Tornar-se mãe: Construindo o vínculo parento-filial na adoção tardia

Abstract

Este estudo teve como objetivo investigara construção do vínculo parento-filial na adoção tardia. Foi realizado um estudo de caso, com base nos dados obtidos por meio de uma entrevista semiestruturada com uma mãe adotiva. Evidenciou-se a importância de a mãe se colocar disponível frente às necessidades da filha, permitindo que vivências anteriores à adoção fossem reparadas. A partir de uma leitura winnicottiana foi possível destacar que, assim como nos casos em que houve gestação biológica, os pais adotivos devem experienciar o estado de "preocupação materna primária", mesmo em momento tardio, oferecendo holding e funcionando como ambiente suficientemente bom para a criança. Constatou-se que mãe e filha se colocaram na relação, construindo o vínculo afetivo de forma mútua. O preparo dos pretendentes à adoção se mostrou essencial diante dos desafios do percurso de construção do vínculo parento-filial, sendo ressaltada a colaboração dos Grupos de Apoio à Adoção.

Adoção tardia: processo de adaptação do filho sob o olhar dos pais adotivos

“…Pode-se dizer que o processo de adoção é longo, se considerado do momento da decisão de adotar até a entrega do filho(a) para o pai/mãe adotivos, passando por situações burocráticas, difíceis e que geram muitas expectativas. Esse processo faz parte da gestação psíquica, que acontece durante o tempo de espera pela criança (Sampaio, et al, 2019). A gestação psíquica pode ocasionar: medo de não proporcionar um ambiente e futuro adequado para o desenvolvimento da criança, insegurança gerada pelo processo do desconhecido, preconceito de que apenas famílias consanguíneas constituem laços reais, incerteza sobre a formação da família idealizada e medo da reação da criança sobre a adoção (Costa & Kemmelmeier, 2013;Schwochow, 2018).…”

“…Embora o termo "adoção tardia" cause discordância entre os autores, se configura quando uma criança é maior de dois anos de idade (Lei 8.069 [ECA], 1990;Sampaio et al, 2020). É importante ressaltar que não há idade certa para adoção (Fernandes & Santos, 2019), porém a partir dos dois anos, a criança já tem a capacidade percepção do ambiente e vivências, as quais acarretam um preconceito na adoção tardia, em que a história pregressa do adotado afetará o seu desenvolvimento permanentemente (Sampaio et al, 2019). Conforme apontam os estudos de Luz, et al, (2014) A adoção tardia traz complexidade para ambos os lados, pois a criança é inserida em um novo contexto, que abrange novas pessoas, rotinas, regras e ambientes (Fernandes e Santos, 2019).…”

“…O longo processo de adoção começa a preparar os pais para esta nova realidade em suas vidas, com estudos, acompanhamento e acolhimento de outras famílias que passaram pela mesma experiência. Este processo é necessário, pois com a chegada da criança ao novo lar, a família precisa estar preparada e consciente sobre a história desta criança, pois como foi citado pelas famílias, haverá traumas (Sampaio et al, 2019).…”

Encontros E Rupturas: Sobre Devolução De Criança E Adolescente Durante O Processo De Adoção

“…Contudo, este é um momento precioso para intervenções e cuidados especiais que favoreçam a elaboração e a construção do vínculo parento-filial. (Paiva, 2014;Sampaio et al, 2019).…”

“…Buscaremos, a partir disso, pensar o luto pela família de origem não como uma necessidade imposta, mas refletir sobre o direito de toda criança conviver e se desenvolver em família como espaço potencial para ressignificações. A disponibilidade dos pais adotivos é fundamental para reparar o que possa ter sido vivenciado como traumático na relação parental de origem (Sampaio et al, 2019).…”