Cadernos de Campo é a revista das alunas e alunos do programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo. Editada desde 1991 pelo corpo discente do programa, o primeiro número do volume 31 traz múltiplas contribuições temáticas no âmbito das Ciências Sociais, em especial, da Antropologia: direito, doença, memória, quilombo, mídias sociais, conflitos territoriais, masculinidade, proibicionismo dentre outros. Essa diversidade reflete tanto nos campos empíricos dos pesquisadores e das pesquisadoras que contribuem neste número, quanto em suas abordagens teóricometodológicas.A seção Artigos e Ensaios traz cinco trabalhos de pesquisadoras e pesquisadores contemporâneos. O primeiro artigo, de Sofia Cevallos (2022) apresenta resultados de seu trabalho de campo realizado entre 2013 a 2016, no Equador. Nele a autora acompanha os processos de organização do povo Kichwa do Yasuní (Amazônia equatoriana) frente à intensificação da extração petrolífera nos seus territórios. O artigos têm dois objetivos principais: 1) apontar o impacto da consolidação do pluralismo legal na Constituição política equatoriana de 2008 no âmbito dos direitos dos povos indígenas e os limites em contextos extrativistas; e, 2) abordar a maneira pela qual os Kichwa têm se apropriado do discurso relativo a seus direitos como ferramenta contra-hegemônica para denunciar a violência que vivem os povos indígenas e para desestabilizar o discurso oficial do desenvolvimento entendido desde a lógica do mercado e do capital transnacional.Diego de Matos Gondim elaborando sua experiência com uma comunidade remanescente de quilombo do interior do estado de São Paulo apresenta um ensaio inspirado na proposta de Conceição Evaristo em pensar "escrevivências" e em uma construção performativa do texto a partir de pensadores e artistas como Grada Kilomba. No ensaio de Gondin (2020), as escrevivências são como um aporte complexo que imbrica memória, escrita, vida e poesia, e são trabalhadas a partir de conversações com moradores da comunidade quilombola do Mandira, buscando encarnar as memórias de seu trabalho de campo, mas também as vivências quilombolas, ultrapassando barreiras do tempo.Por sua vez, Bárbara Rossin Costa (2022) apresenta uma pesquisa etnográfica no Centro de Referência em Atenção à Saúde do Idoso, da Universidade Federal Fluminense, buscando reconstruir e administrar as memórias de pessoas diagnosticadas com a Doença de Alzheimer e/ou outras demências nessa instituição. A partir da análise das dinâmicas observadas, a autora demonstra como memórias autobiográficas e cognição são encarnadas e entrelaçadas em fluxos materiais.EDITORIAL | 2