IntroduçãoNo presente artigo, apresentamos um recorte da pesquisa Efeitos do compartilhamento de narrativas do adoecimento nos processos de superação de usuários de saúde mental, que procura destacar, no material empírico produzido no estudo, a experiência subjetiva de usuários de serviço de saúde mental que atuam como educadores baseados no conhecimento experiencial. Estes usuários de um serviço de saúde mental de base comunitária, ligado a um hospital universitário do Rio de Janeiro, integram um coletivo que surgiu em 2005, e cuja origem remonta a algumas mudanças que ocorreram naquele ano na disciplina de Psicopatologia, oferecida aos estudantes de graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O principal aspecto reformulado foi o ensino prático da Psicopatologia, que, anteriormente, consistia na apresentação de um paciente, entrevistado pelo professor diante da turma toda. Seu caso clínico era discutido, posteriormente, sem sua presença, e tal modalidade de ensino colocava o paciente numa posição passiva, já que servia como mero objeto de observação e estudo. Este modelo de aprendizado priorizava, de certa maneira, os conhecimentos objetivos e acabava por deixar de lado a dimensão subjetiva da experiência de adoecimento, tratamento e superação.Na reformulação do ensino prático da disciplina, várias medidas foram adotadas, tais como a divisão da turma em pequenos grupos para as aulas, que passaram a envolver uma variedade maior de recursos pedagógicos. Vídeos e textos (autorrelatos e obras de ficção) foram incorporados, e o ensino prático que envolvia a presença de pacientes também foi modificado. Foram convidados, inicialmente, para participar das aulas cerca de 12 usuários do serviço de saúde mental de base comunitária acima referido, que passaram a se encontrar semanalmente com o coordenador da disciplina para escolher os assuntos que seriam discutidos com os alunos, chegando a um repertório temático que, no presente momento, inclui 21 temas, como: medo, preconceito, medicação, reinserção social, trabalho etc. Nesta nova modalidade de ensino, a ideia era que os alunos pudessem aprender por meio das narrativas produzidas pelos próprios usuários acerca das suas experiências em saúde mental.espaço aberto