rereading the canon is based on the methodological program of sociological reduction of Guerreiro Ramos, which indicates a reciprocal interrogation between Brazilian sociology and postcolonial thought, i.e., a decentered look at our sociological tradition that also reveals contributions from this tradition for the future of postcolonial epistemologies.
Muitas correntes da teoria social contemporânea têm sido marcadas por um crescente interesse pelo indivíduo na compreensão dos fenômenos sociais, devido ao reconhecimento das mudanças ocorridas, sobretudo, a partir da segunda metade do século XX, que conduziram a uma transformação fundamental na relação entre indivíduo e sociedade. Se a consolidação da sociologia como disciplina autônoma se caracterizou por um esforço em desvendar as determinações sociais na explicação da vida social, o crescente processo de individualização observado nas sociedades modernas -intensificado a partir dos anos 1960 -coloca em xeque as formas de pensar a sociedade e de fazer sociologia.Segundo Martuccelli e Singly (2012), nas sociedades contemporâneas, não é possível definir os indivíduos sociais apenas por um pertencimento típico (classe social, gênero, raça, idade), de modo que é necessário prestar mais atenção no trabalho que esse indivíduo realiza sobre si mesmo. Partindo dessa perspectiva, desenvolveu-se, nas últimas décadas, uma corrente teórica que defende a necessidade de conferir mais espaço ao indivíduo na análise sociológica 259
Resumo O artigo discute em que medida teorias sociológicas produzidas no campo acadêmico brasileiro dialogam com um movimento global de crítica à colonialidade e aos fundamentos eurocêntricos das ciências sociais. De início, tratamos dos desafios subjacentes às tentativas de definir os dois enquadramentos, sociologia brasileira e pensamento pós-colonial, sem ignorar suas heterogeneidades internas. Em seguida, analisamos as convergências e tensões entre esses campos como condições de possibilidade para agendas de pesquisa que aproximem ambos os aportes. Por fim, exploramos o potencial epistemológico de uma dessas agendas, que corresponde a uma releitura da tradição sociológica brasileira à luz da crítica pós-colonial. Esse exercício é feito a partir do projeto da “redução sociológica”, de Guerreiro Ramos, que indica uma via de mão dupla na interlocução entre sociologia brasileira e pensamento pós-colonial: um olhar descentrado sobre nossa tradição sociológica que revela contribuições dessa tradição para o futuro das epistemologias pós-coloniais.
Este trabalho visa analisar as práticas de consumo das frações ascensionais das classes populares brasileiras, investigando as condições que possibilitam a alguns membros incorporar novas disposições para o consumo, enquanto outros permanecem com um estilo de vida marcadamente ascético, orientados pelo ethos do trabalho duro. Ancorado numa tradição sociológica que confere grande importância à pesquisa empírica na construção e aperfeiçoamento de conceitos teóricos – a sociologia disposicionalista – e movido por um interesse em aprofundar as análises de caráter quantitativo que apontam uma mudança nos padrões de consumo das classes populares brasileiras, no período recente, este trabalho procedeu a uma pesquisa qualitativa com membros das frações ascensionais das classes populares residentes na periferia do Recife. A análise permite apreender as condições que favorecem a incorporação de novas disposições para o consumo nos meios populares, bem como os ajustes e tensões entre disposições e valores constitutivos de seu ethos de classe, num contexto de mobilidade ascendente. Palavras-chave: Classes Populares. Práticas de consumo. Estilo de vida. Sociologia disposicionalista.
As construções desde tempos remotos fazem parte da organização da sociedade, na qual, além de desempenharem um papel de referência física, representam mudanças históricas, culturais, políticas e socioeconômicas de um território. Para se compreender uma construção, é necessário interpretar a sua funcionalidade dentro de um contexto, considerando desde os elementos atuais presentes na mesma até aqueles antecessores a ela. Os recursos naturais possuem participação direta em muitas representações arquitetônicas, tendo sido utilizados e adaptados conforme a sua disponibilidade no meio. Através desta pesquisa buscou-se essencialmente analisar as inter-relações entre o meio ambiente e a arquitetura, segundo o processo de manifestação histórico-cultural do agricultor familiar, enfatizando-se, neste estudo, as influências das imigrações italiana e polonesa, no âmbito rural da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Pretendeu-se ainda realizar um resgate da trajetória descrita pela expansão da agricultura familiar sob a perspectiva da arquitetura, observando o papel desempenhado pela construção no estabelecimento de moradias, no exercício de atividades laborais e na geração de uma dinâmica morfofuncional dos elementos da propriedade rural, tendo como base a presença da madeira de araucária na área em estudo. A pesquisa envolveu um levantamento teórico em livros, artigos, cartas, fotos, mapas e depoimentos. Visitas de campo com fins de observação e registro através de fotos e croquis complementaram o diagnóstico executado. Identificou-se, por meio deste estudo, ainda em curso, que existiam, mesmo após mais de um século da imigração italiana e polonesa no Estado do Paraná, elementos e relações que caracterizavam os diversos usos da construção em madeira, embora muitas mudanças tivessem ocorrido nesse período. Acredita-se que, em parte, a evolução desencadeada na arquitetura da propriedade rural esteja relacionada às novas conformações adquiridas pela agricultura familiar na RMC, onde as atividades agrícolas e rurais não-agrícolas derivadas da agricultura precisaram dividir espaço com outras tipicamente do meio urbano.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.