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Resumo
A partir das trajetórias de dois personagens -um de uma cena musical em Salvador e outro de Maceió -exploro o curso de diferenciação de suas posições e, assim, desenho aspectos da expansão de circuitos de diversão musical nas "periferias" dessas cidades. Destaco dois problemas: (i) as interpenetrações e tensões entre repertórios de gestos e símbolos e a diferenciação funcional de mercados religioso e diversional e (ii) a relação entre agentes culturais e os empreendimentos marcados por lógicas de poder típicas de mercados ilícitos e altamente criminalizados na construção dos espaços de lutas simbólicas nas "periferias".
Palavras-chave: mercados culturais, periferias, trajetórias.
Abstract
From the trajectories of two characters -one from a musical scene -in Salvador and another from Maceió, I explore the course of differentiating their positions and, thus, I design aspects of the expansion of musical entertainment circuits in the "peripheries" of these cities. I highlight two problems: (i) the interpenetrations between repertoires of symbols and the functional differentiation of religious and diversion markets; and (ii) the relation between cultural agents and enterprises marked by power logics typical of illicit and highly criminalized markets in the space construction of symbolic struggles in the "peripheries".Keywords: cultural markets, peripheries, trajectories.
Introdução: duas cenas e dois problemasObservei, anos atrás, um pequeno garoto tocando atabaque no terreiro de Oxumarê, em Salvador. A vivacidade com que expressava os toques capturou minha atenção por vários minutos. Mostrando um domínio "quase-natural" dos aguidavis 3 ao extrair sons do couro do atabaque em uma cerimônia para o orixá Tempo, o vi passar os instrumentos, sem que a música cessasse, para um ogã--tocador que aparentava ser bem mais velho. Apesar de, naquele período, já ter visto umas duas dezenas de performances de alabês em diferentes terreiros de Salvador, aquele momento foi especialmente importante para reforçar a com-