A ação “@pandemiadenarrativas, movida pelo grupo de pesquisa Antropoéticas[1] através do Instagram[2], surgiu em 19 de abril de 2020 devido à premência de criar um território de refúgio e compartilhamento de vivências diárias alteradas pela pandemia da Covid-19, num período trágico com características de liminaridade. Ao demonstrarem as relações entre dramas social e estético, Turner (2008) e Dawsey (2005) enfatizam como o isolamento e a vulnerabilidade, próprios da condição liminar, que marca a fase intermediária dos processos rituais, tendem a gerar comunidades de aflição. Que grafias expressariam as experiências subjetivas deste drama social? Como uma antropologia sensível, mediada por formas expressivas, contribuiriam com um mundo em crise, externalizando inquietudes, tristeza, gritos abafados pelo isolamento? Como tais narrativas poderiam romper o silêncio e tornar-se contagiantes? Esses questionamentos nos conduziram a esta ação antropoética, via uma plataforma on line, visando reunir experiências vividas de maneiras diversas e criar vínculos afetivos como modo de resistência ao trágico dilaceramento de laços sociais. Atualmente, com 420 seguidores, média de 84 "curtidas" diárias e comentários, o material reunido no primeiro mês nos convida a pensar e proceder de acordo com uma “antropologia da vida” (INGOLD, 2015), cujas implicações mais profundas serão consideradas futuramente, visto que a ação segue acontecendo. Optamos, aqui, por apresentar resultados parciais, em forma de ensaio visual, apoiado no princípio da “montagem” (VERTOV, 1983; BENJAMIN, 1987), através de um processo colaborativo e rizomático que valoriza gestos, emoções e resistências expressas por múltiplas “grafias” (INGOLD, 2015). Tal como Rancière (2005), entendemos esse modo de produção do conhecimento sensível como um ato político, ético e poético - uma forma de resistência cotidiana, como propõe Scott (1990), percebida através de narrativas pungentes e simbólicas, que nos fazem apostar no “poder epidêmico” dessas imagens (DIDI-HUBERMAN, 2003). [1] Esta ação integra o projeto de pós-doutorado de Daniele Borges Bezerra, no âmbito do grupo de pesquisa Antropoéticas, do Laboratório de Ensino Pesquisa e Produção em Antropologia da Imagem e do Som (LEPPAIS)/ Universidade Federal de Pelotas. O LEPPAIS é coordenado por Daniele Borges Bezerra e Cláudia turra Magni, Laboratório do qual todas as autoras e os autores participam. [2] No Site de Rede Social (SRS) Instagram, os perfis são precedidos pela arrouba (@).
Marc Piault, cineasta-antropólogo franco-brasileiro, deve ser referência não somente para os que se arriscam pelos prados da antropologia audiovisual, mas também para aqueles que se aventuram na disciplina antropológica. É com justiça, portanto, que finalmente vem à luz a tradução da obra Antropologia & Cinema: Passagem à Imagem, Passagem pela Imagem (2018), na qual o autor refaz os caminhos transversais entre a antropologia e o cinema, trajetória dialética que se deu (e que se dá) nos pontos de contato entre as identidades e as tensões desses conhecimentos. Assim, ele mostra como se estabeleceu o pensamento ocidental a partir da complexa relação com a alteridade, traçando uma retrospectiva crítica e projetando instigantes futuros e caminhos possíveis que precisam, ainda, ser percorridos.
O presente artigo discute a utilização do audiovisual para representar as características e as possibilidades de um musicar local. Ao observar o processo de criação do documentário Um ouvido no fone e o outro na cidade, os(as) autores(as) refletem sobre os usos e as funções da música, bem como sobre o engajamento musical e a relação de escuta dos(as) riders – entregadores(as) de comida por aplicativo. Esses(as) profissionais são brasileiras e brasileiros que moram em Dublin e que têm a música como parte essencial da sua rotina de trabalho. Nesse sentido, nossa questão é: como representar as diversidades e as contradições desse musicar local? Argumentamos que, por meio das etapas coletivas de desenvolvimento e criação desse documentário, os(as) realizadores(as) expressam não apenas o engajamento dos(as) riders com a música, mas também constroem uma representação sensorial do musicar que perpassa as relações de trabalho, de afeto e de localidade.
