Atlas de nuvens (Cloud Atlas, 2004), de David Mitchell, é um romance que tem como traço fundamental a intertextualidade, a qual é explorada por meio de citações, alusões, e referências ao longo de toda a narrativa. Dentre os diversos intertextos presentes na obra, o diálogo com as tradições literárias da utopia e da distopia representa uma importante dimensão desse romance, tendo em vista que essa memória da literatura utópica/distópica está presente em momentos cruciais do texto. Uma vez que a forma como o romance encontra-se estruturado implica um jogo de espelhos entre cada uma das seis histórias que o compõem, e que os mecanismos da metaficção (HUTCHEON, 1980) e da autotextualidade (DALLENBACH, 1979) convidam a uma leitura concêntrica do texto, isto é, atenta às relações que a narrativa estabelece consigo mesma, é possível observar a presença de elementos utópicos e distópicos mesmo nas histórias deste romance que não estão imediatamente ligadas a essas tradições literárias. Sendo assim, com base em teorizações sobre intertextualidade (COMPAGNON, 1996; GENETTE, 2010; JENNY, 1979; KRISTEVA, 2005; SAMOYAULT, 2008), distopia (BACCOLINI; MOYLAN, 2003; BEAUCHAMP, 1983; CLAEYS, 2017), utopia e utopismo (LEVITAS, 2001; SARGENT, 2014), o presente artigo tem como objetivo identificar e analisar as relações intertextuais que o romance de David Mitchell estabelece com a utopia e a distopia, e, partir disso, tecer uma reflexão sobre as imagens por meio das quais o utopismo, enquanto força transformadora, é explorado ao longo do texto.