IntroduçãoEscrito quando se desenhava a polêmica decisão de Elizabeth I (1530-1603) de definir a sucessão do trono inglês para James VI da Escócia, o tratado Basilikon Doron (1599) 1 foi concebido como um livro de aconselhamento de pai (rei) para filho (príncipe). O título do tratado é uma latinização do grego Basiliko\ n Dῶron, que significa "Dom Régio", ou seja, o dom de governar do rei. Em chave teológica protestante, isso equivale ao chamado divino que confere aos reis o dom de governar (Royal Gift em inglês). No entanto, para além de ser um manual ou espelho para um jovem príncipe, esse tratado serviu também como meio editorial de propaganda política favorável a James na Inglaterra, pois resumia a sua visão sobre pontos polêmicos, tais como: a "ameaça interna puritana", a ortodoxia da igreja episcopal e a "ameaça externa papista".Assim, além das repisadas tópicas erasmianas da ética de governar, 2 a figuração de James no discurso do tratado expõe o que deveria ser entendido como a sua visão sobre os seguintes assuntos: a origem divina da autoridade régia; a importância da sucessão hereditária do trono como meio de estabilidade política, o que significava evitar qualquer tipo de fator ou comportamento que pudesse conturbar a linha sucessória masculina do trono; a importância de se superar diferenças religiosas em matérias consideradas superficiais ("indiferentes") sobre liturgia e doutrina de fé, de modo a se valorizar o que seria considerado os fundamentos centrais de uma religião reformada; a ameaça à ordem interna pelos críti-cos puritanos rigoristas, entendidos como contrários à infalibilidade da Bíblia em nome da iluminação da consciência ("religião da luz interior"), o que conduzia a atitudes irreverentes em relação à autoridade régia e aos seus oficiais (civis ou eclesiásticos).Desde o início da Reforma, doutos protestantes como Lutero (1483-1546) e Calvino (1509-1564) tiveram de lidar com consequências indesejadas de suas ideias relativas à fé interior e à eleição: a autoconfiança exagerada da eleição e uma concepção radical da liberdade do cristão. De forma geral, aquele que se considera eleito sente que a graça divina é tudo que o distingue. A forma radical desse senso de autoconfiança e dignidade espiritual poderia criar uma espécie de "aristocracia espiritual" a qual poderia, no limite, contestar a propriedade, a submissão reverente à aristocracia mundana e a igreja episcopal.3 Portanto, a forma radical do senso de dignidade dos eleitos poderia colocar em risco a visão estática de mundo da igreja episcopal, assim como muitos dos dispositivos de controle social emergidos durante as reformas elisabetanas, como os tribunais eclesiásticos e a proibição de que os leigos pudessem pregar. 4 Na racionalização teológico-política proposta em Basilikon Doron, a instabilidade provocada pelos puritanos rigoristas às instituições religiosas, sociais, jurídicas e políticas abria brecha para a entrada de influências papistas. Portanto, o seu discurso nivela e interliga as duas ameaças, pois ambas são entendida...
RESUMOOs estudos pós-revisionistas sobre reformas religiosas inglesas têm focado as novas possibilidades de interpretação dos loci sociais, culturais e políticos de negociação da matéria religiosa na literatura e história da Inglaterra Reformada, evitando abordagens polarizadas whiggistas e revisionistas a respeito da história literária das reformas inglesas. Nesse sentido, este artigo aborda a materialidade textual do in-quarto de 1600 (Q1) de O mercador de Veneza como um evento que localiza negociações e expectativas culturais e políticas a respeito da conformação à religião oficial na Inglaterra elisabetana. Este artigo analisa especificamente a presença dos recursos retóricos no Q1 que figuram as ameaças 'puritanas' e 'papistas' à realeza sagrada, incluindo o estudo do uso dos temas da iconoclastia do mérito, da melancolia, da amiticia e da caritas na caracterização dos personagens principais. Palavras-chave: Inglaterra; religião; drama; antipuritanismo; anticatolicismo. ABSTRACT Post-revisionist English Reformation studies have focused on new interpretation possibilities of social, political and cultural loci to religious negotiations in post-Reformation English History and Literature, avoiding Whiggist and revisionist polarized approaches to the Literary History of English Reformations. This article deals with the textual materiality of The Merchant of Venice (Q1, 1600) as an event that locates cultural and political negotiations, and expectations, regarding religion conformity in Elizabethan England. It especially intends to analyze the rhetorical motives used in Q1 to represent menaces to sacred kingship, and to figure its adversaries (namely 'Puritans' and 'Papists'), also including a study of propositions about iconoclasm of merits, melancholy, amiticia and caritas on the ways of fashioning the main characters' manners.
IntroduçãoEm minha pesquisa de doutorado, 1 tratei 'Shakespeare' como um nome que autoriza uma tradição editorial de textos, para os quais não me propus identificar uma linguagem ou empréstimos lingüísticos que os singularizassem como um corpo autoral, pois definir o que é singular demanda comparação -e, logicamente, equivalência de recursos e fontes para tanto. Nesse sentido, o mais difícil ao propor uma sociologia histórica para peças associadas ao nome 'Shakespeare' é justamente vencer o hábito de entendê-lo como um autor individualizado e genial, como uma espécie de demiurgo de uma linguagem própria. Frente a tal desafio, o objetivo principal deste artigo é propor uma perspectiva de análise que apresente as peças associadas ao nome 'Shakespeare' como um evento social-institucional contingente, à luz das discussões existentes sobre crítica editorial, materialidade textual e práticas de publicar livros entre os séculos XVI e XVIII.A ênfase analítica no caráter contingente da associação editorial do nome 'Shakespeare' às peças que o monumentalizaram a partir do fólio de 1623 é uma forma deliberada de romper com o cânone autoral construído desde a crítica literária romântica de finais do século XVIII, quando muitas peças associadas ao seu nome começaram a ser lidas, particularmente pelo movimento Sturm und Drang, como exemplos excelentes de oposição estética e temática ao paradigma clássico francês, aceito e adotado como regra eterna pela elite nobre alemã. Assim, se efetivamente operarmos um olhar externo à perspectiva analítica romântica, alguns enunciados ou apelativos de valor nos frontispícios das peças impressas e associadas ao seu nome entre 1594 e 1637 deixarão de ser entendidos como se fossem regidos pela preocupação de preservação de uma "integridade intelectual-textual de Shakespeare".Tal perspectiva desemboca na crítica que desenvolvo a respeito do projeto editorial The Oxford Shakespeare, de Stanley Wells, pois demonsTopoi, v. 9, n. 16, jan.-jun. 2008, p. 191-232.
