O objetivo deste artigo é apresentar o papel do ato da alimentação nas imagens relacionadas à obra Visio Tnugdali, principalmente o manuscrito iluminado Getty Tondal (1475), em comparação com a versão latina de Marcus. Essas imagens também são comparadas com algumas xilogravuras da versão impressa na Alemanha, ed. Speyer do século XV (De raptu animae Tundali et eius visione, 1483). O tema central da narrativa é a viagem ao Além de um cavaleiro chamado Tundal, que passa por uma experiência de quase-morte e vai aos espaços do Purgatório, Inferno e Paraíso, acompanhado por um anjo, visando conscientizá-lo de seus pecados. Por este motivo, sofre, durante a jornada, algumas penas, bem como conhece algumas delícias do Paraíso. As imagens e a narrativa enfatizam o fato dos castigos aos humanos estarem vinculados ao ato da devoração, relacionada à educação dos humanos para a salvação. Os seres humanos sofrem como se estivessem numa cozinha sendo cortados, espetados, amassados, derretidos, transformados em massa e voltam a sofrer continuamente. As punições estão relacionadas principalmente aos pecados da luxúria e gula, e poderiam ser sofridas por clérigos e leigos. A narrativa também apresenta elementos nutricionais positivos, como, por exemplo, a hóstia que o cavaleiro ingere depois da sua purificação no Além, representada no frontispício da Vision de Don Túngano (História del virtuoso cavaleiro Dõ Túngano, Toledo, 1526). Outros elementos alimentares positivos estão relacionados ao Paraíso, como a árvore da vida e a fonte de água viva, descritos na Bíblia (1995). As imagens alimentares visuais e mentais relacionadas ao espaço da cozinha (referente aos lugares infernais) e ao Éden bíblico estão próximas do cotidiano medieval, pois a narrativa buscava educar os cristãos para a salvação no post-mortem.