Resumo: O presente artigo parte de uma experimentação denominada “Mapa visual”, que consiste no capítulo 05 da minha tese de doutorado, intitulada “Dupla imagem, duplo ritual: A Fotografia e o Sutra Lótus Primordial”. O intuito com essa grande montagem é oferecer ao leitor-explorador 28 fotografias referentes ao contexto etnográfico da minha pesquisa, que colocam em relevo as diversas práticas da comunidade budista japonesa HBS. No referido mapa, ressalto a existência de uma elaboração formal na composição de uma espécie de sudoku, que possui o intuito de dar a ver e conhecer os gestos, expressões, poses e performances dos meus interlocutores, estabelecendo, dessa maneira, uma cartografia visual das relações por mim encontradas em campo. Na busca por esse conhecimento sensível e sensorial, o leitor-explorador precisará navegar pelo mapa sem um direcionamento fixo, quase à deriva, sendo convidado a desmontar o quebra-cabeça por mim elaborado, que possui vários níveis distintos, complexos e com lacunas, almejando estabelecer um pensamento “com” e “por” imagens.Palavras-chave: Mapa visual. Montagem. Experimentação. VISUAL MAP: THE DIS(ASSEMBLY) AS AN ANTROPOLOGICAL EXPERIMENTATION Abstract: This article starts from an experiment called “Visual map”, which consists of chapter 05 of my doctoral thesis, entitled “Double image, double ritual: Photography and the Primordial Lotus Sutra”. The purpose of this great assembly is to offer the reader-explorer 28 photographs referring to the ethnographic context of my research, which highlight the various practices of the HBS Japanese Buddhist community. In the referred map, I emphasize the existence of a formal elaboration in the composition of a kind of sudoku, which intends to show and understand the gestures, expressions, poses and performances of my interlocutors. Consequently, a visual cartography of the relationships I found in the field is created. In the search for this sensitive and sensory knowledge, the reader-explorer will have to navigate the map without a fixed direction, almost adrift, being invited to disassemble the puzzle I have created, which has several distinct, complex and gaping levels, aiming to establish a thought “with” and “by” images.Keywords: Visual map. Assembly. Experimentation.
ResumoEste trabalho busca desmistificar o conceito corrente no mundo ocidental e no Brasil a respeito do Budismo, suas práticas culturais (incluindo a arquitetura e disposição física dos Templos) e seus adeptos. O intuito é o de mostrar que esta tradição ultrapassa a noção de "filosofia de vida", se constituindo em uma religião (com história, livro sagrado e diversas subdivisões) que se adapta ao contexto sócio-cultural no qual é inserida. Para tanto, utilizarei como exemplo sintomático a corrente budista japonesa Honmon Butsuryu-shu, através de pesquisa realizada junto a comunidade em questão. Fundada a cerca de 2.500 anos atrás, pelo Buda Shakyamuni (que, no entanto, não tinha o intuito de fundar uma religião), o Budismo é composto por diversas subdivisões, indo além do dueto Zen Budismo e Budismo Tibetano, correntes que estão "na moda" nos países à oeste do globo, inclusive no Brasil.Neste sentido, os adeptos desta religião, sejam fiéis ou sacerdotes (monges), não precisam necessariamente seguir uma vida monástica e ascética (repleta de proibições) para alcançar o ideal budista da Iluminação ou Nirvana. Para esclarecer tal situação, considero como ponto de partida o texto de Alcida Rita Ramos (2012) denominado "O índio hiper-real", no qual a autora nos mostra a relação construída entre os brancos e os índios no Brasil, acentuando que a existência de um modelo de índio mantém "o
No abstract
O que nasceu como uma tentativa de aproximar pesquisadores de diversas áreas, de mobilizar os membros do Conselho Editorial da SertãoCult na elaboração de um material que exprimisse a capacidade da editora em produzir obras com qualidade técnica e com relevância acadêmica, tornou-se um sucesso logo em sua primeira edição. Após o lançamento do volume Diálogos sobre a Ditadura, que reuniu alguns dos maiores pesquisadores sobre a temática no Brasil, e do volume dois, Trajetórias de pesquisadores e os estudos das cidades médias em perspectiva, a série Território Científico chega ao seu terceiro volume, que reúne alguns dos maiores pesquisadores da Antropologia Visual. É com orgulho que apresentamos Trajetórias pessoais na antropologia (audio)visual no Brasil – Volume 1. É gratificante concluirmos mais esta contribuição para a comunidade científica, apresentando as trajetórias de algumas das maiores referências da Antropologia Visual brasileira, que no contexto da pandemia da Covid-19 ficaram tão fisicamente distantes, mas nunca tão próximos, unidos através da tecnologia, que permitiu a troca de experiências com colegas de diferentes regiões do país. E mais: é só o primeiro volume de uma série de três, nos quais são reunidas três dezenas de entrevistas. Estas obras já surgem como referência para aqueles que buscam conhecer a Antropologia Visual. Passados alguns meses da realização das entrevistas, finalmente a pandemia dá mostras de arrefecimento. O isolamento que tanto nos custou, começa a dar lugar a reencontros presenciais e estas entrevistas, mais do que um relato de experiências de pesquisa, passam a compor um registro histórico de como a crise sanitária afetou toda a nossa sociedade. Se a produção científica segue sendo alvo de constantes ataques e aqueles que se dedicam a ela ainda são encarados quase como inimigos do Estado, é mais do que pertinente, mas necessário que todos aqueles que acreditam na educação, na ciência, no conhecimento se unam e abracem projetos que busquem aproximar essa produção e o público em geral. Mais um livro se junta à nossa série, nos deixando ainda mais orgulhosos e empenhados em nossa defesa incondicional da ciência. Que venham os próximos volumes!
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