2014
DOI: 10.1590/s0104-71832014000100011
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"Um campo de refugiados sem cercas": etnografia de um aparato de governo de populações refugiadas

Abstract: Através do trabalho etnográfico realizado em um dos programas assistenciais da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, o Centro de Acolhida para Refugiados (CAR), o presente artigo procura descrever a malha de relações estabelecidas pelo aparato de governo das populações refugiadas no Brasil. Conectado a organizações como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, o Comitê Nacional para Refugiados, dentre outras organizações, o trabalho do CAR é parte de um dispositivo institucional mais amplo, que en… Show more

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“…Em termos da gestão da problemática dos refugiados no Brasil, é possível observar que ela funciona a partir de uma "estrutura tripartite", conformada por uma trama transnacional de agentes (Perin, 2014): o ACNUR, agência da ONU para Refugiados, que "dirige e coordena a ação internacional para proteger e ajudar as pessoas deslocadas em todo o mundo" 7 ; o CONARE 8 , órgão responsável por analisar os pedidos e declarar o reconhecimento da condição de refugiado, bem como por prestar assistência e apoio jurídico a esses sujeitos; organizações estatais e não governamentais (dentre estas últimas, por exemplo, a CARI- No que diz respeito às crianças, a condição de refugiado se torna mais complexa em função da tensão entre a proteção da infância e a gestão das imigrações. A partir dessa "dupla pertença", posições ambivalentes vão sendo negociadas de maneira contingencial: criança X estrangeiro; criança em perigo X criança sob suspeição, etc.…”
Section: Revista De Estudos Empíricos Em Direitounclassified
“…Em termos da gestão da problemática dos refugiados no Brasil, é possível observar que ela funciona a partir de uma "estrutura tripartite", conformada por uma trama transnacional de agentes (Perin, 2014): o ACNUR, agência da ONU para Refugiados, que "dirige e coordena a ação internacional para proteger e ajudar as pessoas deslocadas em todo o mundo" 7 ; o CONARE 8 , órgão responsável por analisar os pedidos e declarar o reconhecimento da condição de refugiado, bem como por prestar assistência e apoio jurídico a esses sujeitos; organizações estatais e não governamentais (dentre estas últimas, por exemplo, a CARI- No que diz respeito às crianças, a condição de refugiado se torna mais complexa em função da tensão entre a proteção da infância e a gestão das imigrações. A partir dessa "dupla pertença", posições ambivalentes vão sendo negociadas de maneira contingencial: criança X estrangeiro; criança em perigo X criança sob suspeição, etc.…”
Section: Revista De Estudos Empíricos Em Direitounclassified
“…Não desistir, esperar o desfecho de cada etapa, demostrar a "verdadeira necessidade de permanecer" não apenas nas entrevistas, mas na interação cotidiana com outros funcionários das instituições, e dos programas de proteção, têm efeitos na produção moral dos sujeitos e no reforço da suposta veracidade da sua história de refúgio. A interação permanente mediada por tempos e ritmos um voltar amanhã, passado amanhã, o mês que vem; esperar sua vez; acatar recomendações de paciência, solicitações de compreensão dos limites e precariedades dos programas; ir se acostumando com marcações sutis, mas efetivas de autoridade, etc.caracteriza boa parte das relações entre administradores e administrados nos escritórios das ONGs, como magistralmente descrito por Perin (2014). O tempo apareceu nas conversas com solicitantes, refugiados e reassentados referido às etapas que precisaram atravessar em situação de inferioridade, quer dizer, sem ter o controle das decisões a serem tomadas sobre suas vidas, nem dos recursos que ajudassem a sobrelevar a espera.…”
Section: Produzir Refugiadosunclassified
“…2 O panorama em matéria de produção antropológica mudou desde então e hoje é possível achar um conjunto maior de textos que se aproximaram da reflexão sobre a administração contemporânea de refugiados na disciplina. Não é objetivo desse artigo realizar uma revisão da produção antropológica sobre o tema, mas gostaria de salientar alguns trabalhos que consegui mapear na época da pesquisa de doutorado e outros que foram realizados ou publicados posteriormente: Hamid (2012); Jardim (2003), Perin (2014) e Vieira (2017) e, de outras áreas, Moulin (2011).…”
unclassified
“…Nesse sentido, a análise da questão no Brasil se deu, até o presente momento, a partir de abordagens desde a psicologia (Debiaggi, Paiva, 2004;Dantas, 2012;Knobloch, 2015), a psiquiatria (Santana, Lotufo-Neto, 2004;Medeiros et alii, 2014), a psicanálise (Rosa et alii, 2009;Rosa, 2012) e a saúde coletiva (Knobloch, 2015;Galina et alii, 2017), cujas preocupações, entre outras, estão em realizar uma espécie de mapeamento epidemiológico da incidência de transtornos mentais entre imigrantes e refugiados, e na instituição de um campo de conhecimento e de práticas clínicas sobre abordagens interculturais dos problemas mentais de refugiados e imigrantes, o que não é o interesse desse trabalho. As etnografias recentes sobre o refúgio no Brasil, apesar de contribuírem enormemente para o debate sobre essa questão ainda subexplorada, não fornecem análise sobre os serviços de saúde mental para refugiados, nem abordam antropologicamente a experiência dos refugiados atendidos por esses serviços (Perin, 2014;Navia, 2014;Hamid, 2012;Mejía, 2010;Lopez, 2015). Perin (2014), inclusive, chega a mencionar en passant que, em sua pesquisa realizada na Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, não lhe foi possível acompanhar o serviço de saúde mental para refugiados por este estar em processo de reformulação quando de sua presença em campo 2 .…”
Section: Introductionunclassified
“…As etnografias recentes sobre o refúgio no Brasil, apesar de contribuírem enormemente para o debate sobre essa questão ainda subexplorada, não fornecem análise sobre os serviços de saúde mental para refugiados, nem abordam antropologicamente a experiência dos refugiados atendidos por esses serviços (Perin, 2014;Navia, 2014;Hamid, 2012;Mejía, 2010;Lopez, 2015). Perin (2014), inclusive, chega a mencionar en passant que, em sua pesquisa realizada na Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, não lhe foi possível acompanhar o serviço de saúde mental para refugiados por este estar em processo de reformulação quando de sua presença em campo 2 .…”
Section: Introductionunclassified