O presente artigo propõe uma leitura abrangente de um panorama acerca da complexidade que envolve os sentimentos de pertença e identidade em um mundo onde os deslocamentos humanos têm crescido de forma vertiginosa. Diante da realidade de milhões de refugiados e tantos outros milhões de pessoas que partem de forma voluntária de seus países de origem em busca de melhores condições de vida e trabalho, criando cenas que acabam chocando a opinião pública mundial, como conceber o futuro? Partindo dessa premissa, iremos abordar em quatro subitens reflexões sobre identidade, pertencimento, Estadonação, refúgio, os fluxos migratórios mais recentes para o Brasil e o quadro atual dos deslocamentos humanos no mundo globalizado.
A PARTIR de um caso extremamente elucidativo da problemática a ser levantada pelo livro que Rossana Rocha Reis expõe quão delicada e conflituosa é a questão que permeia o universo das migrações internacionais na contemporaneidade, especialmente daquelas correntes migratórias provenientes de países em desenvolvimento ou tidos como mais pobres em direção a países mais ricos ou industrializados. Políticas de imigração na França e nos Estados Unidos (1980)(1981)(1982)(1983)(1984)(1985)(1986)(1987)(1988)(1989)(1990)(1991)(1992)(1993)(1994)(1995)(1996)(1997)(1998) é um livro altamente instigante e revelador de um mundo em plena mudança nesta época de globalização, e de reestruturação de um novo sistema internacional relacionado ao cenário do pós-guerra fria.Chama-se Tampa o navio cargueiro -de bandeira norueguesa -que resgata 438 pessoas à deriva em um barco indonésio em alto-mar, nas proximidades da costa australiana. O que há de especial nesse resgate em alto-mar? O barco indonésio estava carregado de pessoas vindas do Afeganistão, em sua maioria, e alguns outros do Sri Lanka e do Paquistão. Estavam tentando chegar à Austrália. Depois do naufrágio e do resgate pelo Tampa, um polêmico impasse se estabelece: a Austrália se recusa a recebê-los alegando que a "carga" presente no navio pertence à Noruega (bandeira do navio) ou à Indonésia. A Indonésia, por sua vez, recusa-se a recebê-los num primeiro momento, colocando, aliás, o exército em seus portos para impedi-los da entrada no país. A imprensa se divide É ao chamá-los de refugiados, por vezes, e de imigrantes ilegais, por outras. E os passageiros -a "carga" -, coroando a condição de absurdo que se instala, decidem pela recusa de retorno à Indonésia, quando essa aceita por fim recebê-los, e optam por uma greve de fome a fim de demonstrar a seriedade dessa recusa. Como bem descreve a autora ao descrever essa passagem histórica verdadeira (o acontecimento se dá no ano de 2001) como metáfora do que discutirá ao longo do livro: "Durante uma semana, o navio Tampa permaneceu no mar, vigiado pela marinha australiana, e impedido de atracar em qualquer lugar do mundo".A questão que envolve a delicada polêmica reflete a condição de boa parte dos fluxos migratórios contemporâneos: centenas de milhares de pessoas desejosas de mudarem-se geograficamente em busca de um lugar onde suas condições de vida não estejam ameaçadas, ou onde possam conseguir melhores meios de sobrevivência, ou até mesmo o simples desejo da busca pela felicidade (na clás-sica versão norte-americana dos direitos e virtudes formadoras da nação… "the pursuit of hapiness"). O que as impede de realizar tal desejo ou, no caso de sua realização, as coloca sistematicamente dentro de situações de irregularidade? A dicotomia contemporânea entre o direito à liberdade de locomoção e sobrevivên-cia digna do indivíduo e a questão da soberania dos Estados. É precisamente esse o debate colocado pelo livro que, por meio de dois exemplos magnânimos de
<p>Este artigo analisa os processos identitários vivenciados pelos imigrantes japoneses no Brasil no século XX, ressaltando o período de privações e discriminações enfrentadas por eles durante a Segunda Guerra Mundial. A marginalização dos japoneses acarretou a união desses imigrantes em torno de associações de caráter ultranacionalistas, como a Shindo Renmei. Essa conjuntura fortaleceu ainda mais o sentimento de ser um japonês que vive no Brasil, mas é um súdito fiel e leal às autoridades japonesas. Décadas mais tarde, quem perderia a guerra – dessa vez econômica – seria o Brasil, e os descendentes de japoneses viviam o fluxo inverso de seus pais e avós. Contudo, enquanto no Brasil são tratados como “japoneses”, no Japão vivem a estranha experiência de serem brasileiros com “cara de japonês”. O artigo está alicerçado em pesquisas teórico-empíricas das autoras que trazem à tona questões relevantes, como o impacto das restrições, censura na formação de identidades e o dinamismo do sentimento de pertencimento, que molda-se de acordo com o contexto histórico que o representa.</p><p> </p><p> </p>
O presente artigo discute alguns aspectos dos recentes fluxos migratórios que o Brasil vem recebendo ao longo dos últimos anos, com atenção especial à imigração haitiana. Evidencia-se que, mesmo o Brasil garantindo acordos de residência a migrantes de diversas nacionalidades e proporcionando visto humanitário aos haitianos, existem lacunas e contradições importantes sobre essa questão: de um lado, facilita a entrada das pessoas no país, de outro, dispõe de uma desorganização na implementação de políticas públicas que possam garantir estruturas de acolhida e inserção. Nesse sentido, procuramos compreender, a partir de uma análise particular na cidade de São Paulo, os processos de acomodação de imigrantes haitianos que saem de uma situação de moradia temporária na região central da cidade para habitarem em bairros periféricos, no caso desta pesquisa, em Guaianases. O estudo do contexto da organização desses migrantes neste bairro pode nos permitir participar do esforço feito por parte importante do campo das humanidades hoje de entender o lugar da diferença e da alteridade no mundo contemporâneo, podendo também representar uma projeção do vem ocorrendo em outros centros urbanos do país.Ainda, dialoga diretamente com o problema das novas diásporas e seus múltiplos desdobramentos nos ordenamentos legais e nos contextos locais.
Antes mesmo da divulgação de um Brasil que reside em Miami/Estados Unidos através da novela “América”, nos arredores de universidades e centros acadêmicos, estudos sobre esta mesma população já estavam sendo realizados através de pesquisadores diversos. O artigo que segue versa justam entre sobre um destes estudos, realizado durante os anos de 2001 a 2004, quando eu, então aluna do doutorado da Unicamp, aventurei-me enquanto “imigrante” pela América. [...]
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