Vidas precárias em águas turvas: antropologia colaborativa nas ruínas do Antropoceno

Abstract

O artigo apresenta cinco relatos de experiências de pesquisas colaborativas em contextos de águas turvas e ruínas do Antropoceno. Os contextos são de barragens rompidas e outras em construção, manguezais sofrendo pelas políticas assimétricas de gestão e outros que sofrem pelos empreendimentos de petróleo. Jardins e terra também são contextos que surgem em meio a esses relatos como alternativas e resistências. Em meio às águas de rios, de mares e de manguezais emergem diferentes propostas de experiências de colaboração entre pesquisadores e comunidades, sejam estas de humanos ou não-humanos. Em comum os relatos trazem a importância da reflexividade ao pesquisador, da interdisciplinaridade, da necessidade de métodos inovadores e das práticas de troca dos pesquisadores com as comunidades estudadas e com os públicos que recebem as pesquisas.

Percursos de pesquisas no contexto do desastre de mineração ocorrido em Mariana, no Rio Doce e na costa do Brasil

“…O grupo Tramas (UFC) vem desenvolvendo um trabalho de "pedagogia dos territórios" que envolve repensar as metodologias, o cerne da construção dos saberes, e buscar incidir no debate público (RIGOTTO et al, 2018, p. 355). São muitas as experiências e reflexões sobre o trabalho científico colaborativo (CARDOSO et al, 2021;CHOY, 2009;MATHEUWS, 2020;RAPPAPORT, 2008); no nosso caso a colaboração ocorreu principalmente na construção do problema de pesquisa e na metodologia a partir da proposta das arenas públicas e da construção de uma experiência artística apresentada adiante. Não obstante, a própria problematização do desastre como objeto de pesquisa foi feita em conjunto com as comunidades com as quais trabalhamos.…”

Contribuições dos estudos sociais da ciência e tecnologia para pensar as paisagens multiespécies em tempos de pandemia

“…Em sua acepção original, o termo faz referência à época geológica presente, dominada pelos humanos, na qual a industrialização e o conjunto das atividades antropogênicas têm alterado as condições do meio ambiente e o equilíbrio natural da biosfera (CRUTZEN, 2006;BIERMANN et al, 2016). Trata-se de uma nova época geológica na qual a ação humana vem sobrepondo e colapsando muitos corpos, paisagens, atmosferas e modos de vida, marcando as estruturas geofísicas locais e globais (CARDOSO et al, 2021).…”

“…Vale destacar também que esse intervalo coincide com o final da Segunda Guerra Mundial, que significou o fracasso moral da modernidade europeia e um ponto de inflexão para o pensamento iluminista herdado dos dois séculos anteriores. Cardoso et al (2021) sublinham que, para indagar na ambiguidade exibida no termo Antropoceno, é importante ressaltar Carvalho (2020) e Torres et al (2021).…”