A investigação que tem vindo a ser realizada desde 2010 sobre a variação sintática nas variedades do português falado na Ilha da Madeira (Portugal) confirma a sua especificidade no conjunto de variedades geográficas do Português Europeu (PE) e a sua integração, com base em critérios lexicais e fonéticos, num dos três grupos principais e autónomos dos dialetos portugueses, o grupo dos dialetos insulares. Dando continuidade ao estudo sobre a sintaxe madeirense, este trabalho procura investigar as estratégias de realização do objeto indireto (OI) anafórico de terceira pessoa numa variedade insular do PE, a variedade falada no Funchal, na Ilha da Madeira. A metodologia adotada tem por base os pressupostos teórico-metodológicos da sociolinguística quantitativa de base laboviana, aplicados a uma amostra estratificada de entrevistas realizadas junto de 12 informantes madeirenses, residentes no Funchal, capital da ilha da Madeira, selecionada a partir do Corpus Sociolinguístico do Funchal. A análise terá em conta a literatura de referência e será conduzida no sentido de procurar saber quais os fatores linguísticos e extralinguísticos que atuam na variação das formas de expressão da função OI, nomeadamente as seguintes (i) com clítico lhe(s) e (ii) com SP (preposição a e para), unicamente com pronome forte ele(s) e ela(s). Os resultados apontam para a ocorrência dos dois tipos de variantes, quantitativamente diferenciados. Com efeito, não só se atesta o uso da construção com a preposição para, normalmente excluída dos dados do PE, como também a pouca frequência do clítico lhe, tida como variante padrão do PE.
Esta pesquisa apresenta análises sobre avaliação linguistica no português europeu madeirense, através de corpora (entrevistas sociolinguísticas selecionadas a partir da amostra Funchal do CORPORAPOT e Corpus Sociolinguístico do Funchal (CSF)) e de questionários no âmbito de trabalhos de investigação realizados por Andrade (2014), Rodrigues (2018) e Nunes (2019). Foram selecionadas para um exame mais detalhado, duas variáveis sociolinguísticas, objeto de estudos anteriores focados na produção linguística: a realização anafórica de OD (variantes não padrão - ele, lhe e realização nula - e variante padrão, com clítico o) e as construções existenciais (variante não padrão - com ter - e variante padrão - com haver). O objetivo central é contribuir para o conhecimento mais aprofundado da sociedade insular, amplamente heterogênea do ponto de vista sociodemográfico e linguístico. Pretende-se, ainda, refletir sobre a possível influência dos significados sociais dos usos linguísticos e dos mecanismos subjacentes a esta inter-relação, de modo a melhor perceber se estamos perante uma comunidade de fala madeirense ou de uma pluralidade de comunidades de fala locais, geográfica e socialmente situadas na ilha da Madeira. Os resultados mostram, por um lado, que os falantes madeirenses têm consciência da diversidade linguística existente no território insular e do seu significado social, e, por outro, existe uma tendência à correlação entre variáveis sociolinguísticas e variáveis sociais (idade e nível de escolaridade dos participantes) que deverá ser levada em conta nos futuros trabalhos de investigação.
Palavras-Chave: Avaliação Sociolinguística; Variáveis Linguísticas; Português Madeirense.
The aim of this study is to bring forth the notion of insularity in terms of frontier space, hybrid by definition, characterised by a dynamic relation and inner and outer fluctuation. First and foremost, we try to identify to what extent this configuration could get involved in the collective memory, the social life and in the identity construction of island people. Besides other forms of manifestations of identity stakes, the language, made up of stories, of shared references and of corpora of shared practices, would allow the subjects to track down the outreach of identity versus alterity. As part of the linguistic acclimatisation in an island context, the Portuguese language of the first colonisers who arrived on the Island of Madeira in the XVth century, has undergone a path marked both by isolation and linguistic contact with the overseas lands, resulting in an acknowledged, if little researched, regional variety. This variety circumscribed to periphery, discontinued against the varieties of peninsular Portuguese, is shaped as interwoven with a diversity of competing variants (conservatory, normative and innovative). The dialectal uniqueness, under the heterogeneity of socially structured usages, will be envisaged, in the present article, as the reflection, from a symbolic perspective, of an identity process led by these Lusophone island specialists, engaged in the debate on the multiple significances attached to their singularity.
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