RESUMO OBJETIVOS. Avaliar a correlação entre o número ideal de filhos (NIF) e o arrependimento pós-laqueadura. MÉTODOS. Foi realizado um estudo de caso-controle aninhado a uma coorte. De um total de 3878 mulheres entrevistadas na coorte, 1012 estavam laqueadas no momento da entrevista do estudo original e constituíram a amostra deste estudo. Consideraram-se como arrependidas e se constituíram nos casos as mulheres que referiram que, nas mesmas circunstâncias, não voltariam a fazer a laqueadura (103 -10,8%). O NIF foi categorizado de acordo com sua relação com o número de filhos vivos (NV): NIF > NV e NIF < NV. Calculou-se a proporção de mulheres arrependidas e estimou-se o risco de arrependimento conforme a relação NIF/NV por meio de odds ratio com os respectivos intervalos de confiança (IC) de 95%. Posteriormente, estratificou-se a análise pelas variáveis de controle. Realizaram-se dois modelos de regressão logística múltipla para identificar os possíveis fatores de risco para o arrependimento pós-laqueadura entre as mulheres com NIF > NV. RESULTADOS. Evidenciaram-se como fatores de risco independentes para o arrependimento pós-laqueadura o NIF > NV (OR 12,7), fazer a laqueadura com a intenção de esperar um tempo para ter mais filhos (OR 8,0) e ter tido mais de dois partos (OR 2,4). CONCLUSÃO. Os dados do presente artigo sugerem que a avaliação prévia do NIF poderia auxiliar na identificação de um grupo de mulheres com maior risco para o arrependimento pós-laqueadura.UNITERMOS: Número ideal de filhos. Arrependimento pós-laqueadura. Planejamento familiar. 4 . O crescimento da prevalência da esterilização cirúrgica feminina se deu em um contexto de pouca oferta e acesso aos métodos anticoncepcionais no Brasil, embora o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) tenha sido adotado oficialmente pelo governo em 1983, estabelecendo, entre outras coisas, que a disponibilidade e o acesso aos meios de regulação da fecundidade eram essenciais para o atendimento integral à saúde das mulheres 5,6 . Essa deficiência tem produzido uma demanda não atendida de anticoncepção, que pode ser verificada, por exemplo, quando se estudam os resultados da última Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde 1 e verifica-se que, entre as mulheres com mais de três filhos, o número ideal de filhos (NIF), em média, foi sempre inferior ao número observado de filhos. Nessa situação, é freqüente as mulheres se submeterem à esterilização cirúrgica com um número de filhos superior ao que desejariam ter tido 7 . Durante muitos anos a esterilização feminina foi feita, de certa forma, na "clandestinidade", uma vez que a regulamentação para sua prática só ocorreu no final da década de 90 com a Lei Ordinária nº 9263, de junho de 1996 8, 9 . Essa situação contribuiu para que a laqueadura fosse realizada de maneira indiscriminada em mulheres jovens e com poucos filhos, associando-se ao crescimento nas taxas de cesariana e à cobrança, por alguns médicos, de um pagamento adicional, "por fora", para que o procedimento fosse realizado 1,3,1...