Este artigo tem como objetivo analisar a Virgem Abrideira dos Gozos de Maria pertencente à Coleção Ivani e Jorge Yunes, em São Paulo. Virgens Abrideiras dos Gozos de Maria são esculturas de vulto que possuem um tipo de mecanismo frontal que permite abrir seus corpos totalmente ou apenas em parte, revelando cenas marianas em seu interior. Existem três exemplares ibéricos, dos séculos XIII e XIV, que se encontram em acervos nas cidades de Allariz, Évora e Salamanca. Apesar dos temas entalhados em seu interior, a Abrideira da Coleção Yunes foi elaborada em outro espaço temporal e geográfico (em alguma possessão ibérica no Extremo Oriente). Na falta de exemplares similares que pudessem conduzir a análise, esta pesquisa procurou vislumbrá-la à luz das imaginárias resultantes dos encontros culturais entre europeus e asiáticos, como a indo-portuguesa, singalesa, hispano-filipina ou chinesa. Os enigmas que cercam os fatores de sua produção levantaram questões a respeito das fronteiras impostas pela historiografia ― como taxonomias e categorias etnocêntricas ― e apontaram para a necessidade de se pensar a transculturalidade e os espaços “intermediários”.