A relação entre a obra traduzida e o seu original pode, segundo Walter Benjamin (2001: 193), ser definida "uma relação natural ou, mais precisamente, uma relação de vida. Da mesma forma que as manifestações vitais estão intimamente ligadas ao ser vivo, sem significarem nada para ele, a tradução provém do original" e, por isso, a continuidade da vida das obras de arte deve ser vista no seu significado pleno, não metafórico. Nesse sentido, [é] somente quando se reconhece vida a tudo aquilo que possui história e que não constitui apenas um cenário para ela que o conceito de vida encontra sua legitimação. Pois é a partir da história (e não da sua natureza -muito menos de uma natureza tão imprecisa quanto a sentimento ou alma) que pode ser determinado, em ultima instância, o domínio da vida. Daí deriva, para o filósofo, a tarefa: compreender toda a vida natural a partir dessa vida mais vasta que é a história. (p. 193) De acordo com Benjamin, se a história é necessária para conhecer a obra, suas fontes, sua importância para a época na qual foi concebida e sua continuação e herança para as gerações posteriores, a tradução, por sua vez, é a responsável para que a vida do original alcance a renovação da sua interpretação de maneira constante.O texto de Benjamin, publicado em 1923, permite-me afirmar que o interesse pela análise da tradução que contemple também o seu aspecto histórico não é atual.Porém, a consciência da importância do enquadramento histórico do fenômeno tradutológico tornou-se mais visível especialmente a partir da década de 80 do século XX, quando há um aumento do interesse em revisar os termos teóricos e metodológicos daquele que era considerado um campo de pesquisa dotado de especificidade e que vinha sendo estudado principalmente sob o prisma da literatura comparada e dos estudos linguísticos e sociolinguísticos (Burke & Po-chia Hsia, 2009: 8-9). A perspectiva atual tende a sistematizar e superar restrições geográficas ou ideológicas, abrindo-se a uma visão interdisciplinar do fenômeno tradutório, na medida em que busca não apenas os aspectos linguísticos, mas também históricos e culturais da obra, do autor e do tradutor.