Para alguns pesquisadores, o desenho de estudos epidemiológicos é considerado de elevada complexidade. Isso porque utiliza, em suas análises, estatísticas de diversos níveis, as quais avaliam a presença de determinados efeitos à saúde da população ou a baixa probabilidade de ocorrência, ao acaso, de associações entre a exposição a algum fator e o aparecimento de efeitos à saúde. Dada essa complexidade, um artigo de opinião sobre Epidemiologia, relacionada ao desenho de estudos sobre a exposição e efeitos do mercúrio na Amazônia, deve ter o principal objetivo de discutir pontos específicos dessa relação e/ou servir como uma aproximação inicial do leitor com esse tema tão relevante para a Saúde Coletiva. Estudos sobre mercúrio metálico e metilmercúrio, na Amazônia Legal, evidenciam pessoas expostas em áreas de garimpo, populações ribeirinhas, grupos indígenas e até residentes em áreas urbanas por meio da poluição intradomiciliar 1,2,3,4,5 .Uma das decisões preliminares, para a determinação do desenho das pesquisas, é a escolha de qual forma de mercúrio será o objeto do estudo. O mercúrio metálico, lançado na atmosfera pela queima do amálgama ouro-mercúrio, e o metilmercúrio, que é originado por meio da cadeia biológica em situações específicas dos sedimentos dos rios, são completamente diferentes para o desenho dos estudos epidemiológicos. Amostras de urina são as mais utilizadas na avaliação dos níveis de exposição para a forma metálica; enquanto amostras de cabelo são preferenciais para a forma metilada.A segunda decisão se refere ao tipo de estudo epidemiológico mais adequado. No caso do mercúrio, estudos descritivos, como o próprio título indica, descrevem como os efeitos do mercúrio ocorrem na população -ocorrência por sexo, idade, ocupação, tempo, local, entre outros. O outro tipo de estudo epidemiológico é o analítico, aquele que testa hipóteses que podem relacionar a exposição ao mercúrio com algum efeito à saúde (busca da relação causa-efeito), como, por exemplo, avaliar se a exposição ao mercúrio pode estar relacionada às alterações hematológicas ou a algum efeito específico na audição, visão, etc. Os estudos descritivos possuem elevada importância para a área de saúde e, evidentemente, para os estudos epidemiológicos. O que os profissionais dessa área conhecem atualmente sobre o quadro clínico da intoxicação por mercúrio, para definição de casos, são originados de muitos desses estudos.Em relação às variáveis sobre as pessoas, essas pesquisas na Amazônia podem mostrar como diversas variáveis ocorrem na intoxicação; entre elas, as principais são sexo, idade, tipo de alimentação, profissão, hábitos culturais, tipo de religião, padrão de consumo (notadamente, nesse caso, torna-se relevante o consumo de pescado), renda, escolaridade, entre outras.