Dentre as obras que compõe o cânone cinematográfico a respeito da Shoah, a homônima produção de Claude Lanzmann ocupa uma posição quase lendária, conferida pela singularidade de suas mais de nove horas de duração e pela sua composição inteiramente imagética-testemunhal. Este breve artigo, que não propõe muito mais que apresentar, de forma introdutória, um olhar sobre alguns pontos centrais dessa produção – a articulação da memória, da possibilidade narrativa, da relação entre indivíduo, cultura e espaço etc. –, pretende focar-se no subjetivo e dinâmico aspecto dado por Lanzmann a esta obra atemporal, que se esquiva tanto da apreensão histórica quanto de uma compreensão objetiva. Por intermédio dessas reflexões, cabe-nos questionar a intenção do diretor para com a obra, assim como a da obra para com seu público.