Trabalho infantil na indústria de semi-jóias e suas repercussões nos processos de escolarização

Abstract

RESUMO:Este texto visa discutir o problema do trabalho infantil no setor de semi-jóias no município de Limeira. Parte-se do princípio de que esta é sempre uma questão controversa, sobretudo quando envolve pessoas com uma idade inferior àquela que a sociedade determina como sendo a maioridade, dado que a transição de infância para adolescência e desta para a idade adulta muda de acordo com a sociedade em que a pessoa está inserida. A passagem da adolescência ou juventude para a idade adulta depende, via de regra, das necessidades de ingresso no mercado de trabalho ou das lutas e conquistas de cada sociedade. Nas sociedades mais desenvolvidas a educação tem servido para retardar a entrada no mercado de trabalho. Nas menos desenvolvidas, sobretudo as sociedades que tem por base a agricultura, esse ingresso tem se dado muito mais cedo. Nas sociedades capitalistas mais pobres a necessidade da força de trabalho aliada a ausência de um projeto educacional em condições de atender a todas as crianças tem levado as crianças ainda muito cedo para a roça ou para o trabalho doméstico em condições, quase sempre, de super-exploração dessa força de trabalho sem a necessária formação para tal. Limeira-SP tem se destacado como grande produtora de semi-jóias e essa realidade tem trazido uma série de impactos sobre as configurações trabalhistas, tal como a flexibilização das relações de trabalho, a terceirização e a conseqüente precarização da força produtiva. Nesse sentido, verifica-se aspectos preocupantes da relação entre escola e trabalho. Este influencia o desempenho pessoal dos alunos, os índices de repetência, a realização dos deveres de casa e o tempo de dedicação aos estudos em casa. Parte-se do princípio de que criança que trabalha não estuda bem e não brinca. A pesquisa que aqui se apresenta é de natureza qualitativa. A análise qualitativa dos dados está sendo realizada a partir de uma abordagem interdisciplinar, incluindo, sobretudo, os referenciais da Sociologia do Trabalho, Sociologia da Educação, História da Educação e da Psicologia Organizacional, Social e do Trabalho.

Trabalho infantil em Limeira - SP

“…Das crianças que trabalham com solda, é recorrente ouvir queixas como: "agüento até machucar", "machuca às vezes", "às vezes até sangra". Muitas crianças mostraram insatisfação com o trabalho e outras se sentem mais responsáveis por estarem trabalhando (BEZERRA NETO et al, 2009).…”

“…Nos dias atuais é evidente que o mesmo pensamento demonstrado (Ferreira, 2005;Ferreira e Vilela, 2008;Bezerra Neto et al, 2009;Lacoli, 2011;Lacorte et al, 2013) Semelhante ao que ocorre na cidade Limeira -SP, a cidade de Franca -SP é considerada a maior produtora de sapatos masculinos do Brasil e junto a este processo ocorre a inserção das crianças em ocupações onde proliferam as denominadas "bancas de pesponto" e a "costura doméstica", ou seja, em ambientes clandestinos, está associada às características da terceirização existente no próprio processo de produção de calçados, revelando o caráter precário da utilização da mão de obra infantil. Embora o trabalho infantil não ocorra sob o teto das indústrias de calçados, este tipo de trabalho mantém-se no espaço doméstico, sofrendo neste processo uma outra dimensão quanto às relações disciplinares e de controle da própria família.…”

“…Para a solda quente ou fria que também é predominante nos domicílios o processo necessita de um aprendizado relacionado ao manuseio do maçarico, ferro de solda elétrico e pinça, na maioria das vezes é muito atrativo devido ao valor ganho com este tipo de produção ser maior do que o ganho com a montagem. A produção do milheiro para todos os tipos de produção é variável dependendo do grau de experiência do trabalhador e da dificuldade da peça devido ao seu design.BezerraNeto et al, (2009) em estudo qualitativo realizado na cidade de Limeira -SP investigaram o trabalho infantil na produção de semijoias relacionando com o aproveitamento escolar de alunos que frequentavam regularmente a escola. Os processos de flexibilização e precarização social e do trabalho vivenciados pelos trabalhadores da indústria de semijoias, utilizando prioritariamente o trabalho familiar feminino, doméstico que envolve a mão de obra infantil impactam no acompanhamento dos processos de escolarização dos seus filhos, em função das mudanças nas condições objetivas e materiais de vida dos primeiros e de seu grupo familiar e em consequência afetam a aprendizagem das crianças.…”