Resumo: Nosso objetivo no texto que se segue consiste em expor três momentos constitutivos da teoria bergsoniana da inteligência. Em primeiro lugar, a sua função no mundo organizado, derivada da esquematização da vida animal; em segundo lugar, a limitação do elã vital que condiciona sua separação face às virtualidades intuitivas da vida; em terceiro, a sua gênese cosmológica como inversão do ato que define a espiritualidade. A inteligência pode então ser compreendida à luz da duração, como originada de um princípio identificado ao movimento de totalização dinâmica e aberta. O estudo da vida, contexto mais geral no qual está inserida a teoria, parte assim das conquistas anteriores sobre o tempo, seu prelúdio nada mais é do que a retomada da duração, e do atributo que a obra A Evolução Criadora traz à luz e explora em suas consequências maiores-a criação. Palavras-chave: inteligência; vida; intuição; duração; criação; gênese. From biological function to metaphysical genesis. Bergson and the ambiguity of intelligence. Abstract: We intend here to expose three constitutive moments of the bergsonian theory of intelligence. First, its function in the organized world, derived from the schematization of animal life; second, the limitation of the elan vital, responsible for its separation from the intuitive virtualities of life; third, its cosmological genesis as an inversion of the act that defines spirituality. Intelligence can then be understood according to the concept of duration, as originating from a principle identified to the movement of a dynamic and open totalization. The study of life, the more general context in which the theory is inserted, thus departs from earlier conquests about time, its prelude is nothing more than the resumption of duration, and the attribute that the work The Creative Evolution brings to light and explores: creation. Introdução: inteligência, vida e duração Tomando como objeto filosófico a evolução vital, dita criadora, a terceira obra de Bergson representa a maturidade de sua metafísica. Tanto ao oferecer uma nova leitura da transformação progressiva das espécies, quanto ao acompanhar a gênese concomitante da matéria e da inteligência, no coração do percurso em que a noção de criação recebe sua cidadania filosófica, trata-se no livro da elaboração de sua teoria da vida, apontando a significação, a destinação e a essência do vital. É surpreendente, no entanto, que uma obra com esse alcance, dedicada às mais vastas especulações no tratamento da existência à luz da duração, faça entrar em cena, desde as suas primeiras frases, a noção de inteligência. A surpresa é ainda maior ao lembrarmos