Voz do ator: associação entre sintomas vocais e hábitos de vida

Abstract

RESUMO Objetivo Analisar a ocorrência de sinais e sintomas vocais em atores e associá-los a seus hábitos de vida e frequência ao trabalho, verificando a existência de uma relação funcional entre as variáveis. Métodos Pesquisa retrospectiva, que utilizou banco de dados coletados por meio de formulário on-line. Os dados referentes à presença autorreferida de sinais e sintomas vocais, hábitos de vida e frequência ao trabalho de 100 atores, que responderam ao questionário denominado Condições de Produção Vocal do Ator, foram analisados de forma descritiva e inferencial (associação entre essas variáveis: teste do Qui-quadrado e p<0,05). Resultados Pouco mais da metade dos participantes era do gênero masculino, maioria de solteiros, com ensino superior completo, exercendo mais de uma atividade de uso vocal. Os sintomas vocais mais referidos foram pigarro, garganta seca, voz grossa e tosse seca, enquanto que os hábitos citados foram ingerir bebida alcoólica, acordar à noite e não evitar algum tipo de alimento. Na análise de regressão, observaram-se associações como fatores protetores: evitar consumir alguns alimentos, para tosse seca, não fumar, para tosse com secreção, acordar descansado, beber água, para ardor na garganta e ter atividades de lazer, para falta de ar. Conclusão Isoladamente, os atores apresentaram sintomas vocais decorrentes do uso inadequado da voz e de seus hábitos de vida. Nas associações, a significância entre alguns hábitos de vida e a presença de sintomas vocais foi registrada, bem como a ausência de determinados hábitos de vida em alguns atores, como protetores para a presença de sintomas vocais.

Relação entre risco de disfonia e qualidade vocal em estudantes de artes cênicas

“…Outras propostas de investigação de fatores relacionados à voz do ator foram realizadas, mas não foi encontrado na literatura similaridade quanto à forma como esses aspectos foram apresentados no protocolo utilizado nesta pesquisa. (Goulart;Vilanova, 2011;Souza, 2016;Vilanova et al, 2016;Ferreira et al, 2019). A auto avaliação vocal é muito valorizada na clínica vocal, pois consegue captar a percepção do paciente em relação à sua voz (Bicalho et al, 2010).…”

“…Na amostra estudada a pontuação mínima obtida demonstrou que mesmo em menor frequência e/ou quantidade houve presença de algum sintoma; e o valor máximo obtido para essa amostra não atingiu metade da pontuação máxima. Ferreira et al, 2019 encontraram alta prevalência na autorreferência de sintomas vocais em atores profissionais. A pesquisa de sinais e sintomas faz parte da avaliação em diferentes propostas, na literatura os protocolos mais utilizados com atores profissionais e estudantes são o Vocal Tract Discomfort Scale (VTD) (Mathieson et al, 2009;Luyten et al, 2016), e a Escala de Sintomas Vocais (ESV) (Moreti et al, 2014).…”

“…Assim como na presente pesquisa, nos estudos com atores é comum observar o uso da voz em outra profissão ou atividade, além da atuação (Goulart;Vilanova, 2011;Ferreira et al, 2019). Essa prática pode ser explicada porque muitos possuem dificuldade em se manter financeiramente com dedicação exclusiva à atuação, muitas vezes devido à instabilidade do mercado de trabalho e à falta de valorização da profissão (Souza, 2016).…”

“…A minoria dos participantes ficou afastada do trabalho ou das aulas de atuação por causa da voz. Assim, como o estudo que verificou que a presença de sinais e sintomas vocais pode comprometer a apresentação, mas não necessariamente o ator ausenta-se, pois, realizar o espetáculo é muito importante e ele encontra maneiras de desviar das dificuldades vocais (Ferreira et al, 2019). Deste modo, o resultado encontrado mostra que a importância de atuar mesmo diante de sintomas vocais pode estar presente nessa população desde quando são estudantes.…”

“…No que se refere ao fumo, ao consumo de álcool e drogas os resultados demonstraram que houve maior proporção de participantes que não fumavam, não utilizavam drogas ou faziam uso esporádico (anual ou semestral), e a maioria possuía o hábito de consumir bebida alcoólica. Tais achados combinam com estudos anteriores com estudantes e/ou atores profissionais Ferreira et al, 2019;Duarte, 2019), mas assim como nesta pesquisa não foram explorados dados mais específicos sobre a quantidade e a frequência, por isso há a sugestão de análises mais detalhadas em outras pesquisas (Ferreira et al, 2019). Importante investigar principalmente a ingesta de bebida alcoólica, que tem sido mais frequente nesta população.…”