Um ponto bastante consensual entre os estudiosos da linguagem é o de que qualquer sistema linguístico está sujeito à variação e à mudança. A dinamicidade e a maleabilidade das línguas, cuja constituição (semântico-pragmática e estrutural) pode se alterar e modificar continuamente com o passar do tempo, são características reveladoras de sua realidade heterogênea, alicerce para inúmeras investigações em Linguística que se afastam de posições homogeneizantes e estatizantes acerca dos fatos linguísticos.Ao longo da história dos estudos linguísticos, a mudança tem recebido diferentes tratamentos. A linguística histórico-comparatista, desenvolvida praticamente ao longo da segunda metade do século XIX sob orientação naturalista, buscava reconstruir o passado das línguas indo-europeias e concebia, influenciada pelo pensamento evolucionista e determinista da época, a mudança linguística como um processo de degeneração, que leva à passagem de um estágio mais complexo e rico a um estágio mais marcadamente simplório e pobre, culminando no desgaste dos sistemas linguísticos. O apogeu da Linguística enquanto ciência, com Saussure, fortalece uma perspectiva mais relativista de língua e desvia a mudança linguística de uma concepção degenerativa; entretanto, o estruturalismo saussuriano, amparado na noção de plenitude formal das línguas, prioriza uma linguística sincrônica e, ao considerar que a configuração formal das línguas se mantém de modo organizado e sistemático independentemente das mudanças sofridas, relega à linguística diacrônica a plasticidade das línguas. É nos movimentos pósestruturalistas que se renova o interesse pelos estudos linguísticos de orientação históricodiacrônica, voltados, essencialmente, para a compreensão da mudança linguística e de seus processos condicionantes.Nota-se, então, que esse macro-objeto linguístico não foge àquilo que o pai da linguística moderna assume como condição de definição de nossa área de pesquisa: "outras ciências trabalham com objetos dados previamente e que se podem considerar, em seguida, de vários pontos de vista; em nosso campo, nada de semelhante ocorre. [...] Bem longe de dizer que o objeto precede o ponto de vista, diríamos que é o ponto de vista que cria o objeto" (SAUSSURE, 2012, p. 39). É assim que a mudança pode ser abordada sob diferentes enfoques linguísticos, e cada qual fornecerá fatos e objetos linguísticos diversos para a descrição e a análise linguística.Entre tais orientações, na atualidade, destacam-se duas mais centrais: a formalista, que, em linhas gerais, busca, sob influência do inatismo linguístico, descrever a mudança