Terapia ocupacional social, antiopressão e liberdade: considerações sobre a revolução da/na vida cotidiana

Abstract

Resumo A terapia ocupacional social vem se preocupando em lidar com as desigualdades sociais, principalmente no que tange à estrutura de múltiplas opressões. Tomando-se esse pressuposto como parâmetro, avançar na consolidação de referenciais teórico-metodológicos que permitam problematizar o lugar da profissão, na dimensão da sociedade e da atuação sobre ela, é urgente, de maneira a oferecer proposições para uma prática socialmente referenciada. Sendo assim, são apresentados neste ensaio aportes para compor o debate acerca de um pensar/fazer terapêutico-ocupacional social para a antiopressão e intencionado para a liberdade. Trata-se de se voltar para uma ação profissional que combata as estruturas opressivas e mire no alargamento das possibilidades de vida dos sujeitos, individuais e coletivos, com os quais atuamos. Para nós, o foco dessa práxis se dá na dimensão da vida cotidiana dos sujeitos, a qual é marcada pela alienação, mas também pela possibilidade de libertação, que se efetiva na medida em que se cria oportunidades para um inédito-viável e se exerce a revolução (humanização) nessa cotidianidade, podendo ser o terapeuta ocupacional um mediador/articulador no âmbito desse processo. Para isso, propõe-se uma práxis que é perpassada pelo fomento de intervenções que apreendam e lidem com a violência à vida cotidiana (a justa raiva e a indignação), com a suspensão da vida cotidiana (esforço para problematizar de onde se vem e para onde se pode ir) e se direcione para a criação permanente da vida cotidiana (a transformação).

A dimensão educativa na práxis da terapia ocupacional social junto a jovens de grupos populares urbanos

“…Contudo, para além de visibilizar os aspectos sociais que limitam as formas de ser e estar no mundo, o trabalho também se projeta com uma faceta educativa, à medida que se coloca à tarefa de anunciar possibilidades de mudar essa realidade ou, em termos Freirianos, de mudar o mundo, na luta pela democracia e conquista dos direitos de cidadania (Lopes, 1999(Lopes, , 2016, na direção da antiopressão da liberdade (Farias & Lopes, 2022).…”

“…As produções na área de terapia ocupacional que, em algum nível, tomam o educador Paulo Freire como referência têm aumentado no Brasil, sobretudo entre os autores que buscam perspectivas mais críticas para compreender a profissão e sua relação com os sujeitos e grupos sociais (Farias et al, 2016;Lopes & Malfitano, 2016;Malfitano et al, 2014;Gontijo & Santiago, 2018;Farias & Lopes, 2020, 2022.…”

The educational dimension in the praxis of social occupational therapy with young people from urban popular groups

“…Nevertheless, in addition to making visible the social aspects that limit ways of being in the world, the work is also projected with an educational facet as it undertakes the task of announcing possibilities to change this reality or, in Freirean terms, to change the world, in the struggle for democracy and the conquest of citizenship rights (Lopes, 1999(Lopes, , 2016, toward the anti-oppression of freedom (Farias & Lopes, 2022).…”

“…Productions in the area of occupational therapy that, at some level, take the educator Paulo Freire as a reference, have increased in Brazil, especially among authors who seek more critical perspectives to understand the profession and its relationship with subjects and social groups (Farias et al, 2016;Lopes & Malfitano, 2016;Malfitano et al, 2014;Gontijo & Santiago, 2018;Farias & Lopes, 2020, 2022.…”

Terapia Ocupacional Social e Paulo Freire

“…A partir de suas obras, Freire construiu diversos subsídios teórico-metodológicos que contribuíram para os estudos na área da educação, mas também em outros campos de conhecimento (Paulo & Tessaro, 2022), como para a Terapia Ocupacional (Gontijo & Santiago, 2018;Farias & Lopes, 2020;2022a;2022b). Gontijo & Santiago (2018), em revisão integrativa de publicações em contexto brasileiro, entre 2000 e 2016, sobre Freire e Terapia Ocupacional, destacam a utilização das concepções freireanas na Terapia Ocupacional como fundamentais para pensar a profissão com bases mais críticas e políticas, uma vez que a articulação de cons- tructos como diálogo, problematização e conscientização resultam em uma melhor percepção das ações cotidianas profissionais, direcionadas para promoção de um processo educativo libertador.…”