Se décadas atrás, Lyotard identificou a crise de legitimação política e do conhecimento de então como a crise dos grandes relatos, talvez se possa dizer que a crise atual é uma crise do grande Relator: a crise das humanidades seria, assim, parte mais geral da crise do Humano. Diante do Antropoceno, as ciências do homem (as antropologias) têm como um dos seus desafios converterem-se em humanidades, isto é, especular sobre as definições de homem e mundo, descobrindo outras humanidades e mundos. Aqui, a literatura, entendida a partir de Juan José Saer como uma “antropologia especulativa”, pode revelar-se uma linha de fuga: diante do contingenciamento econômico das humanidades, ela apresenta a contingência ecológica desse modelo de mundo. This work is licensed under a Creative Commons Attribution 3.0 License.
Diante da catástrofe ambiental em curso, o debate sobre os limites (materiais, planetários) vem ao primeiro plano: como lidar com eles?, como agir em relação a eles? O exercício aqui proposto é uma breve e seletiva cartografia de práticas políticas, estéticas e teóricas que, lidas sob o manto de uma noção revisitada de subsistência e da Antropofagia de Oswald de Andrade, constituem estratégias que fogem à alternativa infernal da lógica da lei e do limite, a saber, a opção entre obediência e transgressão, apontando para uma incorporação desmetrificadora do limite e sua conversão em acesso a uma dimensão que desconhece limites.
Resumo O artigo busca desenvolver a noção de obliquação e entender por que a experiência literária parece ser o seu lugar privilegiado, por meio de um movimento duplo, mas conjugado. Em primeiro lugar, trata-se de pensar, através de uma leitura transversal da teoria da enunciação, a obliquação como condição fundamental da reflexividade - que seria, para fazer uso de um jogo de palavras, um reflexo à obliquação. Assim, se em seu curso sobre A hermenêutica do sujeito, Foucault se propunha realizar “uma analítica das formas da reflexividade, na medida em que são elas que constituem o sujeito como tal”, a nosso ver, tal exercício ainda precisa ser complementado por uma ontologia dos modos de obliquação, entre os quais está a experiência literária aqui analisada. Em segundo, levando isso ao paroxismo, tentaremos argumentar, fazendo um livre uso do conceito de objetos transicionais, que a obliquação precede e até mesmo possibilita a ocupação do próprio lugar, ou seja, de que há um privilégio ontológico da ficção, do outrar-se, sobre a própria subjetividade.
Resumo O mais conhecido dos aforismos do Manifesto Antropófago lançava uma questão, Tupi or not tupi?, que terminou por ser obliterada pela sua conversão em lema identitário. O que nos propomos aqui é mapear o quadro de referências no qual ela se insere, os debates nos quais ela intervém, e, especialmente, como ela se conecta a diversas a fontes antropológicas do Manifesto, de maneira a restituir o seu caráter de uma questão eminentemente indígena, um modo de questionar visões e apropriações nacionalistas e identitárias dos povos indígenas.
Resumo: Em A paixão segundo G.H., a protagonista do romance de Clarice Lispector passa por uma transformação que é também uma metamorfose do mundo. Adentrando uma hiper-temporalidade em que passado e futuro se confundem, G.H. alcança uma zona da existência regida pela promiscuidade e reciprocidade dos seres: um hetairismo ontológico, poder-se-ia dizer, na esteira de Bachofen e sua releitura por Oswald de Andrade. O artigo busca passar em revista essa experiência-limite, propondo o conceito de "obliquação" (inspirado em uma passagem de Água viva) como chave de leitura tanto da forma quanto da matéria narrativas de A paixão segundo G.H. e outras narrativas de Clarice. Palavras-chave: hetairismo; obliquação; metamorfose. Abstract:In A paixão segundo G.H., Clarice Lispector's famous character undergoes a transformation that is also a metamorphosis of the world. By entering a hyper-temporality, in which past and future commingle, G.H. arrives at a zone of existence reigned by promiscuity and reciprocity of beings: an ontological hetaerism, it could be said, following Bachofen and Oswald de Andrade. This paper seeks to review such boundary experience, proposing the concept of "obliquation" (inspired in a passage of Água viva) as an interpretative key of both narrative form and matter of A paixão segundo G.H. and other of Lispector's narratives.
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