Uso do Sistema de Classificação de Robson na avaliação das taxas de cesariana em Santa Catarina e sua associação com perfil institucional

Abstract

Objetivo: analisar as diferenças nas taxas de cesariana em Santa Catarina, ao comparar os perfis público e privado, de acordo com grupos do Sistema de Classificação de Robson. Métodos: estudo transversal baseado no Sistema de Informação dos Nascidos Vivos de Santa Catarina (SINASC/SC), 2012. Foram calculadas as taxas globais e específicas de cesariana de acordo com o grupo do SCR, além do excesso de cesarianas pelo Risco Atribuível Proporcional (RAP). Diferenças nas proporções de partos e taxas de cesariana em cada grupo, de acordo com a forma de pagamento, foram analisadas pelo teste do qui-quadrado, a 5% de significância. Resultados: a taxa global de cesariana foi de 60,7%, sendo 88,9% no sistema privado e 45,7% no setor público. Os grupos 1, 4 e 5 do SCR tiveram maior impacto nas taxas globais. No setor privado, chamou à atenção a baixa utilização da indução, com mais de 65% dos partos ocorrendo eletivamente, além da alta concentração de multíparas com cesariana prévia. Conclusão: taxas elevadas entre primíparas antecipam o efeito cumulativo da cesariana prévia em multíparas. A grande proporção de cesarianas eletivas em detrimento do manejo ativo do trabalho de parto, principalmente no setor privado, aponta para um grande número de cesarianas realizadas sem indicações médicas e preocupam devido a potenciais efeitos adversos para mães e recém-nascidos.

A Cultura Da Cesariana E as Práticas Obstétricas Em Um Hospital De Ensino

“…Não é raro encontrar uma mulher que possui cesarianas prévias e que gostaria de passar pela experiência de um parto normal, porém seu desejo é deixado de lado por imposição profissional, baseada em crenças e achismos que não se sustentam diante de evidências científicas. (17,19) Desta forma, observa-se que a equipe médica do Centro Obstétrico do Hospital da Região Leste tem indicado novas cesarianas com a justificativa de "cesárea prévia" e "iteratividade", o chamado "efeito dominó", (21) sem realmente considerar as evidências científicas mais atuais. Este fato é corroborado quando se observa que a maioria das parturientes, de acordo com a Classificação de Robson, e que foram encaminhadas para cesariana, fazem parte do grupo cinco, sendo estas multíparas, com feto cefálico, mais de 37 semanas e pelo menos uma cesariana anterior.…”

“…Considerando que estas mulheres apresentam "fatores ideais" para uma evolução de parto fisiológico, é importante analisar o porquê de estarem sendo submetidas à cesarianas. Estudos nacionais e internacionais, (21)(22)(23)(24) têm mostrado um alto índice de mulheres entre os grupos um à cinco sendo encaminhadas para cesariana devido à falta de incentivo às boas práticas, ao uso de métodos não farmacológicos e à falha no uso dos instrumentos recomendados (partograma).…”

A aplicação da Classificação de Robson nas maternidades brasileiras como ferramenta para redução das taxas de cesariana: uma revisão de literatura

“…Dois outros estudos corroboram com o supracitado, reforçando a importância da prevenção de cesárea em primigestas com a finalidade de evitar indicações em futuras gestações. O que se pode observar é uma crescente decisão por utilizar essa via de parto em gestantes pertencentes aos grupos considerados de baixo risco à realização (grupos 1 e 2) (Abreu, Lira Filho & Santana, 2019;Freitas & Vieira, 2020). Todavia, Ribeiro (2019) contrapõe-se concluindo que, para diminuir as taxas de cesarianas, é necessário investir primeiramente na redução da prevalência entre mulheres com cesariana prévia, por se tratar do grupo predominante e contribuinte para esse aumento.…”

Associação da classificação de Robson com as variáveis obstétricas e com os desfechos maternos e perinatais em um centro de parto normal

“…Devido à clareza, objetividade e fácil aplicabilidade desse método, ele tem sido usado para pesquisar, monitorar e comparar as taxas de cesárea dentro e entre as instituições; permitindo tanto a análise dos dados, como a identificação de alternativas seguras para auxiliar na redução das taxas de cesárea. (23,(31)(32)(33) Segundo manual de implementação da CR proposto pela OMS, as gestantes são distribuídas em 10 grupos (quadro 1) com base em seis variáveis obstétricas: paridade (nulípara ou multípara); cesárea prévia (sim ou não; se sim, uma ou mais); início do TP (espontâneo, induzido ou fora de TP); número de fetos (gestação simples ou múltipla); idade gestacional (prematuro -antes de 37 semanas ou termo -37 semanas ou mais); apresentação e situação fetal (longitudinal cefálico, longitudinal pélvico ou transverso/oblíquo). Trata-se de um sistema de classificação no qual os grupos são mutuamente exclusivos e totalmente inclusivo, o que significa que cada mulher pode ser classificada em apenas um dos 10 grupos e nenhuma mulher ficará de fora desta classificação.…”