RESUMO. Estudos da área de Psicologia indicam a existência de uma correlação entre vitim ização múltipla e maior complexidade na sintomatologia. Contudo, há mulheres expostas à adversidade cumulativa que não desenvolvem problemas de ajustamento psicológico. Este estudo procurou identificar as estratégias de coping pelas quais as mulheres, com e sem sintomatologia depressiva, lidam com a vitimização múltipla que sofreram ao longo da vida. Para tal, recorreu -se a um roteiro de entrevistas semiestruturadas, o qual foi administrado a 30 mulheres com perguntas sobre as suas histórias de vida. Os conteúdos das entrevistas posteriormente foram alvo de uma análise temática, cujos resultados revelam a presença de um coping diversificado, heterogêneo e espontâneo, que se caracteriza por ser essencialmente de tipo ativo (e.g., resolução de problemas, autoconfiança, procura de apoio social). As mulheres com e sem sintomatologia depressiva reportam, sobretudo, estratégias de coping focado no problema face à vitimização. Os resultados reforçam a necessidade de, nos processos de apoio, se identificar e potenciar tais mecanismos de coping ativados pelas vítimas de forma a promover o seu ajustamento psicológico.Palavras-chave: Vitimização múltipla; mulheres; depressão; coping.
FEMALE MULTIPLE VICTIMIZATION: LIFE STORIES, DEPRESSION AND COPING STRATEGIESABSTRACT. Research suggests the existence of a relationship between multiple victimization and greater symptomatology complexity. However, some women exposed to cumulative adversity do not develop psychological adjustment issues. With that in mind, this study aimed to identify women's coping strategies to deal with lifetime multiple victimization. For such a purpose, thirty semi -structured interviews were conducted with women, focusing on their life stories. The content of the interviews was subjected to thematic analysis. Results revealed that these women used diverse and spontaneous coping strategies. In addition, these coping strategies are heterogeneous and can be labeled as active (e.g., problem solving, self-confidence, search for social support). Moreover, women with and without depressive symptoms mostly report problem-focused coping strategies in face of victimization. In conclusion, results reinforce the need, regarding support processes, to identify and promote coping mechanisms spontaneously activated by the victims in order to favor their psychological adjustment