O presente artigo tem como objeto as representações da alteridade indígena amazônica construídas pelo bispo Dom José Afonso de Moraes Torres (1805-1865) no Itinerário das Visitas Pastorais, registro de suas viagens pela diocese do Pará entre os anos de 1845 e 1848. Na leitura dele, nota-se um entrelaçamento entre os campos religioso e político, na medida em que despontam concepções e práticas informadas tanto pela ortodoxia ultramontana, quanto das questões formuladas nos debates entre as elites políticas e intelectuais do Segundo Reinado sobre a construção da nação e da nacionalidade brasileiras, sobre os quais, o bispo, como membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), tinha amplo acesso. O desejo maior de D. José Afonso, nas visitas pastorais e no Itinerário, era o de sobrepor um modelo de cristão-vassalo, desejável naquela época à liderança da Igreja e do Estado, à heterogeneidade étnica e cultural indígena. Portanto, cabe-nos indagar sobre o que significava, para o bispo, ser cristão e vassalo.