O presente trabalho é resultado de um estudo que tem como objetivo primário investigar o modo como acontece a indeterminação do sujeito por meio das formas gramaticalizadas você e a gente no Português Culto e Popular falado de Vitória da Conquista - BA. Pretendemos, aqui, ampliar a abordagem acerca do fenômeno em questão, verificando como, em seus processos de mudança via gramaticalização, as formas você e a gente adquiriram a função de indeterminar o sujeito, considerando a influência de variáveis linguísticas (superestrutura textual, mudança ou manutenção do referente e tempo verbal) e extralinguísticas (sexo, faixa etária e grau de escolaridade) no processo de escolha do falante por qualquer uma das formas de indeterminar supracitadas. Para dar conta desses objetivos, ancoramo-nos na orientação de pesquisa sociofuncionalista, que resulta da junção de pressupostos teóricos-metodológicos de duas correntes linguísticas: a Sociolinguística e o Funcionalismo Norte-Americano, formando, assim, o Sociofuncionalismo. A amostra usada é composta por 24 entrevistas extraídas dos corpora de Português falado de Vitória da Conquista -BA (corpora PPVC e PCVC) e os dados localizados passaram por análise estatística probabilística por meio do programa GoldVarb X. No processo de análise, foram localizadas 1261 ocorrências das duas formas em posição de sujeito na amostra, sendo 637 delas de sujeito indeterminado. Os resultados obtidos a partir da análise desses dados permitiram inferir que (i) tanto o você quanto o a gente atuam enquanto estratégias de indeterminação do sujeito no Português falado de Vitória da Conquista – BA; (ii) essa atuação sofre influência de fatores linguísticos e sociais; (iii) há contextos específicos em que a função indeterminadora é empregada e outros também específicos nos quais a função prototípica das formas prevalece; (iv) a função de indeterminar, comum às duas formas, é resultado do processo de gramaticalização pelo qual passaram, já que observamos uma relação entre a atuação de princípios como a descategorização semântica e a persistência (típicos da mudança via gramaticalização) e a função inovadora agregada às duas formas, evidenciando o paralelo entre gramaticalização e indeterminação.