Vistas fotográficas das ferrovias: a produção de registros de obra pública no Brasil do século XIX

Abstract

Resumo O artigo analisa como a engenharia ferroviária articulou-se com a produção de fotografias no Brasil em meados do século XIX. A hipótese é a de que as exigências crescentes na execução de obras e o novo conhecimento cartográfico demandaram mais registros visuais, o que foi suprido e potencializado com o surgimento das técnicas fotográficas. Levantaram-se informações sobre registros fotográficos das estradas de ferro produzidos no Brasil após a década de 1850, a fim de analisar as características dessas imagens. A análise foi aprofundada numa série de fotografias de Marc Ferrez, por ter o maior volume de vistas ferroviárias atualmente acessível, o que possibilitou o reconhecimento de padrões nessas imagens a ponto de identificá-las como “registro fotográfico de obra”.

Expansão da fotografia no interior paulista no começo do século XX

“…Desse modo, além da questão das fontes consultadas, também é necessário rever a bibliografia sobre o tema. Foi possível encontrar grande concentração de pesquisas sobre a cidade de São Paulo ou que têm por objetivo principal a análise da fotografia, como a de Lima e Carvalho (1997); Goulart e Mendes (2007); Lima (1991); Turazzi (1995); Leite (1993); e Oliveira (2018). São pontuais as pesquisas sobre outras cidades e que trazem informações sobre fotógrafos, como a de Ribeiro sobre Campinas (IBGE, 1916, v. 1, p. 345); a de Registro sobre Ribeirão Preto (Idem); a de Costa (2015) sobre Araraquara e a de Cavenaghi (2004) Enfim, progressivamente, o serviço fotográfico passa a integrar de fato não apenas a vida social e os meios de comunicação, mas também as instituições públicas (policial, agrícolas, escolares, sanitárias) e privadas (fazendas, construtoras, fábricas, companhias de ferro).…”

“…Já Muaze (2009), analisa a sociedade através dos retratos produzidos durante a época no Império e Leite (1993) analisa álbuns de famílias imigrantes. Oliveira (2018) analisa as fotografias da construção de estradas de ferro pelo ponto de vista técnico, como fotografia de obra, e Lima e Carvalho (1997) por meio da análise de álbuns comparativos da cidade de São Paulo no início do século XX, constroem um conjunto de descritores icônicos que é referência até hoje. É importante citar ainda alguns autores como Fabris (1991a;1991b;2020), que propõe uma discussão entre as relações do sistema de artes plásticas e o surgimento da fotografia no século XIX, além de pesquisar a fotomontagem no Brasil no início do século XX; Menezes (2003), que traz propostas cautelares para a análise da imagem, partindo da sua visualidade para analisar a sociedade; Mauad (2008), que desenvolve uma abordagem complexa que une a história com a semiótica para analisar as fotografias; e Schiavinatto (2017), que trabalha seus objetos de pesquisa dentro da agenda da Cultura Visual, como, por exemplo, o intelectual e fotógrafo Hercule Florence.…”

“…Assim, este trabalho traz à ciência o nome de alguns fotógrafos que participaram do início do que seria o fotojornalismo em São Paulo, mas esse não era o foco principal das atividades deles no período contemplado nesta dissertação.Outro uso da fotografia era o industrial ou o técnico, em que eram registradas a construção de estradas de ferro ou o início do seu funcionamento. Essas fotos eram encomendadas pelas empresas com o objetivo de acompanhar as obras e para fazer propaganda das empresas(OLIVEIRA, 2018).No levantamento realizado para este trabalho, através do número relevante de fotógrafos encontrados e, quando disponível, das informações sobre as cidades em que trabalhavam, foi possível perceber como a profissão de fotógrafo havia crescido e se espalhado pelo Estado. Sobreo período de 1890 a 1895 foram encontrados 34 registros, sendo 31 fotógrafos e três estabelecimentos que forneciam materiais aos fotógrafos, com os quais alguns deles tinham ligações.…”