“…Desde Machado de Assis, o corvo brasileiro assumiu uma multiformidade de corpos. 1 Se com Fernando Pessoa temos, sob o prisma da recepção, o que poderíamos chamar de versão mais expressiva no que se refere a um empreendimento emulativo da forma de The Raven, nenhum esforço brasileiro se restringiu apenas a esse projeto: encontramos extensos corvos corretíssimos como o de Cláudio Weber Abramo, preciosidades como o adorável corvo-cordel de José Lira, o Transcorvo de Augusto de Campos, a tradução em Libras que se corporifica em Emerson Santos (2017), a tradução melancolicamente sertaneja da dupla Conde & Drácula; no plano da recriação mais rigorosa da forma específica de The Raven, destaco a rebuscada tradução de Milton Amado, a de Sergio Duarte, a de Alexei Bueno, e a tradução portuguesa de Margarida Vale de Gato. O corvo também já se transformou em urubucom um refrão plenamente escatológico, na polissemia própria da palavra -pela tradução-exu de Guilherme Flores e Rodrigo Gonçalves, e na familiar porém enigmática rola de nosso cotidiano, na tradução de Emmanuel Santiago. Quando entram na conta as inúmeras outras traduções não mencionadas aqui, somos levados a crer que o poema de Edgar Allan Poe desperta um fascínio singular; em boa medida, acredito, por conta de sua muito própria e característica composição formal, que acaba por adensar a atmosfera sinistra desse poema-feitiço e, consequentemente, a experiência dos leitores/ouvintes.…”