INTRODUÇÃOA hérnia diafragmática traumática é fenômeno pouco encontrado na prática clínica. Esse tipo de injúria ocorre de forma relativamente infrequente (0,8% a 8,8% de todos os traumas) sendo, entretanto, o diagnóstico geralmente perdido durante a avaliação inicial na emergência 18 . Injúrias diafragmáticas não-reconhecidas podem ainda estar presentes em mais de 66% de pacientes com politrauma
22. Em lesões contusas, esse tipo de ruptura acomete em 65% a 85% a hemicúpula diafragmática esquerda, 15% a 35% à direita, sendo 1% a 12% com comprometimento bilateral. Em relação às manifestações clínicas, elas dependem da extensão do órgão dentro do saco herniário, e das modificações funcionais e orgânicas sofridas se o órgão comprometido está fixo ou móvel. Acerca dos sintomas, aí estão incluídas queixas como dor escapular, distensão ou imobilidade do hemitórax, dispnéia, ruídos hidroaéreos audíveis no hemitórax afetado, congestão e edema hepático, hipertensão portal e eventualmente até síndrome de Budd-Chiari. O exame radiográfico é o melhor no screening; porém, apenas cerca de 50% dos pacientes apresentarão algum tipo de alteração. Embora a tomografia computadorizada axial seja relatada na literatura como exame capaz de elevar a sensibilidade diagnóstica para mais de 60%, a helicoidal tem sido descrita como a técnica imaginológica mais sensível 13 . Outras modalidades diagnósticas ainda incluem o ultrassom, ressonância nuclear magnética, cintilografia de fígado e baço, laparoscopia e toracoscopia.Para a correção, o reparo das hérnias é invariavelmente cirúrgico. Em situações agudas, a laparotomia é a primeira escolha como rota para acesso à lesão diafragmática. Em casos mais tardios, toracotomia ou laparotomia deve ser realizada, muito embora tanto a laparoscopia quanto a toracoscopia tenham sido relatadas na literatura como ferramentas de reparo de lesões diafragmáticas traumáticas 10 .
RELATO DO CASOMulher de 44 anos foi admitida com queixas de dispnéia e dor abdominal intermitente em quadrante superior direito do abdome. Na admissão relatava história pregressa de acidente automobilístico três anos antes resultando, na época, em fratura pélvica apenas. No exame físico, havia diminuição dos ruídos adventícios em hemitórax direito. Exames laboratoriais não possuíam alterações dignas de nota. O exame radiográ-fico de tórax solicitado demonstrou elevação da hemicúpula diafragmática direita (Figura 1). Tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética confirmaram o posicionamento do lobo hepático direito dentro da cavidade torácica à direita (Figura 2). Ela foi submetida à celiotomia longitudinal mediana. Na inspeção da cavidade, um defeito aproximado de 15 cm de diâmetro foi visualizado na hemicúpula diafragmática direita, com herniação de todo o lobo direito do fígado e vesícula biliar para o interior da cavidade pleural (Figura 3). Após o desbridamento das adesões pleurais, o reposicionamento do fígado foi realizado. O defeito foi reparado
ABCDDV/668Parreira JM, Chibata M, Skinovsky J, Saucedo-Júnior N, ...