DOSSIÊ
REPRESENTAÇÃO POR ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL NO BRASIL E NA ARGENTINAQuão bem as organizações da sociedade civil (OSCs) representam os cidadãos? No contexto da crise dos partidos políticos na América Latina e em boa parte do mundo democrático, essa pergunta tem se tornado particularmente relevante. Este artigo indaga se organizações da sociedade civil (OSCs) podem desempenhar, e se de fato desempenham, a função essencial de representação nesses tempos de crise partidária. Em especial, investigamos a seguinte hipótese de crise de representação: de que "cidadãos, em todo o mundo, trocaram formas mais antigas e tradicionais de representação, como partidos políticos e sindicatos, por 'novos' modelos, como movimentos sociais, grupos informais de cidadãos e organizações não governamentais (ONGs)" (Chandoke, 2005, p.308;Bartolini;Mair 2001;Lawson;Merkl, 1988;Lawson; Poguntke, 2004;Pearce, 2004). Para tanto, examinamos práticas recentes de representação no Brasil e na Argentina, dois países em que os partidos políticos têm passado por fortes crises, após décadas de reações mistas aos seus sistemas partidários. Em momentos como esses, a substituição de partidos por OSCs deveria ser muito evidente. Como demonstramos a seguir, a crise partidária argentina era consideravelmente mais profunda que a brasileira; pela hipótese de crise de representação, portanto, deveria haver mais provas de uma troca por formas não-partidárias de representação na Argentina.Começamos por um exame teórico a respeito de como as OSCs podem desempenhar a função de representação, usando o modelo de representação partidária como guia. Sobre a relação entre representação partidária e de OSCs, perguntamos: é complementar ou concorrente? Nas próxi-mas seções empíricas, caracterizamos a natureza das recentes crises partidárias nesses dois países,