RESUMO:Atualmente, podemos observar uma verdadeira explosão de novas possibilidades de fontes para os estudos da história. De todo este universo, é sobre as imagens em ação que pretendo me deter. A partir da análise comparativa do plano expressivo e do desenvolvimento de enredo de três filmes norte-americanos dos anos de 1990, proponho demonstrar como é possível desenvolver o tema do enlace histórico entre Neonazismo e Neoliberalismo.
RESUMO.Este ensaio pretende criticar alguns pressupostos conceituais implicados em abordagens sobre a formação do Estado que o inscrevem numa teleologia de modernidade institucional. Ao final, apresento uma breve crítica ao conceito 'economia política das mercês', demonstrando o quanto se torna desnecessário para a compreensão do funcionamento da soberania, autoridade, administração pública e relações sociais no Antigo Regime.Palavras-chave: estado, antigo regime, controvérsia.ABSTRACT. Some implications of Modern in Modern State. This essay intends to criticize some constructs which determinate approaches that focus the making of State in the Early Modern Europe on teleological interpretative keys of institutional modernity. At the end, I show a short critical approach that demonstrates how 'political economy of gratia' becomes utterly unnecessary to an historical understanding of the functions of sovereignty, authority, public administration and social relations in the Ancient Regime.Keywords: state, ancient regime, controversy. IntroduçãoNeste ensaio, gostaria de apresentar, sucintamente, algumas contradições na racionalização historiográfica sobre o tema Estado Moderno. A díade conceitual 'Moderno e Estado' parece tão consolidada e habitual nas Ciências Humanas que mal paramos para refletir sobre o fato de que faz parte de uma construção historiográfica recente, implicada com uma noção de tempo linear e evolutiva -o que significa intolerante com a simultaneidade de outros regimes de tempo e outras formas de razão -, assim como, está implicada com uma concepção de preparação do advento da soberania nacional. Então, neste ensaio, importa não nos deixarmos intimidar por sanções pedagógicas herdadas do liberalismo europeu institucionalizado ao longo dos séculos XIX e XX e, assim, jogar com algumas de suas categorias visando a transgredi-las. É este convite que faço ao leitor.Para tanto, um passo importante consiste em quebrantar o encanto das categorias de modernidade projetadas teleologicamente para Europa entre os séculos XV e XVIII e, deste modo, buscar examinar a experiência singular das dinâmicas institucionais e sociais do poder político no mundo europeu e colonial anterior ao liberalismo. Este exercício de alteridade histórica é importante para que evitemos hierarquizar sociedades e épocas em função do advento da modernidade, o que empobreceria a análise ao reduzi-la ao inventário (teleológico) dos graus de avanço ou atraso em relação a um único paradigma de Estado, tempo, razão e soberania.Ora, que categorias de modernidade institucional são recorrentemente acionadas quando se trata do tema Estado Moderno? Resposta: unificação territorial conjugada à uniformização de leis, códigos e regimes jurídicos; secularização do poder político, geralmente associado ao tema da Razão de Estado; centralização do poder político conjugada à construção de uma soberania unilateral e externa à lógica corporatista de constituição de vínculo de interdependência social e política; monopólio da violência pelo poder soberano co...
RESUMO.Este ensaio apresenta um estudo de caso da representação cultural das relações afetivas em quatro filmes norte-americanos, à luz da transformação das relações entre capital e trabalho da era do capitalismo flexível às vésperas da década de 90. Deste modo, a partir da abordagem do drama comparado, a análise dos quatro filmes aqui escolhidos possibilitará o inventário de expectativas culturais e comportamentais de um contexto específico de construção de discurso cinematográfico. Todavia, este ensaio foca-se, fundamentalmente, no modo conformista como cada filme é analisado, ao evitar abordagens centradas em luta de classe, julga, expõe e/ou propõe reações e relações afetivas, valores, ideias e formas de pensar, sentir e se comportar, com mais ou menos eficácia social, em face ao mundo do trabalho e das dinâmicas sociais do capitalismo pós-fordista nos EUA.Palavras-chave: cinema, EUA, configuração social, capitalismo pós-fordista. The social figuration of affective (dis)connections, in four American movies, on the light of labor market flexibility context, 1987-1993ABSTRACT. This essay intends to show a case study of the cultural representation of affective relationships in four American movies on the eve of 1990s, considering USA's contextual roads to the flexible labor market. The comparative drama approach works to us as a way of analyzing cultural expectations and values through movie discourses. As we know, movies can do judgments, (re)presentations and/or propositions on specific contexts and institutions, exposing their values, behaviors, thoughts, dreams and contradictions. So, I have proposed that the four American movies chosen here have avoided class struggle approaches and have represented conformist values -and affective expectations of learning and behavior -that endure American social dynamics of post-fordist capitalism.
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