As práticas linguísticas têm sido vistas através de enquadramentos – como a translinguagem, mistura de códigos, superdiversidade e o metrolinguismo – motivados pela intenção de capturar algumas das diversidades sociolinguísticas contemporâneas, ou capturar as diversidades que ocorreram historicamente – entretanto perdidas por causa dos quadros analíticos usados – sublinhando a necessidade de expandir os “repertórios epistemológicos”. Este artigo segue essa lógica de busca por expandir repertórios epistemológicos analíticos para descrever as diversidades sociolinguísticas, tendo como foco contextos sócio históricos da África, analisando como as línguas indígenas, foram apropriadas como primeiras línguas por falantes africanos, bem como explora as implicações de uma perspectiva linguística humana, no planejamento linguístico.
Este texto traz reflexões acerca das atitudes linguísticas oficiais dos Estados de Angola, Brasil, Moçambique e Timor-Leste frente à divulgação de informações sanitárias relativas à pandemia de COVID-19. Trata-se de perceber como as políticas linguísticas institucionais veiculam informações em respeito aos direitos linguísticos humanos dos povos multiculturais e multilinguísticos que habitam os territórios analisados. A partir do depoimento de professores nativos de cada uma das nações abordadas, percebe-se que nem sempre a língua materna dos cidadãos é utilizada nas comunicações oficiais, as quais, preferencialmente, circulam em português. Tendo em conta o que advoga a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Declaração Universal dos Direitos Linguísticos, é possível entender que não ofertar informações essenciais para a sobrevivência em situação pandêmica na língua materna dos indivíduos é uma forma de ferir as Declarações, negando o direito à língua e à vida.
Neste artigo, objetivamos refletir sobre a discursivização da lusofonia como um projeto integrador da diversidade cultural e linguística dos países lusófonos, problematizando como o ensino de língua portuguesa promove um ensino decolonial (MIGNOLO, 2011). Na perspectiva integracionista (HARRIS, 1998), defendemos uma visão de linguagem integrada aos contextos de uso assumindo a língua como prática social e pensando na internacionalização da língua portuguesa num projeto plural e integracionista. No âmbito universitário brasileiro, apresentamos algumas ações institucionais promovidas pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira que contribuem para a construção de uma educação linguística integracionista. Igualmente, discutimos o ensino de língua portuguesa no cenário político-linguístico do curso de Letras dessa universidade na perspectiva de letramentos ideológico (STREET, 2014), antirracista (NASCIMENTO, 2019) e de resistência (SOUZA, 2011). Concluímos que ainda há um longo percurso para criação e manutenção de políticas públicas que assumam o compromisso com um Ensino Superior integracionista e democrático.
As “Comunidades Imaginadas” constituem parte de um projeto político que inventa tradições, discursiviza sobre as línguas, formata indivíduos, identidades e saberes coloniais. Este trabalho analisa imagens produzidas sobre o Timor português, à luz dos estudos da sociologia das imagens em diálogo com a análise de enunciados presentes em publicações e documentos coloniais, verificando a construção verbo-visual do sujeito colonial timorense. Percebe-se que língua e imagem são parte do dispositivo colonial de poder da empreitada colonial portuguesa que reforçam políticas coloniais de Portugal no incentivo à causa “civilizatória” e estabelecendo uma “necessidade” ou “benefício da civilização” junto aos sujeitos coloniais, o que caracteriza uma relação de dádivas. O discurso dominante apaga marcas da violência colonial e silencia o discurso subalternizado, reforçando as ações das políticas linguísticas coloniais em prol de um colonialismo linguístico.
http://dx.doi.org/10.5007/1984-8420.2015v16n2p139As turbulências históricas e políticas vivenciadas em Timor-Leste motivaram uma decisão política estatal pela co-oficialização da língua portuguesa no pequeno país multilíngue asiático. Esta decisão, no entanto, embora pretenda caracterizar o país como lusófono “de direito”, configura a criação de uma “comunidade imaginada” lusófona (ANDERSON, 2008) uma vez que as políticas linguísticas “de fato” revelam que a língua portuguesa está longe de constituir uma unanimidade nas práticas cotidianas, ocupando um lugar exógeno e distante para muitos indivíduos timorenses. As relações de poder em suas instâncias macro e micro (FOUCAULT, 1997) produzem a emergência de uma língua que atenda interesses diversos, cumprindo inclusive papel segregante e uma hierarquização linguística. A reflexão proposta por este trabalho consiste na problematização acerca da presença do idioma lusitano em Timor-Leste e as tensões produzidas pelas relações de poder e pelos discursos conflitantes em defesa (ou não) do idioma. O corpus de análise consiste, além da base documental oficial de Timor-Leste, de depoimentos (oficiais e não oficiais) de cidadãos timorenses, pertencentes a diversos grupos sociais, coletados em trabalho dos pesquisadores no país. O que se percebe é que Timor-Leste vive um dilema causado pelas questões institucionais sobre o projeto de uma lusofonia forçada o que faz com que os timorenses, em maior ou menor escala, vivenciem um apagamento de línguas, culturas e vozes nas políticas de língua adotadas.
RESUMOO presente artigo busca discutir a relação entre a língua portuguesa e a formação de uma elite política na República Democrática de Timor-Leste (RDTL), a dos presidentes da república do período democrático. Trata-se de verificar como a língua portuguesa contribui para a constituição dessa elite após a guerrilha de resistência contra a Indonésia, bem como analisar possíveis contribuições que as relações estabelecidas pela língua (também relações de poder) trazem para a produção de um discurso favorável à presença da língua portuguesa no país. Para tanto, são analisadas as biografias oficiais três presidentes timorenses, a partir das quais um debate interdisciplinar é desenvolvido. De um lado, estudiosos da teoria das elites e da sociologia do poder, tais como Bourdieu (1983, 1989, 2015), Saint-Martin (2008) (2003), permitem um entendimento pontual sobre discursos produzidos sobre a língua. O que se percebe é que a língua portuguesa, tal como aconteceu em outras ex-colônias lusitanas, foi acessada por uma pequena elite local de timorenses que possuíam contato direto com a metrópole e depois, dadas as circunstâncias políticas e de guerra que o país asiático vivenciou, a língua foi discursivizada como artefato político, constituindo um projeto nacionalista lusófono que nem sempre corrobora com as dinâmicas linguísticas do cotidiano.
Palavras-chave: Lusofonia. Elites Timorenses. Políticas Linguísticas
ABSTRACTThis article aims to discuss the relationship between the Portuguese language and the formation of a political elite in the Democratic Republic of Timor-Leste (RDTL), the presidents of the republic in the democratic period. It is a question of verifying how the Portuguese language
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.