Neste início de século, a contínua marcha do capitalismo na Amazônia brasileira atinge as Áreas Protegidas, espaços destinados à preservação, à conservação da natureza, e proteção aos territórios tradicionais dos povos amazônicos. Essas dinâmicas territoriais ampliam as pressões sociopolíticas e econômicas nos espaços institucionalizados a garantir formas sociais de uso coletivo da terra e da natureza, que diretamente asseguram a proteção dos serviços ambientais para a sociedade. Analisa-se esse fenômeno empírico no estado de Rondônia, localizado na Amazônia meridional brasileira, problematizando esses processos nos territórios dos povos indígenas e seringueiros (comunidade tradicional). Conclui-se que a expansão da fronteira promovida pelos grupos econômicos (pecuária, madeira, grileiros, mineração e soja), com apoio do Estado, atingem a proteção ambiental e cultural dos povos amazônicos com fortes transgressões às leis de ordenamento territorial, cujo resultado institui um processo social vinculado à violência, ao crime ambiental e à negação dos direitos humanos e territoriais dos grupos sociais diretamente afetados.
O município de Porto Velho, localizado ao norte do estado de Rondônia, situado na Amazônia meridional, apresenta modificações espaciais que nos permitem compreender a dinâmica do espaço agrário rondoniense por meio da expansão da fronteira agrícola que avança em busca de novas áreas para a ampliação da atividade da pecuária e, posteriormente, da monocultura da soja e demais grãos que fazem parte das commodities comercializadas pelo estado. Entre os anos de 1999 e 2018, União Bandeirantes e Rio Pardo expressam formas de ocupação, impactos ambientais, territoriais e sociais similares que fazem parte do processo de expansão da fronteira agrícola. Os reflexos desses impactos estão no aumento do desmatamento e da degradação ambiental que propiciou/propicia pressões, tensionamentos e conflitos nas Áreas Protegidas: Terra Indígena Karipuna, Resex Jacy-Paraná e Floresta Nacional do Bom Futuro. No recorte temporal mencionado (1999-2018), buscamos compreender a materialidade histórica que resultou no avanço do capital agropecuário em áreas de florestas ligadas ao processo de incorporação de terras em larga escala. Essas terras agricultáveis colocam o Brasil na contradição de expansão da agricultura e negligênciamento do Zoneamento Socioeconômico e Ecológico (ZSEE), com reflexos nocivos aos povos indígenas e comunidades tradicionais que são invisibilizados, além das expulsões serem minimizadas, naturalizadas como meras consequências do “desenvolvimento econômico” do país. Ancorados no método dialético e metodologia quali-quantitativa, analisamos os dados de produção agropecuária, desmatamento e extração mineral, como reflexo da negação ao ZSEE em União Bandeirantes e Rio Pardo. Palavras-chave: Fronteira; Pecuária; Campesinato; Desmatamento; Áreas Protegidas. The geography of borders in the municipality of Porto Velho: União Bandeirantes and Rio Pardo and the reflexes of the negligence of the territorial management of the state in Rondônia Abstract Porto Velho is located in the southern Amazon and shows spatial changes that allow us to understand the dynamics of the rural areas in Rondônia state, through the expansion of the agricultural frontier in search of new areas for livestock activity and, later, monoculture of soybeans and other grains that are part of the commodities traded by the state. Between 1999 and 2018, União Bandeirantes and Rio Pardo expressed similar forms of occupation, environmental, territorial and social impacts that are part of the agricultural frontier expansion process. Among impacts are an increase in deforestation and environmental degradation that led/provide pressures, tensions and conflicts in the Protected Areas: Karipuna Indigenous Land, Jacy-Paraná Resex and Bom Futuro National Forest. In this time frame, we aim to understand the historical materiality that resulted from the advance of agricultural capital in forest areas, linked to the process of large-scale land incorporation. These arable lands place Brazil in the contradiction of expanding agriculture and neglecting the Socioeconomic and Ecological Zoning (ZSEE), harmfully affecting indigenous peoples and traditional communities that are made invisible, in addition to their expulsions being minimized, naturalized as consequences of the “economic development” of the country. Anchored in the dialectical method and qualitative-quantitative methodology, we analyzed data on agricultural production, deforestation and mineral extraction, as a reflection of the denial of the ZSEE in União Bandeirantes and Rio Pardo. Keywords: Border; Livestock; Peasantry; Logging; Protected Areas. La géographie des frontières dans la municipalité de Porto Velho: União Bandeirantes et Rio Pardo et les réflexes de la négligence de la gestion territoriale de l'État à Rondônia Resumé La municipalité de Porto Velho, localisée au nord de l'état de Rondônia, située dans le sud de l'Amazonie, présente des changements spatiaux qui nous permettent de comprendre la dynamique de l'espace agraire de Rondônia à travers l'expansion de la frontière agricole qui avance dans la recherche de nouvelles zones pour l'expansion de l'activité d'élevage et, plus tard, la monoculture de soja et d'autres céréales qui font partie des produits de base commercialisés par l'état. Entre les années 1999 et 2018, União Bandeirantes et Rio Pardo montrent des formes similaires d'occupation, d'impacts environnementaux, territoriaux et sociaux qui font partie du processus d'élargissement de la frontière agricole. Les reflets de ces impacts se trouvent dans l'augmentation de la déforestation et de la dégradation de l'environnement qui ont entraîné/provoqué des pressions, des tensions et des conflits dans les Aires Protégées: Terres Indigènes de Karipuna, Resex Jacy-Paraná et Forêt Nationale de Bom Futuro. Dans cette temporalité, nous cherchons à comprendre la matérialité historique qui s'est traduite par l'avancée du capital agricole dans les espaces forestiers liés au processus d'incorporation de terres à grande échelle. Ces terres arables placent le Brésil dans la contradiction de l'expansion de l'agriculture et de la négligence du Zonage Socio-économique et Écologique (ZSEE), se répercutant de manière néfaste sur les peuples autochtones et les communautés traditionnelles qui sont rendus invisibles, en plus des expulsions minimisées, naturalisées comme conséquences du “développement économique” du pays. Ancrés dans la méthode dialectique et la méthodologie qualitative-quantitative, nous avons analysé les données sur la production agricole, la déforestation et l'extraction minière, comme reflet du déni de la ZSEE à União Bandeirantes et Rio Pardo. Mots-clés: Frontière; Bétail; Paysannerie/Paysan; Déboisement; Zones Protégées.
Analisa-se o percurso geográfico da soja, como principal produto do agronegócio brasileiro, e seus efeitos espaciais na Amazônia brasileira. Por meio da cartografia geográfica problematiza-se os impactos territoriais do agronegócio no estado de Rondônia, demonstrando que a inserção da soja produziu o deslocamento da fronteira agrícola em sub-regiões rondonienses que não tinham sido objeto de expansão agropecuária. Conclui-se que na Amazônia a fronteira se desloca em áreas protegidas, evidenciando, tanto a fragilidade governamental na gestão territorial, quanto os efeitos espaciais do agronegócio em converter florestas e áreas protegidas em espaço da agropecuária.
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